sexta-feira, 22 de junho de 2007

A « CASA COR-DE-ROSA »

A casa onde eu nasci, há 80 anos, ainda lá está !

Ela lá está na lindíssima terra de Ginetes, em S. Miguel, Açores.

Do lado de lá um cabeço, onde eu fui tentar ver cair um raio e fui bem castigado, por isso...

É a história contada em 11 de Setembro de 2006 e intitulado "À espera dum raio que não me partisse ".

Parece impossível que tenham passados tantos anos, e numa terra muito dada a tremores de terra, a casa de meu avô ainda lá esteja, em perfeito estado de conservação ! Tudo tinha sido feito para durar !

Na realidade, ela foi feita com imensos cuidados de resistência, pois estava assente sobre 5000 cunhais de pedra, com cerca de um metro de comprimento e uns 50 cm de largura e altura.

Esta bela foto, foi-me enviada por uma prima que lá vive perto, a Maria Leonor Leça, e há poucos dias, contando-me como tudo aquilo está diferente de há 80 anos, estradas então de terra, agora alcatroadas, muitas outras moradias na mesma rua, Escola EB2, campos de jogos polivalentes, enfim, imensas novidades !

Nesta altura, está desactivado o Campo de Crocket, que existia em frente à casa, mas o meu primo Alberto Leça, como Vereador da Câmara, insistiu que fosse feito um outro, do outro lado da rua, quase em frente à "casa cor-de-rosa". Estes enormes campos, são muito parecidos a uma grande mesa de bilhar, em que os jogadores, munidos de tacos e bolas de madeira, obrigam as bolas a passar em certas direcções, os arcos implantados no solo. O terreno tem de ser o mais perfeito possível e é norma cobrí-lo de areia que é alisada a rodo, antes de cada jogo.

Como é óbvio, sendo uma terra vulcânica, toda a areia é preta, conforme se pode ver na foto.

Era uma casa enorme, com tectos muito altos e 6 amplas divisões a que se tinha acesso por um largo corredor central.

Mal se entrava a porta, pelo lado esquerdo, à esquerda era o quarto de meus pais e à direita, a sala, onde o piano de cauda tocava a toda a hora. A seguir era o quarto da garotada e em frente, a sala de jantar com uma enorme mesa no meio. Logo de seguida o quarto dos meus avós e à esquerda, o consultório, a que se tinha acesso voltando à direita do portão de ferro.

Um pequeno corredor, dava acesso à cozinha e uma escada para a falsa (sótão), onde podíamos brincar a-vontade.

Nesta "falsa" ainda existia o quarto da criadagem feminina, que dava acesso a essa janela em cima, e do lado oposto, uma outra janela igual, dava acesso à oficina de meu avô, com todas as ferramentas a que ele tinha acesso, como carpintaria, torno mecânico, fotografia, caça, tipografia, forja, etc. etc. Era aqui que ele "fabricava" os tacos e bolas para o jogo do crocket e fazia os brinquedos que nos ofereciam pelo Natal, e onde aprendi a manusear as ferramentas.

Quando se tem a sorte de atingir a bonita idade dos 80, como graças a Deus, me aconteceu, olha-se com grande saudade, pelo menos 70 anos atrás, quando ainda, de calções, estava na Instrução Primária...a ouvir com todo o cuidado, as explicações do meu saudoso professor, Sr. Santos. E foi ele que me deu as primeiras informações das comunicações via rádio. Como aquilo me espantava e a meu irmão Carlos Mar !!!

Ele possuía um dos primeiros rádios alimentados por uma grande caixa de pilhas, mas estava avariado e um dia nos perguntou, se o gostaríamos de possuir mesmo assim, e nesse mesmo dia, entusiasmadíssimos, o fomos buscar.

Eu carreguei com as pesadíssimas pilhas, enquanto meu irmão se ia deliciando a olhar os seus "intestinos", aquelas brilhantes válvulas, as bobines e condensadores variáveis... Nunca havíamos visto um rádio, aquela máquina estranha, que captava estações de rádio a muitos milhares de quilómetros, e meu avô, mal chegámos a casa, nos pôs a desmontar pilha a pilha, e a limparmos os bornes. Depois ele atestou cada vaso com líquidos "especiais" e ao voltar a ligar a maquina, ela começou logo a funcionar ! Que maravilha...tantas centenas de estações a fazerem pio,pio,pio (telegrafia) e outras com noticias e música.

Naturalmente, no dia seguinte, logo fomos informar o professor Santos, de que a máquina já estava a funcionar e aí eles nos explicou como deveríamos fazer uma grande antena, e até nos ofertou uma folhinha de papel, com uma data de risquinhos e pontinhos, que ele dizia ser o código de Morse, aqueles pios,pios, pios, que se ouviam aos milhares. Meu irmão, mais velho do que eu 3 anos, logo a agarrou e fomos construir, com a ajuda de meu avô, duas "chaves de Morse", para podermos "falar" um com o outro à distância duma centena de metros . Estávamos lançados na rádio !!!

Mas, ao relembrar esta remota época, vem-me à ideia o porquê de ele, meu avô, ter escolhido os Ginetes para viver, quando era um médico madeirense e ainda por cima, naquele sítio; foi muito bem escolhido !

Ele tinha estado a viver uns tempos, no lado Norte da Ilha, na Maia, mas aquilo lhe dava imenso trabalho e poucos proventos. Assim, resolveu um dia, dar uma volta a oeste da ilha, no seu "char-a-banc", porque estava uma vaga aberta de médico, naquelas zonas. Assim, percorreu todo o lado Oeste, até aos Mosteiros, onde um retornado emigrante lhe disse que o melhor seria escolher os Ginetes, porque ficava no centro de todas as freguesias. E assim aconteceu.

A freguesia dos Ginetes, talvez seja das muito poucas em S. Miguel, que não tem vista para o mar, o longo mar do Oceano Atlântico . Ela está implantada num grande vale de vários hectares, com muitos terrenos de cultivo de milho e naquele tempo, na minha rua, só existia a "casa cor-de-rosa" e mais adiante, a do meu tio Assis, do mesmo lado. Na foto baixo, só se consegue ver uma parte da realidade e ela foi tirada de cima do grande morro, que separar os Ginetes, do Oceano Atlântico.

Por todos os lados, eram terrenos separados por combros, de vários donos, onde as parelhas de bois, lentamente mas possantemente, iam puxando os arados que reviravam a terra fofa , enquanto os estorninhos ávidos de minhocas, esvoaçavam alegremente aos pés dos lavradores, sempre a mudar de sítio, na procura das grandes minhocas que eram postas a descoberto pelo arado. Eles eram aos milhares, muito parecidos com melros pretos, mas não cantavam nem ninguém lhes fazia mal.

Aqui e mais além, outras belas casas só serviam para férias de verão, de pessoas mais abastadas de Ponta Delgada, que também encontraram nos Ginetes a terra ideal, para as suas férias e alguns eram donos daqueles terrenos de cultivo, onde o milho alcançava mais de 2 metros de altura, com 3 e 4 massarocas enormes em cada pé. Para que cada pé conseguisse aguentar tal peso, tinham o diâmetro dum pulso de adulto, e estavam todos dispostos por forma a que se pudesse andar por entre eles, como numa floresta cheia de árvores... e nós corríamos entre eles, miúdos, mas ficando com a cara toda arranhada pelas folhas... quando não descascávamos um pé, para chupar, como se de uma enorme banana se tratasse... e se aquilo era doce...mais parecia "cana de açúcar".

Pela altura da sua apanha, o operariado ia arrancando as massarocas e transportando-as para um carro de bois, dotado de sebe alta. Depois eram descarregadas junto duma armação, chamada Granel, e se tirava só parte da folhagem, que era "rasgada" ao meio, com um grande prego aguçado, e se pendurava no granel, onde ficava todo o ano, à chuva e ao Sol. Durante o ano, as mais secas eram totalmente despidas do resto da sua folhagem, para serem debulhadas. O seu milho era então levado às moagens para serem transformado em farinha.

Julgo que ainda hoje, por ser tão fértil este milho, quase só existe o enorme pão de milho e aqueles pãezinhos em que se misturava açúcar e eram a nossa alegria.

Por isso, o granel teria de ter uma forma cónica e as massarocas faziam de telhas.

Um destes visitantes, o José Manuel Raposo, deve ser o actual dono da "casa cor-de-rosa" e ele tinha de tudo o que era bom, incluindo umas belas espingardas de ar comprimido, que nos emprestava, de tempos a tempos, e foi com ela, que tanto eu como meu irmão Carlos Mar, aprendemos a fazer a pontaria e disparar. E se ele era bom naquilo !

No seu "char-a-banc", quase todos os dias, ora para nascente, Candelária ou Feteiras, ou para poente, Várzea , Mosteiros e Lagoa das 7 Cidades, lá ia meu avô , troc,troc,troc, ver os seus doentes.

Embora o "Char-a-banc" (carro com bancos) de meu avô, só tivesse duas rodas

e sem capota, também podia levar umas 6 pessoas, frente a frente, como aqui, em que as pessoas entravam por uma portinhola na traseira, e lá se iam assentando de forma a que o máximo peso, caísse sobre o rodado do carro. Era como nos aviões, em que os pesos são distribuídos de forma a manter o veiculo bem equilibrado.

A "casa cor-de-rosa" estava realmente muito bem assente no meio daquele vale, mas o seu dono, seu amigo Chalupa, nunca vendeu o terreno a meu avô. Assim, a casa estava feita em terreno alheio, mas ele não teve outra escolha ! As pessoas daqueles tempos, eram muito agarradas às suas coisas e às suas memórias.

E não se vê o mar, porque existe uma montanha entre o extenso vale e ele, montanha que mais parece um enorme ginete (cavalo) deitado. Talvez por isso, a freguesia teria ficado chamada de Ginetes, mas há muita confusão sobre a palavra.

Como a "casa cor-de-rosa" está, uma grande parte do tempo, sem ninguém, ela serviu durante algum tempo à Junta de Freguesia, e a sua parte debaixo, esteve a ser usada pelos escuteiros do sítio, o agrupamento 1065 e, à sua frente, a Escola Carlos Bettencourt Leça (meu avô), que lecciona até ao 9º ano, toda a juventude, desde os Mosteiros às Feteiras, e 7 Cidades. Depois de tantos anos, continua a ser o centro nevrálgico de toda aquela zona.

Neste subterrâneo, podem ver-se e apalpar-se os milhares de blocos de pedra dos alicerces, como se, de enormes tijolos se tratassem.

Quando em 1900, a terra foi agitada com a chegada de meu avô, também lá apareceu um seu amigo íntimo, pessoa robusta, vinda da Maia, e que era o farmacêutico, o Sr. Moniz, pelo que a «Pharmácia» passou a ser não só para medicamentos, mas também Central dos Correios e uns anos depois, de telefone, o único que lá existia, em 1936. Era ao mesmo tempo, o sítio onde se reuniam para boas conversas, as pessoas mais gradas da terra.

Este Sr. Moniz, foi o pai duma distinta família Vargas Moniz, onde 4 filhos, eram visitas habituais da nossa casa, e amigos íntimos da mocidade da minha mãe. A sua morte prematura, com 48 anos, fez com que a sua família, se tivesse de ir embora dos Ginetes, para a Ribeira Grande, passando por Ponta Delgada, mas ao passar o cortejo fúnebre em frente ao Liceu, os cavalos estancaram e dali não queriam sair... Essa situação estranha, foi interpretada como um chamamento Divino, para que os filhos se interessassem pelos estudos, o que foi conseguido, pelas gerações seguintes e até hoje. Só por curiosidade, um dos bisnetos deste "Pharmaceutico" Moniz, hoje Eng. Químico em Almada, Jorge Vargas Moniz, ao descobrir estas histórias do meu Blog, se tem mostrado interessadíssimo em conhecer toda a sua família de então, e o ambiente que então se vivia.

Um destes 4 filhos, o Rogério Vargas Moniz, chegou a Director Técnico do Arsenal do Alfeite, e que deu origem neste Blogue, ao artigo "Meu amigo Eng. Rogério Vargas Moniz", publicado em 25/3/2007, e outro irmão, o Jacinto Vargas Moniz, um importante médico obstétrico em Lisboa.

A freguesia dos Ginetes é ladeada de enormes e profundas GROTAS, impenetráveis, devido à imensa vegetação, lugares paradisíacos, onde a mão do homem só lá tem entrado, para ajudar a admirar a sua beleza !

A nossa televisão, a TVI, tem aproveitado a sua estadia em S. Miguel, onde filmou uma tele-novela a que deu o nome de "Ilha dos Amores", muito bem feita e interpretada genialmente por muitos artistas do Continente. Talvez que a "Mariana" tenha estado aqui, descalça e alegre, nesta grota, tomando banho.

Como já referi, a "casa cor-de-rosa" tem um subterrâneo a toda a extensão da casa, embora com uma parede de reforço central, e que só tinha entrada pela cozinha, onde um alçapão se retirava e umas escadas davam acesso ao seu fundo. Na minha época, como não havia luz eléctrica, aquilo era escuro como breu. A luz da rua, só lá entrava, por uns pequenos gradeamentos laterais, ao nível da rua, só para manter um certo arejamento. Achei muita graça que a minha prima me tivesse aludido que o agrupamento dos Escuteiros 1065, de que ela faz parte, lá estivesse a usar este enorme salão, certamente com jogos e outras actividades, tudo bem iluminado, agora electricamente, e limpo, mas sem qualquer luz da rua. Nesta altura, já a casa está novamente devoluta, porque a Junta de Freguesia e os Escuteiros, arranjaram casa noutro sitio.

Para se ter de lá entrar, tinham de usar a porta que era da cozinha para a rua, onde está a escadaria de pedra, tendo sido fechada, certamente, a porta que dá acesso à casa "cor-de-rosa", propriamente dita.

Eles agora lhe chamam "cave", mas há 80 anos, aquilo se chamava "subterrâneo" e, só não íamos todos para lá brincar, porque aquilo até metia medo de escuro e tinha muitas teias de aranha... mas ainda me lembro de ter lá encontrado um baú velho e de onde arranquei a tampa, para fazer de barco, no enorme tanque de lavar a roupa ! E se aquilo me dava gozo ! Era o meu "navio" , embora me deixasse o rabo todo molhado...

Tinha eu uns 6 ou 7 anos...

Foi uns anos antes desta fotografia.

Em frente à "casa cor-de-rosa" está-se a abrir, perpendicularmente, um rua, onde irá ficar o Corpo de Bombeiros. Já estou mesmo a ver; quando o quartel dos Bombeiros lá estiver, mesmo em frente à "minha casa", quando houver toque a rebate...nunca mais haverá lá, quem pregue o olho, e lá se vai o silêncio idílico dos Ginetes... Progressos ...hi hi hi

Como os Ginetes estão mudados !

sexta-feira, 15 de junho de 2007

UM CASO PARA PENSAR...

O aparecimento das lâmpadas economizadoras, a gás, veio a despertar-me, assim como a toda a gente, certamente, um certo entusiasmo.

No entanto, o seu preço estava tão elevado, que levou muito tempo até que viesse a comprar uma, por a ter encontrado numa loja dos Chineses, bastante mais barata…


Mas, ao contrário do que estava à espera, pelo menos esta que comprei, não me deixou em nada entusiasmado, porque a sua branco/azulada cor, não me era nada agradável à vista…e assim, foi guardada de lado, durante muito tempo.


Eu já sabia que todas as chamadas Fontes Comutadas, como é a que os fabricantes estão a usar, e tal como todas as fontes actuais e usadas nos computadores, TV , Videotapes, CD, etc. irradiam de forma mais ou menos intensa, a sua frequência de trabalho e que, usando frequências que o ouvido humano não pode ouvir, por estarem além do máximo, que anda pelos 15000 Hz, têm a vantagem de poder usar elementos electrónicos de muito reduzias dimensões.


Mas aqui há pouco tempo, como gosto muito de ler deitado na cama, logo após ao pequeno almoço, ali muito confortavelmente instalado, desde há muitos anos que tenho sido iluminado por uma lâmpada vulgar de 25W, porque a luz chega e até sobra, porque ela está a um palmo da minha cabeça, e fixada às costas da cama, no seu alçado.


Acontece porém, que a vinda do calor, este ano, me começou a desagradar o calor desta lâmpada vulgar de filamento de tungsténio, e pensei que estaria na hora de ir experimentar a lâmpada de gás, de 8W, com aquela luz fria e assim fiz.


Ainda não sei porquê, até porque a véspera tinha sido passada exactamente da mesma forma que todos os outros dias, mas o que é certo é que acordei às duas da madrugada e sem sono nenhum, coisa que me é muito rara.


Assim, acendi novamente a luz e estive a ler uma meia hora, até que a apaguei e voltei a apanhar o fugidio sono..


Mas aqui começou o meu martírio !


De imediato, apareceram pesadelos terríveis e extremamente confusos, tendo a sensação de que estava atacado da doença de Alzheimer, pois já nem sabia o porquê de estar ali em terras tão estranhas, com gente totalmente desconhecida, num ambiente de pobreza extrema, com muita porcaria à minha volta…


Eu tinha a consciência de que me queria dirigir para Lisboa…quando vivo em Benavente… mas quando perguntei a umas pessoas presentes, elas me disseram que estava muito longe de Lisboa e nem transporte para lá tinha…


Passados tantos dias, ainda esses sonhos me estão presentes e sou capaz de os descrever com minúcia, coisa que não me era nada habitual.


Como, no pesadelo, ninguém me conseguia orientar, entrei numa tasca horrenda, onde me dirigi ao taberneiro, pessoa muito magra e de barba por fazer, com cara de drogado … e lhe perguntei se teria um mapa da região, para me poder orientar e ele me disse que sim, pelo que foi buscar um escadote e marinhou a um pequeno sótão cheio de lixo e de lá me trouxe uns papeis tão velhos e cheios de pó, que nada entendia…


Quando saio à porta, vejo água, muita água e perguntei o que era aquilo, ao que me disseram ser o Rio Tejo.


Bom, pensei eu, só tenho de ir por aqui abaixo a pé por entre estes barrancos, túneis e lama, até encontrar algum caminho onde pudesse pedir boleia.


Dos túneis muito escuros, pingavaa água, por onde eu corria, mas não me levavam a sítio algum…aquilo era um inferno !


Finalmente, depois de muita confusão, eu ainda sabia que tinha algum dinheiro na algibeira e ao tentar ir a correr à procura de um carro que vira ao longe, acordei…


Irra, figas diabo…mas que bruto pesadelo e mais surpreendido fiquei ao olhar o relógio, pois eram 10 da manhã, ao contrário das 7 que me é ususal ! Assim, tinha estado 6 horas naquele sofrimento !


Mas que diabo me teria acontecido ?


A única coisa de diferente, em muitos anos, tinha sido o uso da lâmpada e vai de ir estudá-la.


Pego nela e levo-a para o meu pequeno “laboratório”, onde a acendo e aproximo um contador de frequência que logo dispara para cerca dos 33.943 Hz, conforme se pode ver pela imagem que se segue !


Como seria possível tanta potência naquela nota supersónica, que me esteve a “bombardear” o cérebro naquela meia hora , antes de tentar adormecer ???!

Só podia ser daquilo, até porque muita gente sente náuseas, vómitos e dores de cabeça, ao estar na presença de um apito supersónico, como acontece a algumas pessoas, com o apitar dos transformadores de linhas de certos televisores, que funcionam e irradiam à frequência de 15725 Hz.


Felizmente que ninguém encosta a cabeça aos televisores, senão bem poderiam vomitar as tripas, sem saber o porquê e verem-se cheias de dores de cabeça, também sem saberem o porquê…


Mas eu tinha estado com a cabeça a menos de um palmo daquele “gerador” de 33.943Hz …frequência mais ou menos variante entre 30.000 e 40.000Hz, consoante as lâmpadas …


E vai de pensar em experimentar algo mais com aquela lâmpada.


Como disponho de um detector de raios Alfa, Beta e Gama, coloquei-o ao pé durante 24 horas, mas ele não se moveu. Assim, a emissão de raios-x, poderia ser posta de parte, pelo menos para a sensibilidade do instrumento que o fim de escala, só indica 150 mR, sendo R a unidade Roentgen, e é a intensidade de raios-x que uma pessoa apanha ao fazer uma radiografia ao tórax, a uma mão e outros sítios.




Nesse mesmo dia, tendo encontrado na NET, via MSN, o meu colega e amigo, António Pinto, CT1UT, que possui um receptor que pode receber esta frequência e até mais baixas, um ICOM ICR-70, que até tem uma entrada de antena para baixas frequências, LOWBAND, e logo o pus ao corrente do facto e ele, de imediato, ligou o rádio e com um palmo de fio ligado à sua entrada de antena, que tem borne apropriado, colocou o comutador de antena para LOW BAND, e logo verificou um sinal muito forte, de fundo de escala aquela frequência.



Como é óbvio, ficou intrigadíssimo e foi experimentar outras lâmpadas que já tinha em casa e até se lembrando de que sua esposa há vários dias se estava a sentir muito incomodada com imensas dores de cabeça e as já referidas tonturas, náuseas, etc.


A sua esposa até estava a ler e costurar à luz deste tipo de lâmpadas, colocadas a cerca de meio metro da sua cabeça.


De imediato, o colega Pinto foi retirar aquelas lâmpadas e a sua esposa logo começou a sentir-me muito melhorada.


Uns dias depois destas experiência, tive de visita uma senhora de meia idade que se estava a queixar de tremendas dores de cabeça, às tantas da noite e madrugada, com muita agonia, tonturas e vómitos, pesadelos incríveis, e não encontrava explicação para aquilo.


Vai daí eu lhe perguntar se por acaso, ela não estaria a usar uma lâmpada de gás, por perto, ao que ela logo me confirmou e mais, dizia que ficava tão incomodada, que até chegava a voltar ao sono, mas com terríveis sonhos sem pés nem cabeça…e até dormia sem desligar a “malvada” lâmpada…tal era o seu transtorno cerebral !


Deste facto insólito, não se vê qualquer informação , pelo que é muito possível que esteja a haver muita gente a ser “bombardeada” com estas terríveis ondas supersónicas e certamente que nem os médicos saberão do que se trata ainda, por serem lâmpadas que só agora se estão a tornar populares, e ao que parece, para ficarem.


Na realidade, tecnicamente, os 220Vac da rede, entram nelas e põem a oscilar um gerador miniatura, para que se consiga obter a tensão necessária à ignição das lâmpadas de gás. É exactamente este oscilador gerador que irradia aquela frequência supersónica que o nosso ouvido não pode ouvir, mas o nosso cérebro, parece que sente, e bem !.


Uma Fonte de alimentação de computador, sem a tampa, também mostra uma frequência supersónica e que se mostrou ser 31.625 Hz. Mas felizmente, para os utentes dos computadores, como é fechada e completamente blindada, não irradia nada.



O que se acabou de descrever, não quer dizer que a proximidade destas lâmpadas, em qualquer outra parte do nosso corpo, não possa melhorar ou até curar outros padecimentos, como ficou descrito no artigo " A magia das ondas de rádio" , publicado em Setembro de 2006, até porque só atingindo a temperatura de morno e ser muito barato de adquirir, não custa nada experimentar.


Mas fugir sim, de a aplicar na cabeça, à hora de dormir.

sábado, 9 de junho de 2007

ANTÓNIO GARGOLA por Prof. João Martinho

Mais uma vez, tenho o prazer de publicar mais um artigo do já conhecido Prof. Vitalino Martinho, e mais uma vez também, dedicando os seus agradáveis comentários, a uma pessoa da sua terra natal, o Espinehiro, no Ribatejo. A sua forma muito peculiar de descrever as pessoas, encanta qualquer leitor, mesmo dos mais exigentes.

António do Vale Soares
1902-1964

Conhecido na gíria popular por António Gargola, este circunspecto espinheirense parece espelhar no rosto um passado em que a felicidade não cavou traços indicativos duma vivência descontraída e feliz.


A boca forçosamente cerrada traduz a introversão de quem está indisponível para diálogos com um mundo desafecto e o cenho fechado e sombrio parece traduzir um ar de desconfiança e expectativa , em permanente atitude de autodefesa .


De facto, pelo retrato do António adivinha-se o drama familiar em que esteve envolvido, quando a mãe, Ti Rosa, faleceu com 35 anos, deixando 5 filhos indefesos a quem não foi possível prodigalizar os carinhos que fazem a alegria e a felicidade das crianças.


António emerge ,assim para a vida, sem os beijos e as carícias maternais tão importantes para o desenvolvimento afectivo e formação do carácter que definem a linha que norteia a existência e justifica os comportamentos necessários para uma boa integração social.


Diz-se que , quando a vida é madrasta, o enteado move-se na indecisão, sempre de pé atrás, numa recusa constante de se ver confrontado com surpresas desagradáveis.


São estas pessoas desvalidas e despeitadas que reagem perante os poderes instituídos contra os quais estão em permanente contradição por sentirem ter sido abandonadas nos transes mais difíceis da sua existência.



António confirma a proposição com episódios de constante resistência às leis instituídas. Sem ter qualquer conhecimento do direito romano, para ele a caça era mesmo res nullius, isto é, não era de ninguém , por isso usando furões e armadilhas, assessorado pelo Manuel Caldas, dizimava coelhos e lebres em profusão.


A G.N.R de Alcanena informada e, por certo pressionada , moveu perseguição tenaz ao infractor. Várias vezes veio ao Espinheiro mas sem resultado porque o ruído dum motor ou a vista duma farda desencadeava tal alarme que todas as portas se fechavam e as ruas ficavam desertas. Sempre o António Gargola se escapava como enguia escorregadia entre os dedos.


Perante o insucesso, a Guarda não desistiu e pôs em acção uma estratégia maduramente pensada. Ao invés de entrar no Espinheiro pela estrada que normalmente utilizava , vinda de Alcanena , iria pelo lado oposto, na convicção de que entrando de surpresa no Espinheiro teria êxito na captura.. Assim, passou pelos Amiais de Cima , por Abrã e à saída desta localidade ,no sentido que levava ,encontrou um homem com uma volumosa saca às costas , levando pela mão uma criança . Estabeleceu-se o diálogo:


- Oiça lá …você vai para o Espinheiro ? Aproveite que nós oferecemos uma boleia…


-Agradeço muito…..mais pela menina que por mim…o raio das batatas pesam como chumbo….!


Acomodados ,prosseguiram a viagem. Um dos guardas , ao passarem na Várzea observou :


-…Vocês têm aqui uma bela zona de caça….


- Pois temos mas en nas (quando) as putas sendo muitas tiram o ganho umas às outras….

- O que é que você quer dizer com isso ?

-Atão, quero dezer que há muita gente a dar cabo dela e nã calha a cada cão seu osso….


- Você conhece lá um gajo chamado Atoino Gargola ? volve o guarda.


-Se conheço….Esse malandro é dos piores…Só ele tem alguns cinco furões…!


- Você é capaz de nos ensinar onde é que ele mora ?


- Sim senhor…é mesmo ao pé de mim…


Passados minutos estavam subindo uma rampa, já dentro da povoação, quando o Gargola, em voz baixa, ordenou que parassem:


-O gajo mora naquela casa ao lado do velho que tá sentado naquela soleira. Deixem-me aqui pra ele não desconfiar de mim….


E sumiu no labirinto aldeão com as batatas e a miúda


Vai a patrulha junto do ancião e pergunta:


- O senhor, por acaso, viu por aqui um gajo chamado António Gargola ?


- Vi sim senhor, é aquele que ali em baixo se apeou do vosso jeep…


Entreolharam-se os guardas e num sentimento de grande frustração comentaram entre si : - e nós que tivemos o pássaro na mão…!


Deste episódio testemunhado pela filha Silvina que era então a criança acompanhante, ressalta a argúcia , a calma , a inteligência e o calculismo com que o António resolveu a situação, nunca se deixando apanhar até que um veículo o matou em Santarém, selando a sua vida com um epílogo triste e imerecido .


A sua voz grave e sonora extinguiu-se, a coragem com que enfrentou os revezes e a verticalidade com que defendeu os seus princípios pela força física e pela perspicácia, contra o isolamento e o ostracismo , foram os ingredientes com que justificou a máxima de 2000 anos: “ INOPI NULLUS AMICUS” ( o pobre não tem amigos ) .Nem parente, pode o leitor acrescentar….