A entrada da música em Portugal, pela rádio, foi muito lenta e, porque ainda não tinha sido inventada a gravação magnética, todos os programas da Emissora Nacional,(EN), Radio Renascença,(RR) e Radio Clube Português,(RCP) eram em directo. era tudo em Amplitude Modulada (AM), pois a Frequência Modulada (FM), só apareceu uns anos mais tarde.
Aquilo originava uma grande amargura a todos os intervenientes, pois toda a gente sabia que não se poderia enganar.
Foi nesta época que passei por muitas situações cómicas, por me ter feito locutor dum radio particular, o RÁDIO POLO NORTE, que funcionava na Serra do Caramulo e destes episódios, fiz referência, muito mais tarde, neste blog, em, por exemplo "E o locutor bloqueou", "E a garota era diferente", "A mota só andava a direito", "Radio Clube dos Pinguins", etc.
Já havia muitas estações de radio de baixa potência, particulares, a transmitir música, espalhadas pelo país, mas eu fui e mais alguns colegas de trabalho, dos primeiros a ver um gravador de fitas magnéticas, porque elas vieram a acompanhar a Empresa americana, onde nós trabalhávamos, a RARET, adestrita à Rádio Europa Livre.
Para treino do pessoal, havia um gravador Magnecorder e para o trabalho profissional, existia um gravador AMPEX-600, uma coisa enorme e caríssima, que podia trabalhar a 7,5" ou a 15"/segundo !
Aquilo era um luxo e só nós a tínhamos, mas foi necessário esperar alguns meses, até vir uma segunda AMPEX e mais as suas enormes bobines de fita magnética, com mais de um palmo de diâmetro.
A gravação magnética apareceu assim, logo junto de 1951, embora já tivessem havido tentativas de gravação magnética, mas em fio de aço, como gravadores portáteis, as Websters.
Já conhecendo o seu funcionamento, logo fui construir um gravador/reprodutor e com ele aprendido ainda mais.
Como o meu trabalho era manter o melhor possível, em funcionamento, uma data de receptores, podia fazer experiências e gravar muitas músicas em Ondas curtas, que nos entravam pelas brutais antenas rombicas, que ocupavam vários hectares de terreno.
Estas nossas antenas, com mais de 20 dBd de ganho, estavam apontadas para o centro da Europa e quase nada se podia ouvir do Ocidente, mas de Leste, aquilo eram sinais muito fortes, com a BBC, a Suíça, a Itália, a França, a Espanha, etc.
Dos lados mais de Leste, só se ouvia a Rússia, pois eles haviam tomado toda a Europa de Leste, e eliminado as possibilidades desses povos, irradiarem as suas músicas...
Como se pensava que a estação onde eu trabalhava, iria ser usada por pouco tempo, até havia sido feita com telhados de zinco, o que no verão fazia um calor malvado ! Era a Rádio Europa Livre.
Mas como tínhamos uma certa liberdade de acção, montámos antenas dipolo para as apontar às Américas e assim se começaram a ouvir imensas músicas brasileiras, Argentinas, Méxicanas, e dos EUA, de grande categoria, porque os nossos receptores, eram dos melhores do Mundo !.
Foi por esta altura que ouvi e deliciado, o aparecimento da cançonetista brasileira, Maysa Matarazo, Agostinho dos Santos, Doris Monteiro, e dos EUA, Bing Crosby, Frank Sinatra, e mais uns tantos.
A música romântica estava no seu auge e logo fiquei apaixonado por certas vozes.
Nessa época, ainda não havia sido inventada a gravação em disco Long Play e os discos que abundavam no nosso mercado, eram todas de 78 rpm, que tinham de durar um máximo de 3 minutos, para caberem em cada face destes discos, além de que tínhamos de trocar de agulha e dar à manivela da corda. Era uma boa chatice...
Só algum tempo mais tarde, começaram a aparecer os discos de acetato de 45 rpm e logo de caminho, os LP de 33 rpm, com uma meia dúzia de canções em cada lado. Aquilo era já um luxo, e já não usavam agulhas de substituir, mas sim, as de safira, e nos melhores, as agulhas de diamante !
Muito poucas pessoas tinham acesso a um rádio, pelo que a nossa Emissora Nacional, (rádio Estatal), para se manter, tinha de receber um contributo financeiro dos ouvintes, mas de forma obrigatória... Assim, havia polícia espalhada por todos os lados, a paisana, a escutar às portas das pessoas, para exigir o recibo comprovativo de que tinham pago para a Emissora Nacional (EN) o seu contributo, e que vinha junto com o recibo da energia eléctrica. Quem estivesse a ouvir rádio e não tivesse pago, era multado mesmo...
Chamava-se a taxa "áudio" que, muito mais tarde, com a vinda da TV, passou a chamar-se "áudio-visual" e que toda a gente tem de pagar, mesmo que não tenha rádio nem TV...e ainda hoje é assim...(coisas....)
Mas, para meu gosto, só aquela linda Maysa Matarazo, aquela morena de olhos azuis, enchia as medidas, com aquela voz tão romântica e letras de embalar o coração, pelo que logo que apareceram no nosso mercado, os LP dela, fui a correr, comprar "Os Sucessos de Maysa", que ainda hoje tenho e se pode ouvir muito bem, porque com o advento das altas fidelidades (HI-FI), os gira-discos usavam cabeças muito leves e agulhas de diamante.
Tinha eu, nessa altura uns 28 anos e não só me podia assentar ao piano e tocar as suas belas músicas "Quero a rosa mais linda que houver", "Meu mundo caiu", "Eu não existo sem você", etc, etc.
Segundo os escritos da época, era a artista mais bem paga do Brasil, embora cheia de infelicidade, porque o seu marido Matarazo, cheio de ciume, não queria que ela cantasse, e se expusesse.
Felizmente que os amigos tanto apertaram com ela e com ele, que a levaram ao expoente máximo, mas sempre a deixar transparecer a sua tristeza e melancolia, de não se entender com aquele amor com o marido e acaba por falecer num brutal acidente de automóvel, com pouco mais de 40 anos, às tantas da madrugada e sozinha.
Mas como a minha Empresa se mantinha a funcionar e em cada dia, a aumentar mais a sua potência para as centenas de KW, nós já estávamos repletos de magníficas AMPEX de gravação e gira-discos enormes, profissionais e estúdios montados em Lisboa, com tradutores das línguas de Leste. Assim, de Portugal, íamos enviando para Leste, as mais belas músicas desses paises silenciados e entremeadas por músicas de todo o Ocidente, incluindo muitas portuguesas.
Entretanto todas as estações de rádio já tinham os seus gravadores, e se podiam ouvir os nossos imensos artistas em música portuguesa. E lá apareceu a Amália Rodrigues, Simone de Oliveira, Madalena Iglesias, a Maria da Graça, o António Calvário, o Max, e muitos outros...
Uns anos mais tarde, aparece a televisão a fazer ensaios em Lisboa, na Feira Popular, mas com tão baixa potência que não chegava a lado algum... mas com os conhecimentos que já possuía de antenas de alto ganho, logo construi uma e fui comprar aos bochechos, um TV a 6 Km de distância, a Salvaterra de Magos e quando cheguei a casa, foi experimentar a andar com a sua sintonia e lá encontrei a nossa TV e a ver-se suficientemente bem ! Só que eles levavam a vida a repetir os mesmos filmes e até já enjoava...estavam em teste...
Logo correu o boato de que havia uma pessoa em Benavente, a 50 Km de Lisboa, que podia ver TV e começam a aparecer os amigos curiosos que nunca tinham visto semelhante coisa...
Entretanto, a TV monta as suas instalações profissionais, muito mais potência de emissão e foi um regalo !
É nesta época que arrancam os computadores enormes e caríssimos, que só algumas empresas podiam ter e ainda funcionavam com cartões perfurados, como o Instituto Superior Técnico, por exemplo !
Acabava de aparecer a substituição das válvulas de rádio, por elementos de estado sólido, os Transistores, e rapidamente todo o mundo se voltou para eles.
Felizmente que uma pequena empresa inglesa, a Sinclair, vendo o entusiasmo do mundo, em poder ter acesso aos computadores, fabrica um minúsculo modelo que quase cabia numa algibeira, o ZX80, logo seguido do ZX-81, depois o SPECTRUM, o PLUS, e que usavam televisores, como monitores, vêm os COMODORE, os APPLES, a IBM, mas foi outro período de enlouquecer, pois quase todos os programas usavam linguagem BASIC, mas apareceram imensos programas úteis, em que se levavam os dias inteiros a dedilhar os seus teclados, para os por a fazer cálculos com velocidade incrível !
Esta miniaturização trouxe do Japão, os minúsculos comandos para os modelos, tele-guiados, via rádio (RC), que rapidamente viriam substituir os equipamentos a válvulas e eram muito mais leves. Eram os equipamentos FUTABA, e poucas mais marcas, que ainda hoje existem.
E logo os relógios digitais, as minúsculas calculadoras electrónicas, que cabiam num bolso, etc.
Os grandes rádios a válvulas, passaram de válvulas para transistores e com o imediato aparecimento dos circuitos integrados,(CI) eles evoluíram ferozmente de poucos elementos, para milhões deles...
As cópias de qualquer documento, eram feitas com máquinas que usavam papel especial e reveladores/fixadores líquidos... era uma chatice, porque as cópias saíam úmidas, e se tinham de pendurar a secar, como se de roupa se tratasse... mas passados poucos anos, uma firma inglesa, a RANK XEROX, aparece com uma tremenda invenção, com as cópias a seco, as electroestáticas, que usavam papel de cópia normal, e que nunca mais deixaram de ser melhoradas.
Antes delas aparecerem, já se conseguiam fazer algumas cópias com álcool e papel químico especial, e logo de seguida, as máquinas com matrizes em ceras que eram enroladas num tambor e já se podiam fazer centenas ou milhares de cópias.
As primeiras até eram à manivela e por cada volta dela, saía uma cópia. Foi nesta altura que me entusiasmei em fazer um Boletim Técnico, que ainda viveu uns 10 anos, na empresa onde eu trabalhava.
Elas invadiram todos os estabelecimentos escolares, pela facilidade de fazer os pontos de exame e juntar desenhos.
Esta descoberta das máquinas eletrostáticas, me veio arrebatar imenso e consegui construir uma, com a qual fiz centenas de cópias, embora levasse cerca de um minuto a fazer cada uma...
É nesta época que aparece a possibilidade incrível de se poderem gravar os filmes da TV, em fita magnética, os VIDEO-TAPES, e vai de conseguir arranjar uns tostões para comprar um.
Mas foi só esperar mais uns anos, até aparecer os discos digitais, os CD's, onde a sua leitura já não necessita de agulhas, mas um finíssimo raio laser, e vai de começar a brincar com eles... e logo de seguida, os micro-reprodutores/gravadores MP3, que encharcaram o mercado da juventude, que passou a andar acompanhada deles, com auscultadores, por todos os lados. Com eles, já não eram necessários discos de qualidade alguma, pois os sons estavam a ser gravados e guardados em memórias eletrônicas (circuitos integrados) cada dia mais potentes e mais horas de música, além de menor consumo de pilhas.
E aí vêm mais métodos de gravar horas de música, e que vêm substituir os já "velhos CD's", os HD-AAC, que ainda produzem som de maior fidelidade, e estão quase a aparecer no mercado.
Estávamos pois, a acompanhar toda a evolução electrónica da época... Tem sido uma vida bem feliz !