terça-feira, 31 de outubro de 2006

Um garoto como os outros, ou... talvez não...

Quando eu tinha 9 anos, era esse miúdo que se pode ver escarranchado sobre o motor do automóvel que meu avô, médico, havia acabado de comprar e de que era muito orgulhoso. Era uma Austin 7. Até essa data, ele só tinha andado a cavalo ou num carro muito popular em S. Miguel, um Char-a-banco, puxado por um cavalo, em que as pessoas são assentadas frente a frente, depois de entrarem por uma portinhola traseira.

Meu pai, pessoa muito enfronhada em automóveis, era continental e foi ele que escolheu o carro, para poder resistir às péssimas estradas de terra esburacada que existiam nas terras onde meu avô tinha de fazer as suas consultas, desde os Mosteiros às Feteiras, passando pela Várzea, Ginetes, e Candelária. Foi até com certa relutância que ele me colocou sobre o carro, mas como eu era o mais leve e pequenino...lá me colocou, talvez para me colocar mais em evidência, pois mostrava, constantemente, muito gostar de mim. Depois foi aprontar a grande máquina fotográfica, que estava segura a um tripé, que estava ali a uns metros e, metendo-se por baixo do pano negro para poder fazer uma boa focagem no vidro despolido, acabou por meter a chapa fotográfica e fez esta fotografia, onde as garotas à frente, são as minhas irmãs, à minha direita o meu irmão Carlos Mar, seguido do meu primo Armando e do outro lado, meu primo Eduardo e um vizinho.

Este escrito, não vem aqui parar por acaso, mas para descrever ao curioso leitor, para o que contei no artigo anterior, A MAGIA DA VIDA, em que tive de recitar um poema, não sei de quem...mas que me tinha sido entregue pelo meu professor de Instrução Primária, para decorar e poder recitar no 1º. de Dezembro. Naquela época, todas as escolas tinham de fazer festa grande no primeiro de Dezembro, não só com teatro mas também recitando poemas alusivos à data.

Como qualquer miúdo de 9 anos, eu nunca tinha sido ensinado a recitar em público e, mais ou menos todos os alunos escolhidos para recitar, também não. Aquilo era chegar ao "palco" e despejar o que se tinha decorado com maior ou menor facilidade e velocidade....

Como eu nunca fui de grande memória, o meu professor escolheu um pequeno poema sobre Portugal e lá fui decorando aquilo, até que acabei por fixar. Deste poema, só me lembro que começava com:

" Portugal, minha pátria estremecida, abre o teu coração e deixa-me ver...", etc. etc...

Estávamos já em meados de Novembro e meu pai, artista nato e até tocando muito bem violino, ao saber que eu estava escolhido para ir recitar daí a dias, chamou-me à sala e disse-me:

Vai ali para fora e, quando eu disser "entra", tu entras e recitas.

Assim fiz, mas entrei na sala a correr e quando ia a começar a "despejar" o poema, ele estendeu o seu braço direito na minha direcção e gritou, todo zangado: rua !

Eu, julgando que era mesmo RUA...largo a correr pelo corredor, em direcção à rua, e a pensar "desta já eu me safei hoje", mas ele logo me gritou para recomeçar. Um pouco constrangido com o acontecimento, lá entrei devagar na sala, com os braços pendurados ao longo do corpo e, mal ia começar o poema, meu pai bramou de imediato, que não era nada assim, porque eu iria descrever em verso a História de Portugal, no tempo das nossas aventuras e descobertas à volta do mundo e isso, exigia uma certa solenidade da minha parte.

Eu sabia lá o que era aquilo de "solenidade"... mas ele me explicou que eu devia dizer a palavra "PORTUGAL" lentamente, afastando em arco os braços, como se fosse dar um grande abraço a Portugal. As mãos de deviam estar perto do peito, até abrir os braços, enquanto diria a palavra Portugal e, colocando os dois braços dobrados e flexíveis, podia então começar a recitar o poema, movimentando docilmente os braços a cada estrofe.

E vai de recomeçar tudo de novo ! Mas mal iniciei o poema, e para ver se não me esquecia de nada...estava já a "despejar" tudo aquilo em catadupa, quando fui novamente interpelado pelo meu exigente pai, que entretanto já tinha caçado algumas palavras do poema, e exigiu que ele fosse dito muito claro e pausadamente, e assim lá vou eu novamente para o corredor, para reiniciar o poema.

Há distância de 69 anos dessa data e sendo meu pai um continental, ele deveria ter muita dificuldade em entender o sotaque açoriano de S. Miguel, pela voz esganiçada dum miúdo de 9 anos e daí, julgo eu, que me obrigasse a proferir lentamente as palavras do poema.

Eu devo ter recitado aquilo umas mil vezes, até que ele se desse por satisfeito !

Meu pai, que já estava muito doente nessa altura, ( e até morreu no ano seguinte) ainda conseguiu ir assistir ao espectáculo na Escola Primária dos Ginetes, e ver se eu conseguiria recitar o poema, como ele desejava e foi, por isso, que perante estrondosas salvas de palmas, toda a gente dizia BIS e mais BIS.

Do meu esforço, resultou um carinhoso alisar dos meus encaracolados cabelos, pelas mãos de meu pai, pessoa pouco dada a carinhos, fazendo-me sentir que estava orgulhoso de mim.

Como tenho saudades de ti, querido pai ...

A MAGIA DA VIDA

Quando uma pessoa começa a chegar ao fim da sua vida, e ainda se encontra lúcida, como felizmente é o meu caso, ao olhar para trás, relembra um montão de coisas que se fez ou devia ter feito ou talvez ainda possa fazer, e com uma saudade e vontade imensa.

Relembra-se do bom e mau por que passou, e há bocados da vida passada, que até bem gostaríamos de poder apagar para o sempre, mas que estão tão arraigados no fundo do nosso cérebro, que é escusado...estão lá para sempre...

Vem à memória os dias na nossa juventude, até o nome do nosso primeiro professor, (no meu caso o Sr.Santos), de instrução primária, as matérias de que tanto gostávamos de aprender, ( no meu caso as redacções e os desenhos) e aquelas que tanto abominávamos... A nossa escola e o ambiente que lá se vivia, alguns amigos com quem bricámos centenas de vezes, os disparates que fizemos, o nosso primeiro encanto pelo sexo oposto, (no meu caso uma linda garota loira e filha dum faroleiro da minha terra) as reprimendas e puxões de orelhas que levámos, tanto dos nossos pais como professores, para nos chamarem à atenção, aqueles versos que tínhamos de decorar para representar no Primeiro de Dezembro, e o som das palmas do publico que gritava BIS, BIS, e que nós, envergonhados em cima do palanque, voltávamos a recitar no nosso melhor, ( uma vez, recitando PORTUGAL, até tive de repetir 3 vezes...) aqueles brinquedos do Natal, que eram feitos pelas mãos dos nossos pais e avós, que se refugiavam num quarto à laia de oficina os saquinhos de guloseimas que apareciam no chão, em frente à árvore de Natal ...etc.etc.

Relembramos com intensidade as nossas primeiras engenhocas e experiências, às vezes bastante perigosas... a alegria de termos podido realizar por nossas mãos, algo a que nos dedicámos com tanto interesse, as nossas aventuras por terrenos desconhecidos pelo campo, o vermos os estorninhos à procura das lagartas que iam aparecendo atrás dos arados, a alegria de podermos abraçar um animal querido e simpático, a aflição dos preparativos para os exames escolares, o receber por empréstimo, aquela caneta de tinta permanente que a minha avó só emprestava para as escritas do exame e acrescentando que todos os que a tinham usado, tinham passado brilhantemente... a primeira vez que os nossos pais apreciaram a nossa ajuda e o mostram com carinho, e nos deixarem pensar pelas nossas ingénuas cabecinhas... tudo isto, visto à distância de 80 anos, tem a sua magia !

Quando mais tarde vamos evoluindo e encontrando os pedregulhos que sempre teimam em colocar-se à nossa frente, mesmo com algumas esfoladelas dolorosas nos joelhos, acabamos por sentir que algo se aprendeu, e até valeu a pena.

Mais tarde, já gente grande, e depois de muitos solavancos, até com a perda de familiares que desejávamos conservar para sempre...aprendemos o quanto é bom ter-se sobrevivido a estes solavancos e até aproveitar deles os seus ensinamentos. E estamos sempre a aprender, todos os dias, mais qualquer coisa... porque a vida está cheia de coisas e pessoas interessantes para conhecer, amar e admirar.

Como é bom encontrarmos pessoas que nos estimam e estimulam a continuar as nossas "lutas", e amigos que se conservam dezenas e dezenas de anos, alguns há mais de 50, sempre com uma abraço disponível e um sorriso aberto de estima !

Dizia um filósofo que "não tinha pena de recordar disparates que tinha feito em criança, mas o já não os poder fazer aos setenta anos...".

A INTERNET veio facilitar imenso o encontramos A MAGIA DA VIDA.

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

RÉGUA DE CÁLCULO, mas...

Quando em 1971, nos EUA, a Texas descobriu que podia incluir numa única pastilha de silício, toda a electrónica necessária para se obter uma máquina de calcular, foi de imediato iniciada a produção em massa e mais tarde, outros fabricante conseguiram fabricar outros modelos.

Claro que já nos anos 30, havia as máquinas de calcular mecânicas, grandes prodígios de mecânica, cheias de imensos carretos, alavancas e molas, além das teclas, e era necessário dar-se a uma manivela ou puxar uma alavanca, para que elas soubessem fazer as contas… Ainda tenho tristes recordações destas máquinas, porque em 1940, estando a trabalhar na Administração do Arsenal do Alfeite, fui “empurrado” para a Secção da Contabilidade, onde existia uma dessas máquinas, e montanhas de papeis sobre a secretária, porque, pelos vistos, não havia ninguém interessado em tomar conta daquele serviço…Era a primeira vez, na minha vida, que iria trabalhar com uma horrorosa e complicada máquina daquelas e ainda por cima, sem ter aprendido primeiro a compreender o seu funcionamento, pelo que após umas horas à volta dela e a só saírem disparates…eu fui pedir ao meu chefe que me libertasse daquele serviço, porque era demais para os meus conhecimentos…Mas enquanto eu estava tentando fazer alguma coisa, bem via a cara de gozo dos mais de 12 funcionários daquela Secção, ao verem-me tão atrapalhado…Como eu sempre havia embirrado com a matemática…e aquilo era de imensa responsabilidade, pois tinha de fazer os cálculos dos descontos de milhares de pessoas, para a Segurança Social, descontos de alimentação, vencimentos, etc. fiquei com a minha alma mais descansada, quando me tiraram dali para fora. (Comparando o tamanho das máquinas calculadoras)Antes do aparecimento das fabulosas máquinas de calcular electrónicas, que se venderam em todo o mundo e a tão baixo preço, que qualquer criança as pode usar, só existiam, como portáteis, as RÉGUAS DE CÁLCULO, instrumentos muito engenhosos de usar pela engenharia, mas só com muita prática, se podem obter resultados realmente fiáveis.Os matemáticos até as admiram imenso, mas certamente que devido à minha fraqueza nas matemáticas, foi um instrumento com que nunca simpatizei…Provavelmente, se algum engenheiro tiver acesso a este artigo, até se irá rir da história. Isto vem a propósito dum curioso episódio que se passou comigo, quando trabalhava como técnico de electrónica, na extinta empresa americana RARET, em Portugal, e que era um braço da The Rádio Free Europe sedeada na Alemanha de Oeste, desde 1950.Certo dia, aí por volta de 1960, foi necessário construir um filtro passa-baixo de áudio muito exigente das suas características, pois tinha de aceitar tudo até aos 7000Hz e de cortar em profundidade, tudo para cima dos 8000 Hz. Aquilo tinha de ser um filtro e peras, com muitas células. O Engenheiro meu chefe, foi-se agarrar à sua querida Régua de Cálculo, para descobrir os valores dos elementos necessários e ao fim duma data de horas, aparece-me com uma molhada de papeis cheios de cálculos, mas logo fui deparar com valores que me pareciam completamente disparatados, como condensadores de 100 pF, em vez de 10.000 pF !-Oh Sr. Eng. desculpe lá, mas estes valores estão muito longe das frequências de audio e isso só irá funcionar muito perto das Ondas Médias…Ele ficou a olhar para mim, de olhar um tanto carrancudo e intrigado, de testa franzida, até porque já sabia que eu trabalhava há muitos anos com áudio, mas lá pegou na papelada com os seus cálculos, e voltou para o seu gabinete, onde esteve fechado mais umas horas, até que voltou, dizendo que realmente tinha havido um engano de uns zeros…Mas, quando olhei os novos valores, ele só tinha passado de 100 pF para 1000, o que a meu ver, continuaria muito fora das capacidades desejadas… mas perante a sua “certeza” de que agora os cálculos estavam certos, porque os tinha visto e revisto, lá montei o raio do filtro, que se mostrou completamente disparatado…Se eu já abominava aquelas Réguas de Cálculo, a partir dessa data, nem queria ouvir falar delas…-Então, -perguntei eu ao confuso engenheiro,- e agora ?Aqui, e perante o tempo já gasto a ver e rever a montagem, e a conferir com os seus cálculos, ele acabou por me dizer que lá colocasse os valores que me pareciam mais correctos. Assim, os de 1000pF passaram para os 10.000, os de 4.000, para 40.000, e assim por diante.Assim, e porque os valores aproximados de 10.000 pF eram os que mais me pareciam correctos, montei-os e para espanto dele, e não meu, o filtro já estava a funcionar como o esperado, embora com todos as bobines e condensadores, espalhado sobre a bancada…O meu amigo engenheiro nem queria acreditar nos meus “CÁLCULOS EMPÍRICOS” mas teve de render-se às evidências, embora bastante amargurado, ele que se havia formado em engenharia electrotécnica com altas classificações, estava a dar tamanha “barraca”…e eu a ver…Mas o problema não ficou por ali, pois uma coisa eram os elementos do filtro estarem todos espalhados sobre a bancada e outra, muito diferente, a de ter de metê-los todos “arrumadinhos” dentro duma pequena caixa, com as bobines a induzirem-se todas umas com as outras…O nosso engenheiro nem queria acreditar, mas lá se acalmou quando lhe disse que com um bom bocado de paciência, e pondo umas bobines horizontais e outras verticais, umas de forma coaxial, outras trocando o Norte pelo Sul, escolhendo as melhores posições de cada uma, seria possível manter os resultados desejados, o que veio a acontecer umas boas horas depois.Moral da história:Réguas de Cálculo, sim, mas…cuidado !

domingo, 29 de outubro de 2006

Construindo e usando um BLOG (1)

Embora ainda "apalpando" o assunto dos BLOGS, e porque já tenho amigos interessados em acompanhar esta odisseia, resolvi escrever algo sobre o que me levou a abrir o "ENGENHOCANDO", mas porque é assunto um tanto dilatado, resolvi escrever por partes. Assim, esta é a primeira parte.

CONSTRUINDO e OPERANDO um BLOG
(1)

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Esta história dos BLOGS, me parece ser das coisas mais interessantes que a INTERNET veio proporcionar às pessoas de todo o Mundo !

Para quem ainda não se sente muito a vontade com eles, a coisa parece um tanto complicada, mas a pouco e pouco, com uma ajudinha daqui e outra dali, consegue-se lá ir, como é o meu caso.

Embora já no fim da minha vida, pois já cá cantam 79 anos, senti-me aliciado por eles, até porque como já publiquei muitas centenas de artigos em revistas técnicas e em especial dedicadas à electrónica, também acabei por escrever muita coisa que, de electrónica não tem nada, e assim foram ficando espalhadas por aqui e por ali, já nem sabendo onde param alguns desses escritos…

Sentindo uma certa paixão por por em escrito alguns assuntos, e com o aparecimento destes BLOGS, senti que havia chegado a altura de poder não só guardar muitos escritos de forma mais ou menos segura, mas também dá-los a conhecer a pessoas que, como eu, também gostam de escrever e, se possível tentar ajudá-las a fazer o mesmo.

Como uma das minhas actividades de entretenimento, é o radioamadorismo, com o indicativo CT1DT, acabei por vir a conhecer muita gente que comunga do mesmo interesse, até porque há sempre coisas, das mais variadas, que podem ou até devem ser divulgadas.

Quem gosta e tem a habilidade para escrever, como conheço várias, faz pena que os seus escritos, muitas vezes lindíssimos, por serem poucos, não dêem para ser publicados em livro. Assim, cada um fica sujeito a guardá-los na gaveta e, infelizmente, normalmente, nem a família os aprecia, pelo que ficam para ali esquecidos, anos e anos.

O radio-amador é um indivíduo de curiosidade insaciável e cheio de vontade de divulgar o que vai aprendendo pela vida fora. Por isso, a transmissão da sua voz, via rádio, tanto o alicia.

Ele tanto AMA a electrónica, como as antenas, como a fotografia, como o cinema, como as altas fidelidades, como alguns desportos, os automóveis e motas, os aviões, os barcos…eu sei lá… como meter as mãos a tudo quanto se avaria e mesmo a desmontar máquinas e maquinetas a que vai tendo acesso, está sempre a aprender mais qualquer coisa.

O aparecimento dos computadores, foi mais um dos seus brinquedos e como é cómodo de trabalhar, chega a levar horas e horas às voltas com os imensos problemas que todos os dias aparecem.

O RADIOAMADOR É POIS, UM BRINCALHÃO NATO !

Este intenso amor pelas coisas mais ou menos científicas, leva-o a experimentar tudo, nem que seja engenhar ou engenhocar ferramentas para a cozinha, ou a construir por suas mãos, sistemas de energias alternativas, etc.etc.

Foi por este motivo que investi na expressão ENGENHOCANDO para este BLOG.

Como o leitor deste BOLG irá ver, no meu caso em particular, sinto a necessidade de descrever episódios reais por que passei e talvez que alguns deles, possam dar uma ideia a algum leitor, de soluções para problemas mais ou menos idênticos, com que se possa vir a deparar.

Fim da primeira parte

O GERADOR LOUCO

UM CASO DE POTÊNCIA DESCONTROLADA

Um gerador ONAN de 150 KW a gasolina super e novo, da RARET, passado poucos meses de funcionamento, e porque só funcionava uns minutos, de meses a meses, como standby à EDP, entrou a fazer disparate de aumentar e descer intempestivamente de RPM, saltando constantemente de 200 para 250V o que o transformou numa boa dor de cabeça, porque todos os equipamentos electrónicos ligados a ele, não admitiam aquelas variações de tensão. O pior é que nem os representantes da marca, conseguiam resolver o problema e os anos se iam passando. Felizmente que tínhamos um de 50kW, e que lá ia servindo, após o pessoal ter o cuidado de aliviar a carga. Aquilo parecia muito estranho, pois com o motor parado, todas as alavancas de comando do bruto carburador duplo, estavam leves, mas mal o motor arrancava, ficavam presos e reagindo aos esticões do RPM ! Era de dar em doido ! Um dia, resolvi arriscar uma manobra de arrepiar, com ele sem carga e que consistiu em desligar o comando automático de aceleração, agarrando com uma mão a borboleta do carburador e com a outra, a alavanca do sistema centrífugo. Eu não sabia se poderia segurar a alavanca do sistema centrifugo com uma mão, mas deixei o Eng. meu chefe, única pessoa presente, pronto a desligar o gerador, se eu lhe abanasse com a cabeça para desligar. Eu tremia, como varas verdes, quando disse ao engenheiro para ligar aquele bruto gerador, mas pensei que aquilo devia ser suave e, assim aconteceu. De imediato constatei que mal o motor arrancou, a borboleta ficava presa e daí a dificuldade de a alavanca de comando conseguir corrigi-lo.
Como as borboletas estavam presas, o “governador” ia fazendo força, até que elas fossem movidas, mas iam parar além do desejado. De imediato o comando puxava e puxava, até fazê-las saltar novamente, mas já era demasiado. Obviamente, o RPM do gerador, ficava louco…

Do lado da alavanca do regulador, estava perfeito e suave. O problema estava dentro do bruto carburador e havia que retirá-lo para verificar o porquê daquelas prisões laterais, o que foi de imediato feito, após se ter dele desligado todos os componentes do combustível, filtros de ar, choque, termóstato, etc.
Estava descoberta a macacoa e que consistia nos rolamentos de apoio das borboletas, que se tinham enferrujado com o gelo gerado pela entrada da gasolina, e ficavam com folga lateral, encostando e prendendo as duas borboletas aos venturis. Só era pois necessário substituir esses rolamentos, mas os que tínhamos à mão, o diâmetro externo era exacto, mas o interno era grande demais.

Havia de encasquilhar, e urgentemente, pedindo a Deus que a HEAA não cortasse…todas as cargas desnecessárias foram desligadas, para que o pequeno gerador de 50 KW pudesse aguentar, em caso de falha da EDP. Aqui surge outra odisseia; todos os torneiros de Benavente estavam ocupados !
Resolvi pedir a um amigo electricista, de nome Júlio Gonçalves, que tinha um pequeno torno, para me deixar tornear os dois casquilhos e assim o fiz, voltando a remontar o enorme carburador no seu sítio e, para minha grande alegria, quando dei o arranque ao gerador, aquilo ficou pianíssimo !

Dando uma sacudidela na alavanca de comando, o motor ia de imediato para as rotações certas. Só faltava fazer o test real, com todas as cargas ligadas a ele, perante a “amargura” do pessoal da Operação dos Receptores que já sabia que, se aquilo desse para o torto, todos os receptores iriam saltar de frequência e perder-se TODOS os programas. Assim, com os três funcionários a postos, dois operadores e o Chefe de Turno, e o gerador aquecido, largou-se a HEAA e tudo ficou perfeito, nuns décimos de segundo ! Tirei cargas brutas e meti outras, e o gerador sempre a corrigir o RPM. 220Vac/50 Hz ! Os americanos, e o pessoal português, que já nem sabiam como resolver este problema, e não havia massa para comprar outro, lá estavam à espera de que algo se fizesse…mas, nos seus gabinetes do Centro Emissor da Gloria e Estúdios em Lisboa.
Mas para minha amargura, uns dias depois da solução do problema, numa visita ao Centro de Recepção, em Benavente, do americano chefe, o Eng. meu chefe, foi-se a ele e disse que NÓS já tínhamos conseguido resolver o problema, ao que o americano, nem querendo saber COMO…, se limitou a responder: Good boys…

Aquilo chateou-me à grande, pois eu tinha estado SOZINHO naquele problema de tão grande responsabilidade, e não teria custado nada ao meu chefe, dizer ao americano, quem tinha solucionado o problema, que até a engenharia responsável, tinha posto de parte... Problemas de quem não tem “canudo”… e é um simples rádio-tecnico.

sábado, 28 de outubro de 2006

Testando

Isto é mais um teste de aprendizagem dos Blogs, coisa muito interessante, mas entretanto um tanto confusa para quem entra pela primeira vez, como é o meu caso.

Nesta altura ainda não sei como incluir um texto escrito e guardado, porque ainda não encontrei a inclusão de escritos, mas somente das fotografias, o que já não é nada mau...

E um abraço para quem teve a curiosidade em abrir este Blog.


Escrito por Engenhocando em 2006/10/28 às 20:24:10

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Iniciando BLOG

Com as minhas desculpas, por ser um nabo nestas coisas, venho cumprimentar quem teve a curiosidade de entrar neste BLOG.
Tenho 79 anos e nasci em Ginetes, S.Miguel- Açores.
Sou filho e neto de pessoas muito interessadas pelas curiosidades mais ou menos científicas, desde as mecânicas às electrónicas, passando pelas máquinas de relojoaria, e mais tarde pela aviação, tendo sido largado em ULM, com 4 horas de treino.
Dada a curiosidade por quase tudo, tenho de explorar todas as coisas que me aparecem pela mão, só deitando ao lixo, o que realmente o é, mas depois de muito ter estudado como são feitas.
Esta curiosidade, levou-me, em 1949, a entrar para a actividade de Radioamador, HOBBY que ainda hoje pratico, com indicativo CT1DT.
Tendo tido como pai, um Engenheiro de máquinas e como avô, um médico de clínica geral, senti sempre uma curiosidade imensa pela medicina e, em 1989, por casualidade, vim a descobrir que era possível fazer tratamento de diatermia, com o uso de uma placa de circuito impresso, muito usadas nas montagens electrónicas e que, ligada a um vulgar emissor de radioamador, na banda dos 40 metros, com somente uma dezena de Watt, podia obter muito interessantes resultados em imensas doenças.
Devido ao interesse mostrado por inúmeros radioamadores, ví-me impelido para a construção de algumas centenas destas placas e tém-me sido grato receber os mais rasgados elogios quanto aos seus resultados.
Muitas pessoas, sabendo disto, vieram solicitar-me ajuda pessoal nos seus males, tratamentos que sempre foram feitos de forma graciosa e, na sua maioria, com óptimos resultados.
Dado o meu antigo interesse pela aviação, construi 7 triciclos para voo em asa delta motorizada, em que voei imensas vezes, na companhia de um genro.
Com este interesse, também construi e pilotei vários modelos, incluindo um helicóptero GETRANGER.
Verificando que algumas revistas técnicas, estavam à procura de artigos de electrónica, já publiquei mais de 1000 páginas, não só de técnica electrónica, mas também sobre muitos outros assuntos, porque me apaixona tudo.
Actualmente tenho estado só a dar colaboração à revista QSP, publicada em Viseu, podendo qualquer pessoa ter acesso a ela, via e-mail qsprevista@mail.telepac.pt
É meu intuito vir aqui falar não só dos assuntos que mais me têm aliciado, mas também procurar dar ajuda a quem ma procurar.
Durante 35 anos, fui funcionário da extinta Empresa Americana "Radio Free Europe" e, ainda em seu serviço técnico, publiquei um Boletim Técnico de nome RARET, onde foram publicados imensos artigos de técnicas diversas, desde a marinha à música, passando por energias alternativas, electrónica geral, aviação, etc. e durante 9 anos, em revistas mensais.
E, para começar o meu BLOG, parece-me que já chega.
Grato pela paciência que teve em me ler.
Mário Bettencourt Faria

Escrito por Engenhocando em 2006/10/25 às 14:02:08