segunda-feira, 30 de outubro de 2006

RÉGUA DE CÁLCULO, mas...

Quando em 1971, nos EUA, a Texas descobriu que podia incluir numa única pastilha de silício, toda a electrónica necessária para se obter uma máquina de calcular, foi de imediato iniciada a produção em massa e mais tarde, outros fabricante conseguiram fabricar outros modelos.

Claro que já nos anos 30, havia as máquinas de calcular mecânicas, grandes prodígios de mecânica, cheias de imensos carretos, alavancas e molas, além das teclas, e era necessário dar-se a uma manivela ou puxar uma alavanca, para que elas soubessem fazer as contas… Ainda tenho tristes recordações destas máquinas, porque em 1940, estando a trabalhar na Administração do Arsenal do Alfeite, fui “empurrado” para a Secção da Contabilidade, onde existia uma dessas máquinas, e montanhas de papeis sobre a secretária, porque, pelos vistos, não havia ninguém interessado em tomar conta daquele serviço…Era a primeira vez, na minha vida, que iria trabalhar com uma horrorosa e complicada máquina daquelas e ainda por cima, sem ter aprendido primeiro a compreender o seu funcionamento, pelo que após umas horas à volta dela e a só saírem disparates…eu fui pedir ao meu chefe que me libertasse daquele serviço, porque era demais para os meus conhecimentos…Mas enquanto eu estava tentando fazer alguma coisa, bem via a cara de gozo dos mais de 12 funcionários daquela Secção, ao verem-me tão atrapalhado…Como eu sempre havia embirrado com a matemática…e aquilo era de imensa responsabilidade, pois tinha de fazer os cálculos dos descontos de milhares de pessoas, para a Segurança Social, descontos de alimentação, vencimentos, etc. fiquei com a minha alma mais descansada, quando me tiraram dali para fora. (Comparando o tamanho das máquinas calculadoras)Antes do aparecimento das fabulosas máquinas de calcular electrónicas, que se venderam em todo o mundo e a tão baixo preço, que qualquer criança as pode usar, só existiam, como portáteis, as RÉGUAS DE CÁLCULO, instrumentos muito engenhosos de usar pela engenharia, mas só com muita prática, se podem obter resultados realmente fiáveis.Os matemáticos até as admiram imenso, mas certamente que devido à minha fraqueza nas matemáticas, foi um instrumento com que nunca simpatizei…Provavelmente, se algum engenheiro tiver acesso a este artigo, até se irá rir da história. Isto vem a propósito dum curioso episódio que se passou comigo, quando trabalhava como técnico de electrónica, na extinta empresa americana RARET, em Portugal, e que era um braço da The Rádio Free Europe sedeada na Alemanha de Oeste, desde 1950.Certo dia, aí por volta de 1960, foi necessário construir um filtro passa-baixo de áudio muito exigente das suas características, pois tinha de aceitar tudo até aos 7000Hz e de cortar em profundidade, tudo para cima dos 8000 Hz. Aquilo tinha de ser um filtro e peras, com muitas células. O Engenheiro meu chefe, foi-se agarrar à sua querida Régua de Cálculo, para descobrir os valores dos elementos necessários e ao fim duma data de horas, aparece-me com uma molhada de papeis cheios de cálculos, mas logo fui deparar com valores que me pareciam completamente disparatados, como condensadores de 100 pF, em vez de 10.000 pF !-Oh Sr. Eng. desculpe lá, mas estes valores estão muito longe das frequências de audio e isso só irá funcionar muito perto das Ondas Médias…Ele ficou a olhar para mim, de olhar um tanto carrancudo e intrigado, de testa franzida, até porque já sabia que eu trabalhava há muitos anos com áudio, mas lá pegou na papelada com os seus cálculos, e voltou para o seu gabinete, onde esteve fechado mais umas horas, até que voltou, dizendo que realmente tinha havido um engano de uns zeros…Mas, quando olhei os novos valores, ele só tinha passado de 100 pF para 1000, o que a meu ver, continuaria muito fora das capacidades desejadas… mas perante a sua “certeza” de que agora os cálculos estavam certos, porque os tinha visto e revisto, lá montei o raio do filtro, que se mostrou completamente disparatado…Se eu já abominava aquelas Réguas de Cálculo, a partir dessa data, nem queria ouvir falar delas…-Então, -perguntei eu ao confuso engenheiro,- e agora ?Aqui, e perante o tempo já gasto a ver e rever a montagem, e a conferir com os seus cálculos, ele acabou por me dizer que lá colocasse os valores que me pareciam mais correctos. Assim, os de 1000pF passaram para os 10.000, os de 4.000, para 40.000, e assim por diante.Assim, e porque os valores aproximados de 10.000 pF eram os que mais me pareciam correctos, montei-os e para espanto dele, e não meu, o filtro já estava a funcionar como o esperado, embora com todos as bobines e condensadores, espalhado sobre a bancada…O meu amigo engenheiro nem queria acreditar nos meus “CÁLCULOS EMPÍRICOS” mas teve de render-se às evidências, embora bastante amargurado, ele que se havia formado em engenharia electrotécnica com altas classificações, estava a dar tamanha “barraca”…e eu a ver…Mas o problema não ficou por ali, pois uma coisa eram os elementos do filtro estarem todos espalhados sobre a bancada e outra, muito diferente, a de ter de metê-los todos “arrumadinhos” dentro duma pequena caixa, com as bobines a induzirem-se todas umas com as outras…O nosso engenheiro nem queria acreditar, mas lá se acalmou quando lhe disse que com um bom bocado de paciência, e pondo umas bobines horizontais e outras verticais, umas de forma coaxial, outras trocando o Norte pelo Sul, escolhendo as melhores posições de cada uma, seria possível manter os resultados desejados, o que veio a acontecer umas boas horas depois.Moral da história:Réguas de Cálculo, sim, mas…cuidado !

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