"Mas onde está o Mário?", procurava constantemente a minha mãe sempre atarefada com os seus 5 filhos, mas pelos vistos, eu devia ser o mais complicado por estar sempre a inventar disparates, o que levava a que muitas vezes, tivesse de levar uns puxões de orelhas... embora todo chateado por não me compreenderem...
Certo dia, estava meu irmão Carlos Mar muito engripado, e cheio de tosse, pelo que meu avô logo mandou preparar na farmácia, um xarope valente numa garrafa de talvez meio litro e vinha com ordens expressas de só tomar uma colher por dia. Até tinha uma caveira pintada !
Mas eu andava por ali perto e estava desejoso de provar aquele xarope que meu irmão dizia ser muito doce...
Meu avô muito preocupado, logo gritou: "Tenho de lhe fazer uma lavagem ao estômago e já "...
Obviamente que eu tinha à minha volta, não só os meus irmãos, como a minha avó e minha mãe, além de meu avô e uma criada, a que tinha trazido a bacia e a água, e toda a gente com caras muito preocupadas.
Devido a que meu avô era chamado a atender alguns doentes que tinham a "mania" de o chamar de noite, ele se havia habituado a dormir uma sesta todos os dias, o que era uma grande aflição para minha mãe, para nos manter os 5, em completo silêncio, se o tempo estava tão feio, que nem nos deixava ir brincar e correr na rua , à volta da casa.
Assim, ela tinha a paciência de inventar histórias que nos ia contar para o extremo oposto do quarto onde meu avô dormia, e nós ali ficávamos quietinhos, assentados no chão, de pernas cruzadas, muito admirados com as suas historias fantásticas !
Mas um dia, numa altura destas, ela nos levou ao sótão, pé ante pé, pelas escadas acima, para nos mostrar o que tinha guardado nuns baús, coisas lindas de verdade, pois eram louças que nunca vinham ao serviço, talheres e outras coisas que até dava gosto de ver, pratas. etc. Coisas mesmo valiosas e de museu...
Mas naquela nossa "casa-cor-de-rosa" de que já tenho falado algumas vezes neste Blog, as escadas para o sótão, que lá nos Açores, se chama falsa, começavam mesmo em frente à porta do quarto de cama de meu avô, e todas as nossas manobras, eram feitas em bicos dos pés.
Mas quando foi à vinda para baixo, eu que vinha um pouco atrás das minhas irmãs, resolvi correr pelas escadas abaixo, para chegar primeiro do que elas, lá abaixo.
Só que não aguentei a corrida e me faltaram os degraus, e aí venho eu de voo picado, de cabeça, aterrar com uma valente cabeçada, na porta do quarto de meu avô que, perante tal estardalhaço, se levantou todo indignado, e me vem encontrar todo encharcado em sangue, estatelado no chão, porque tinha rachado o queixo no chão do corredor. E talvez a pensar se eu não teria partido a coluna...
De imediato me agarrou por um braço e me colocou em pé, todo atordoado, levando-me todo a tremer e ainda a pensar como diabo eu tinha arranjado aquilo, para o consultório onde saca de agulha e linha, e vai de me coser aqueles 3 centímetros do meu queixo rachado...e sem qualquer anestesia... e eu ali estava, engolindo as lágrimas que teimavam em me saltar dos olhos, mas não queria dar parte de fraco e mesmo doendo um bocado, lá deixei que ele me cozesse o rasgão do queixo com vários pontos, e depois de levar mais tintura, levei um remendo de gaze e uns adesivos e... vai-te embora !
Lá estava eu, este pobre diabo pilantra, a ser rodeado de uma data de malta apavorada e cheia de pena de mim, pois segundo dizia meu avô, eu podia ter partido a coluna e já ia com muita sorte de ter sido só um rasgão... e ele estar em casa, pronto a actuar...
Para mim, havia aprendido a não dar passos maiores do que as minhas pernas o permitissem e nunca mais meter nada à boca, sem o consentimento das pessoas graúdas.
A minha sorte, mais uma vez, tinha sido a de ter médico em casa, pois o Hospital ficava a 25 Km de distância e, como não havia ambulâncias, teria de ir de carro a cavalo, o que levaria um ror de tempo a lá chegar, provavelmente já morto, na primeira crónica do xarope, ou com uma valente infecção no queixo...
Mas, só por graça, agora se escreve é "infeção", não é ?
18 comentários:
Pois meu caro amigo Mário Portugal... Por vezes é óptimo ter à mão um médico, nem que seja com tubos de rega ou tão só de jardim. Preciso é que sejam úteis e quem os saiba utilizar. Muitos por vezes também gostavam de ter essa sorte. Mas a sorte, ou se tem ou se procura. Mas muitas vezes a procura é muito dificil de dar em resultado capaz.
(Por curiosidade; já clonei o artigo sobre as "alampadinhasmanhosas..."...". Se não achar bem faz favor de me dizer.)
Tudo bom para a "Venda das raparigas" e saúde da boa.
www.paraquedista.blogs.sapo.pt
Escrito por: paraquedista em 2008/01/29 - 16:45:45
Para conhecimento de todos os leitores, publica-se abaixo os 16 comentários publicados no site brasileiro Lima Coelho "http://www.limacoelho.jor.br/vitrine/ler.php?id=1083" a propósito deste post "Era um garoto dos diabos"
Nossa, uma crônica de memórias de infância. Muito bonita
Comentário Enviado Por: Priscila Reis
Em: 01/3/2008
Ri muito. Que menino danadinho vc foi, hein?
Comentário Enviado Por: Gilda Abreu
Em: 05/2/2008
Olá Mário, acho tuas crônicas muito gostosas de ler. Valeu!
Comentário Enviado Por: Beatriz Sampaio
Em: 05/2/2008
Blz Mário. Você era demais
Comentário Enviado Por: Ana Torres
Em: 05/2/2008
Francamente Mário, suas lembranças de infância são mesmo de uma garoto danado dos diabos. Mas são bonitas
Comentário Enviado Por: Pedro Fagundes
Em: 04/2/2008
ahahahaha, que menino arteiro, hein Mário? Mas sobreviveu às suas próprias artes, né?
Comentário Enviado Por: Sônia Weissheimer
Em: 03/2/2008
Beleza, beleza Mário. Realmente você era um menino mais que peralta
Comentário Enviado Por: Loreta
Em: 03/2/2008
Era mesmo
Comentário Enviado Por: Suzana Alencar
Em: 03/2/2008
Mário, suas crônicas demonstram ao mundo como um homem de sua idade pode ter uma vida cheia de belas lembranças e que os velhso não são trastes inúteis e que só dão trabalho. Você nos dá prazer. o prazer de ler suas crônicas, a sua história de vida.
Comentário Enviado Por: Edgar Pérez
Em: 03/2/2008
Que horro que você era, Mário! Coitada de sua mãe e de seu avô!
Comentário Enviado Por: Mirtes Figueiredo
Em: 03/2/2008
Você era mesmo um menino muito danado.
Comentário Enviado Por: Patrícia Gurgel
Em: 03/2/2008
Oi Mário, que belas memórias...
Comentário Enviado Por: Bruno Ribeiro
Em: 03/2/2008
Espetáculo de crônica. parabéns Mário
Comentário Enviado Por: Paulo Tardelii
Em: 03/2/2008
Mááááááaáário, voc6e era o que se diz aqui: "o cão chupando manga" eheheheh adortei
Comentário Enviado Por: Letícia Martins
Em: 02/2/2008
Gostei muito Mário
Comentário Enviado Por: Mirtes Figueiredo
Em: 02/2/2008
Oi Mário, que maravilha de crônica
Comentário Enviado Por: Alice Campolina
Em: 02/2/2008
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