sexta-feira, 10 de novembro de 2006

DESCOBRI O PARAISO ...

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A minha "mania" das aventuras, já vem de muito longe, porque meu pai também gostava muito de sair à aventura por qualquer lado. Para tal, minha mãe preparava um belo farnel e vestia-nos roupas que se pudessem sujar à vontade, enquanto meu pai dava voltas às ferramentas necessárias para se poder safar dalgum "enrascanço" proporcionado pelos caminhos de cabras, por onde se aventurava a meter o velho carrão, e até levava uma valente corda, para o caso que ser necessário pedir reboque a alguém...

Meu pai, artista como era, só procurava as delícias do campo.

Quando acabava a passeata, muitas vezes rocambolesca, com o rebentamento de pneus que só meu pai podia substituir, mas às tantas e por vezes, já sem o pneu de reserva, era mesmo ali no campo, que ele o desmontava e pregava um ou mais remendos, coisa que acontecia com frequência naquele tempo, até porque havia pregos por todos os lados e cravos das ferraduras...

Enquanto ele se entretinha a fazer estes trabalhos, nós corríamos brincando por todos os lados, e deixava-mos rolar por qualquer declive mais ou menos acentuado. Aquilo era uma festa !

Uma data de anos depois, comigo já com uns 36 anos, e tendo adquirido um velho carro Ford com motor de 8 cilindros em "V", e que comia gasolina que se fartava... passeando com a família na estrada entre Salvaterra de Magos e Coruche, descobri a indicação duma barragem, mas aquilo só tinha como acesso, pedras e mais pedras, uma coisa horrorosa, mas muito lentamente, lá fomos andando à procura dela.

Ao fim de uns 2 KM, lá estava ela, toda rodeada de árvores por todos os lados, uma lagoa lindíssima ! Aquilo era mesmo "O PARAISO" ! Como era possível que coisa tão linda, tivesse tão difícil acesso ?

Aquilo era realmente um "Paraíso " !

Quando cheguei a casa, e aproveitando o jornal da terra, o "Aurora do Ribatejo", vai de escrever um artigo a tentar alertar as autoridades para uma das coisas mais lindas que havia 100 Km em redor e, para meu espanto, poucos dias depois, vem visitar-me um amigo dos velhos tempos do Sanatório, um tal João Pereira, que havia lido a notícia e me vinha informar de que tinha recebido ordem da Junta Autónoma de Estradas, para ir calcular o quanto custaria alcatroar aqueles 2 Km de estrada e mais, dizendo-me que já tinha na mão todos os cálculos e certamente, que aquilo seria obra para fazer de imediato !. E foi !!!!

Um ou dois meses depois, já se podia lá entrar de automóvel, podendo chegar-se com ele até à borda de água e debaixo das árvores, acampar deliciados. Como a noticia do acesso à barragem, eu havia publicado de imediato, foi uma correria imediata de centenas e centenas de pessoas a lá aparecerem, muitos levando os seus barcos e barquinhos. Nessa altura eu ainda não tinha qualquer barco para lá por na água, mas gozávamos a ver os outros brincar e gozar aquela maravilhosa barragem.

Da esquerda para a direita, meu filho mais velho, minha esposa que sempre se fazia acompanhar dos seus bordados, minha mãe, minha filha e meu filho mais novo.

Assim, a partir dessa altura, milhares de pessoas de todos os lados iam aparecendo aos fins de semana, com os seus farneis e a criançada festejando a sua liberdade, sempre vigiada por perto, não fossem cair dentro de água e afogar-se...

Na realidade, a água vinha até quase aos nossos pés, pelo que toda a criançada se deliciava a tomar banho.

Infelizmente, o povo português daquela época, pouco habituado a estas maravilhas, rapidamente começou a estragar o ambiente, com veraneantes transportados em camionetas, fazendo uma porcaria dos diabos, assando sardinhas nos seus pestilentos fogareiros e deixando o ambiente completamente conspurcado de latas e garrafas, plásticos, espinhas, etc. etc...

Mas como a barragem é muito grande, ali se começaram a fazer corridas de barcos de todos os tipos, o que trazia a reboque muitos milhares de curiosos.

Era pois frequente o vermos por lá os entusiastas pela náutica, Mário Madeira, João Valente e toda a família Raposo de Salvaterra de Magos, de quem nos fizemos muito amigos.

Depois vieram as motas de água, que fazendo uma turbulência dos diabos, até muito perto de terra, obrigavam toda a gente a fugir da borda de água, até que há poucos anos, decidiram fechar o acesso à barragem e aquele "paraiso" acabou por ficar mais ou menos abandonado...

Minha filha em Snype, passeando com uma amiga.

Pouco tempo depois, e já com um barquinho construido em casa, também lá andávamos não só a motor como à vela.

Infelizmente, passado poucos anos, toda aquela água estava infectada por abusivas descargas de pesticidas, e todos estamos à espera de que a Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, nos volte a brindar com aquela magia de paisagem...

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