quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

CHATEADO PELOS ÁCAROS...


Quando uma pessoa tem a sorte e alegria de chegar aos oitenta anos, como vai ser, se Deus deixar, já este ano, olha para trás e recorda imensas situações que na altura, nem tinham grande interesse, ou importância.

Quando eu tinha 15 anos e estava a estudar na Escola Industrial Marquês de Pombal, em Lisboa, a minha mãe, que vivia interna e empregada na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, não tinha onde me por a viver, mas lá conseguiu descobrir ali pela baixa de Lisboa, um quarto num terceiro andar.

Era um belo quarto, bem mobilado, até com cama de casal e tudo muito limpo, mas pela janela, aquilo relampejava toda a noite com as luzes de Lisboa e seus reclames luminosos, mas tinha uma boa vista sobre a cidade. Fora as luzes, até se poderia dizer que estava bem instalado...

O pior, foi quando resolvi deitar-me ! Ainda estava à procura do sono, quando começo a sentir comichão no corpo, por todos os lados ! Mas que diabo seria aquilo ?

Num repente, acendi a luz e levantando o lençol, vejo disparar em todos os sentidos, centenas de percevejos que se iam esconder pelos cantos da cama ! Eu nunca tinha visto tanta bicheza e logo me apercebi de que a noite estava estragada. Mas agarrei num dos cobertores e enrolei-me nele, deitando-me sobre o tapete que estava ali aos pés da cama.

Mas passados poucos minutos, já estava novamente a ser "devorado" por dezenas e dezenas daqueles malvados bichos ! "E agora, Mário, como te vais sair desta ?", perguntei a mim mesmo, todo amargurado, apetecendo-me mais sair do quarto e ir protestar junto dos donas da casa, mas já estavam todos a dormir e resolvi-me deitar, todo enroscado, sobre uma pequena escrivaninha, tendo finalmente pegado no sono, mas acordado às 6 da manhã, todo dorido e dormente, enquanto Lisboa mal havia acordado, e depois de ter aproveitado uns minutos para estudar, lá fui ter com a minha mãe que vivia ali no topo do elevador da Glória, para lhe falar desta terrível situação.

Obviamente, teria que haver uma solução, mas qual ?

Nesse mesmo dia, foi à casa que havia pago um mês adiantado, para expor a situação e ainda hoje estou para saber se teria recebido de volta o seu dinheirinho...

Uns anos mais tarde, com 15 anos, mal comido e mal dormido, acabei por contrair uma doença pulmonar e fui enviado para o Hospital do Desterro, que ficava ali à Praça do Chile, para pessoas infecto-contagiosas, mas para mal dos meus pecados, pelo menos, a cama onde me deitaram, também estava infestada de percevejos, mal ia iniciar o meu sono !!!

Como seria aquilo possível numa unidade de serviço hospitalar de doenças contagiosas, aquilo existir ?

E pensei nas milhares de pessoas que se teriam infectado naquelas camas, picadas por estes insectos...

No dia seguinte, depois de ter contado todas as horas da noite, pedi à minha mãe, na hora da visita, se me arranjava uma embalagem de DDT, que se usava muito nessa época e polvilhei todo o lençol à minha volta, com ele, tendo conseguido finalmente dormir, mas no dia seguinte, perante o espanto das empregadas que arrumavam as camas, de verem o meu lençol com centenas de percevejos mortos...

Pelo que entendi, elas nem sabiam da existência de semelhantes insectos e em tão elevada quantidade, e originei uma corrida de muito pessoal, incluindo enfermeiros e médicos, para verem aquele exército de bicharada morta, se calhar a pensarem que tinha sido eu a para lá os transportar.....sei lá...

Felizmente que passados poucos dias, fui encaminhado para a Estância Sanatorial do Caramulo e já a rezar para que os malditos percevejos, não existissem por lá, o que felizmente aconteceu. Aquilo era "outra louça" e até os tratamentos eram muito menos dolorosos dos que me estavam a fazer em Lisboa. Aquilo era outro mundo !

Mas actualmente, 2007, e diariamente, sempre que me aconchegava para iniciar o meu sono, era atacado duma comichão nos sítios mais estranhos do meu corpo, mas não conseguia encontrar nada !

Desesperado, porque aquela comichão era de endoidecer, experimentei tudo, desde as águas frias às quentes, aos diferentes sabonetes, a por ao Sol toda a roupa da cama, e a borrifar toda a cama, colchão e tudo, com os actuais "sprays" de insecticidas, ao encher-me de pó de talco, mas o resultado continuava a ser o mesmo.. À meia noite, mais minuto, menos minuto, lá aparecia a malvada e intensa comichão que quase me deixava em carne viva...e pelo menos durante mais de uma hora...

Naquelas horas de desespero e solidão, só me vinha à cabeça o que tinha passado 65 anos antes com os percevejos, mas que agora eram invisíveis, e todas as 24 horas, se reuniam para me atacar, mal sentiam a cama quentinha e a escuridão.

Na realidade, toda a gente tem comichão no corpo, mais dia menos dia e muitas vezes até, uma pessoa se tem de esfregar pelas esquinas das portas, para coçar as costas...quando não tem ninguém por perto que o faça...mas até estou pensando que quem mete as unhas para se coçar, está a ficar com elas cheias de ácaros...

Não há dúvida de que toda a gente sofre de acessos inexplicáveis de profunda comichão e certamente, os bebés, arrancam no berreiro, à tantas da noite, sem que os pais encontrem qualquer motivo... Parece que ninguém sabe nada disto...

Uma coisa parece certa, uma vez que a bicharada tem a barriga cheia, deixa de chatear as pessoas, até ao dia seguinte, 24 horas depois, e isso seria, provavelmente, o que me estaria a acontecer, mas às tantas pensei que teria de ter uma opção mais violenta e, como já sabia até a hora em que a malvadez iria atacar, muni-me dum "spray" de insecticida e lá me fui deitar, esperando pelo "começo da batalha", mas desta vez eu estava preparado...

Na realidade, mal havia começado a dormir, eles (ou lá o que era), começou a batalha, mas em vez de me por a coçar, e sem acender a luz, enfiei o "spray" por baixo do lençol e...zás !

Oh remédio santo, "aquilo" que tanto me vinha atormentando há tanto tempo, silenciou-se em poucos segundos e, de tal maneira que passei a dormir que nem um anjo velho...

Mas eu estava desejoso de ver a "cara" do chatarrão, (ou chatarrões), pois de certeza que ele deveria estar por ali completamente morto, mas depois de levantar a roupa e ter despido o pijama, nada encontrava. Aquilo era demais ! Ele teria de estar ali por bem perto, pois depois daquele "tiro" certeiro, nem deveria ter ficado com pernas para fugir...

Mas com muita luz e muita atenção, lá encontrei uma coisinha minúscula, da cor da minha pele e por isso, um pouco mais escura do que o branco do lençol e com muito cuidado, peguei uma pinça muito aguçada, e transportei o "cadáver" para o meu "laboratório" onde o coloquei numa lamela do microscópio, mas para meu espanto, aquilo era simplesmente uma coisa horrorosa, com várias pernas e garras, tudo um tanto estilhaçado de tantas voltas que o meu corpo tinha dado em cima dele, ao dormir.

Aqui fiquei a pensar que em vez de coçar, toda a gente devia era tocar com o veneno, no sítio das comichões, pois aqueles ácaros quase invisíveis a olho nu, não devem sobreviver as estes ataques. Julgo até que bastará por um pouco de "spray" num dedo e passar levemente pelo sítio.

Estou a pensar nos bebés, que cheios de roupa e muito aquecidos, rebentam em choradeira à noite, talvez por também estarem a ser atacados, e não serem capazes de dizer onde, a não ser através do choro, e dando com os desgraçados pais em loucos...

Claro que pensei se estes venenos não iriam fazer mal à minha pele, mas certamente que seria bem pior o ficar todo arranhado pelas minhas unhas, ao tentar ver-me livre deles...e até ensanguentadas e talvez até a transportá-los, debaixo das unhas, para outros sítios do meu corpo...

Mas estou convencido de que eles andam agarrados ao nosso corpo, com "unhas e dentes" , e, qualquer recanto mais ou menos obscuro, vivendo connosco e só esperando a hora certa para acordar e começar o ataque...

Então tomei uma imponente decisão: A partir de agora, vou ter sempre na mesa de cabeceira, um "spray" destinado a este fim... E agora, venham eles... os malvados...

Nota: Depois da publicação desta história, vários foram os pedidos de leitores, que sofrendo do mesmo problema, me enviaram o pedido sobre o tipo de "Spray", o que muito me regozijou, até porque vieram de pessoas que nem conheço...Para dizer a verdade, julgo que servirá qualquer tipo das muitas marcas existentes no mercado, mas obviamente, não poderei fazer propaganda, embora possa ajudar com a indicação de que, o que tinha à mão, era o Raid. No caso de haver mais pessoas interessadas, agradecia que me escrevessem para (ct1dt@sapo.pt), indicando o vosso nome e morada, para poder responder directamente.


Escrito por Engenhocando em 2007/02/22 às 14:08:48