quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

E ESTRAGARAM O EMISSOR DA LEGIÃO PORTUGUESA...




A Legião Portuguesa foi por volta de 1945, uma actividade política-militar, a que o nosso Presidente Salazar, muito acarinhou.

Era Legionária, qualquer pessoa que pudesse dedicar algum tempo da sua actividade diária, em aprender a conduta militar e estar pronta a qualquer eventualidade que pusesse em perigo, o nosso governo de então.

Assim, de todos os quadrantes civis, apareciam pessoas interessadas, até porque as suas fardas lhes davam um certo gabarito e estatuto social. Eram pessoas a quem se tinha de ter um certo respeito...


Mas eram os "parentes pobres" do regime e eram escolhidas as pessoas mais gradas das terras, para os orientar, reunir e ensinar, sempre protegidas por intenso secretismo.


Entre as várias actividades, tinham de se treinar em comunicações e o governo de então, só lhes conseguiu arranjar equipamentos emissores e receptores baratos e, como os seus conhecimentos teóricos e práticos, eram muito reduzidos, ou até nulos, as suas comunicações não podiam brilhar, como eles tanto desejavam.

Por essa altura, até os radioamadores já possuíam equipamentos que se comportavam perfeitamente ao longo de todo o país, pelo que era fácil escutá-los, em especial na banda dos 80 metros, 3730 KHz, conversando e trocando as suas experiências e os seus conhecimentos.


O receptor mais barato que existia naquele tempo, era o ECHOPHONE, EC-1B, receptor especialmente feito para as ondas curtas e metido dentro duma caixa metálica, e dava para funcionar em todas as várias frequências dos radioamadores, e não só, mas estes operadores, há muito que os tinham substituído por unidades cada vez melhores. No entanto, como a Legião Portuguesa, só funcionava nos 80 metros, ali perto dos 3850 KHz, aquilo era perfeitamente utilizável e tinha muito boa sensibilidade, ou seja, podia escutar até estações muito fracas.

Mas a falta de preparação tecnológica para as telecomunicações, não contribuia em nada, para que tivessem as comunicações facilitadas, até porque, ao que parece, pouco ou nada sabiam das antenas mais recomendáveis.

Assim, e em especial para os emissores, aquilo era uma lástima e o governo havia mandado construir imensos emissores de muito fácil operação, sem qualquer botão de afinação no seu exterior, para que os inexperientes funcionários, não os pusessem em perigo. Aquilo era um caixote de alumínio, em que todas as afinações só poderiam ser feitas por pessoal adestrado, que não abundava, até por que teriam de ser também Legionários, e tinham de usar chaves de fenda, depois de desencravar os seus comandos. Para facilitar, ele só irradiava numa frequência, a cristal.

Possivelmente até teriam informado os Comandantes, para que ninguém tivesse acesso ao seu interior, para que não fosse conhecida a sua frequência...coisa estúpida, dado que qualquer receptor que tivesse a banda dos 80 metros, os poderia ouvir...

Como a sua frequência de trabalho, era muito próxima da dos radioamadores, eles bem podiam ouvi-los, mas não podiam falar com eles nem pedir-lhes conselhos. Mas como aquela banda, tinha boa propagação diária, e para todo o país, sempre havia muita malta na conversa sobre o que estava a fazer, as antenas que usavam e experimentavam a toda a hora.

Perante as facilidades com que os legionários verificavam que os amadores trocavam as suas mensagens, até julgavam que estes teriam equipamentos de muito maior categoria da que o governo lhes tinha entregue...dado terem sempre muita dificuldade em fazer as suas comunicações para o Quartel General em Lisboa.

Assim, as mensagens tinham de ser repetidas várias vezes, até que pudessem ser confirmadas.

Foi numa destas situações, em que os Legionários a cerca de 80 Km de Benavente, por terem entregue o emissor a um "expert", ficaram mesmo sem o seu emissor que, de mau, passou a péssimo e até deitou fumo...

Um dos legionários em serviço nessa terra, era um dos condutores de transporte de pessoal da RARET e, sabendo que eu, como técnico na RARET e radioamador CT1DT, tinha facilidade em construir e reparar o meu equipamento, seria a pessoa ideal para reparar o emissor deles e assim um dia, me aparece um Jeep à porta, em que o seu Comandante, pessoa enorme, com mais de 140 Kg. me conta a desgraça do seu rádio-emissor e das dificuldades que isso lhe estava a proporcionar, mas pedindo-me para guardar profundo segredo...

De imediato fui constatar que o referido "expert" tinha achado estranha uma fonte de tensão Negativa no emissor, e logo a alterou para Positiva, sendo que a partir dessa altura, nunca mais o emissor havia funcionado. Como a tensão negativa era absolutamente lá necessária para colocar as válvulas 807 em classe "AB2", na modulação, e as duas do Andar Final em "Classe C", aquela troca foi o fim das caras válvulas...

Assim, e enquanto o Comandante foi de imediato a Lisboa comprar as 4 válvulas necessárias, eu fiquei a investigar o comportamento de todo o emissor e tendo trocado certos condensadores que estavam com fuga e algumas resistências que estavam muito alteradas de valor.

Assim, e usado um osciloscópio na observação do equipamento, mal as válvulas chegaram e ajustadas as tensões negativas para os seus valores correctos, mal se colocaram as 807, o emissor começou logo a funcionar perfeitamente e irradiando 100 W. Trocado o cristal por um para a banda dos radioamadores, que era mesmo ali ao lado, como já foi referido, e feita uma chamada Geral, de imediato vieram confirmações de óptimo sinal e qualidade de áudio, para grande regozijo do Comandante que estava ali presente. Claro que eu estava a usar a minha antena.

Não havia dúvida, tanto de Lisboa, como do Porto e Algarve, os controles era magníficos !

Havia só que ir observar a antena que eles tinham montado e que era um simples pedaço de fio caído pela janela abaixo...

Assim, feitos os simples cálculos para aquela frequência, o Comandante logo mandou a rapaziada que se havia juntado, muito curiosa, para irem comprar o fio necessário, bem como isoladores e cabo coaxial para a baixada, e em pouco mais de meia hora, já lá estava montada a antena no alto de dois edifícios, pronta a ser usada.

Como eu já possuia um medidor de SWR para a verificação do estado da antena, de imediato pude verificar que a antena estava óptima e feitos os ajustes com uma chave de fendas, atirei com a potência daquele PA à antena e tudo parecia correcto. Assim, fiquei à espera da hora das comunicações deles com o Quartel General, que era daí a meia hora, pelas 19:30...se bem me lembro.

"E quem é o operador ?" ; perguntei eu.

De imediato me apresentaram um rapaz muito novo, magro e até meio gago, mas quando lhe coloquei o microfone em frente, ele já ia começar aos berros, quando eu lhe disse para falar ao nível normal...o que ele muito estranhou, pois estava habituado a ter de berrar, para chegar a Lisboa. Além disso, eu lhe havia recomendado para só chamar UMA VEZ, se a frequência estivesse livre.

Toda a gente estava atenta aos seus relógios, para aquela "prova de fogo", quando o Comandante informa o operador, para fazer a chamada.

Todo nervoso, o nosso rapazote, enche os pulmões de ar e lá deixou sair a sua chamada:

"CSXPTO (ou coisa parecida) chama o Quartel General CSRPT( ou coisa parecida) e passa à escuta.

De imediato uma voz de trovão enche a sala com Lisboa a dizer: "Forte e claro. Envie o seu serviço."

Uma onda de alegria exagerada, ouviu-se da malta toda presente, que foi logo mandada calar pelo Comandante.

Como o tráfego era confidencial... logo me despedi e vim-me embora.

Aquela estação ouvia-se tão forte em todo o país, que todos os outros agrupamentos dos legionários, passaram a pedir ajuda e reencaminhamento das suas mensagens para Lisboa.
Assim, aquela estação passou a ser considerada o Quartel General fora de Lisboa, e passados uns meses, Lisboa foi lá e caçou-lhes o equipamento, tendo deixado um mamarracho muito velho, mas como a antena era óptima, as comunicações continuaram a fazer-se suficientemente bem, até que a evolução politica se alterou e deixaram de existir os Legionários...

Estávamos agora em 1975.


Escrito por Engenhocando em 2007/07/17 às 16:56:21

E A PIDE BATEU-ME Á PORTA...



Era um belo dia de verão de 1960.

No meu minúsculo quintal cimentado, eu havia deixado um pequeno canteiro numa esquina, onde havia plantado um caroço de pessegueiro que muito me havia agradado e com o decorrer de poucos anos, havia nascido um lindo pessegueiro que logo, ainda miniatura, se começou a encher de lindos pêssegos e de tal forma, que o seu peso fazia vergar os seus frágeis ramos até que os imensos frutos tocavam no chão !

Aquilo até era lindo de ver !

Estava eu a deliciar-me com alguns desses frutos amarelos, doces, aromáticos e sumarentos, quando minha esposa me aparece, com ar muito preocupado, dizendo que estavam à porta uns senhores da PIDE a quererem falar-me...

Naquela época, falar-se de PIDE, assustava qualquer um, mesmo um pacato cidadão.

Estranhei bastante essa visita, até porque sendo radio-amador, só eram concedidas licenças a quem não tivesse cadastro politico "sujo" e mais, como já estava empregado na Radio Europa Livre, RARET, só lá entrava quem não tivesse tido problemas políticos.

Assim, embora curioso, mas um tanto contrafeito, lá fui à porta e encontro 4 rapazes, mais ou menos da minha idade, 47 anos, em que um me mostra o seu cartão da PIDE, com um sorriso amarelo estampado no rosto... e me diz que havia corrido Benavente naquele domingo de festa da terra, à procura de quem lhes pudesse reparar o carro, um VW carocha, que tinha uma avaria grave e lhes tinham informado que em Benavente e, num Domingo, só havia uma pessoa capas de tentar dar-lhes uma ajuda e, essa pessoa seria eu...

"Isto é que vai uma açorda..." , pensei eu, ainda com os restos dum pêssego na mão, toda besuntada....

Eu era muito conhecido na terra e muita gente sabia que eu estava sempre metido não só em questões electrónicas, mas também eléctricas e mecânicas, com antenas em cima do telhado e outras mecânicas estranhas...

Quem já viu um VW Carocha, sabe perfeitamente, que tem o motor atrás e a correia de ventilação e carga de bateria, está logo ali à vista.

Aberto o compartimento traseiro, onde se encontrava o motor, logo verifiquei que se tinha partido o tambor da correia de arrefecimento do motor e carga da bateria. Como o motor tinha vindo a trabalhar sem arrefecimento algum..até dava estalos e cheirava muito a quente... deitando fumo por todos os lados !
Estava ali uma boa açorda....


Aquilo me pareceu realmente muito complicado, pois o ideal seria tirar o motor fora e colocar um novo tambor, coisa que eu não poderia fazer sozinho, nem obter o material necessário ...mas pensei que sendo um trabalho muito complicado para mim, seria preferível tentar soldar o tambor, até porque tinha construído já há tempos, uma máquina de soldadura eléctrica e convidei-os a empurrarem o carro para as traseiras da casa, onde eu tinha estado minutos antes, a saborear uns belos pêssegos, o que eles logo fizeram e onde eu poderia ligar a máquina da soldadura mais facilmente.

Havia que centrar o tambor exactamente no sitio, o que foi facilitado por ele se ter partido perto da porca de cambota e lá deixado uma rebarba, ali mesmo à mão. Assim, só poderia ser ali naquela posição e vai de pingar aqui, depois ali, mais pancadinha dum lado, mais pancadinha do outro, para a manter o mais desempenada possível e lá fui soldando o melhor possível o tambor da correia, sempre com cuidado para que o motor não se incendiasse com as faíscas da soldadura... para o que havia arranjado uns trapos encharcados em água fria, para tapar o carburador e tubagem de combustível.

Enquanto estava a fazer aquele trabalho, um deles, vendo tantos pêssegos bem maduros e aromáticos, ali mesmo à mão, pediu-me se podia comer um e como foram postos a-vontade, atiraram-se a eles, como se já não comessem há muitos dias... e sempre a elogiá-los de qualidade ! Aquilo era bom demais !!!

Ao fim duma hora de tentativas e reforços das soldaduras, colocando panos encharcados de água fria, para tentar poupar o estanque da cambota, foi colocada a correia e dada ordem de marcha ao motor, que logo arrancou com a sua ventilação e carga e ali esteve um certo tempo a funcionar para eu me aperceber da resistência das precárias soldaduras.

Tudo parecia o suficiente para que eles pudessem seguir viagem, embora lentamente, o que aconteceu de seguida, indo eles todos besuntados dos meus ricos pêssegos, mas antes de partirem ainda me deixaram um cartão, informando-me de que se algum dia tivesse problemas políticos, bastaria falar para aquele número e lá se foram embora.

E lá fiquei a pensar, "fazer o bem sem ver a quem..." , mas ainda hoje nem sei se teriam chegado ao seu destino, porque nunca mais ouvi falar deles.


Escrito por Engenhocando em 2007.07.17 às 12:31:48

E CEGOU DE TRISTEZA...



Durante muitos anos, sempre julguei que a expressão "cegar de raiva", seria uma força de expressão, mas depois de ter conhecido os meus familiares mais antigos, vim a saber que não: poderia mesmo, ficar-se cego de tristeza !

Quando se tem a sorte de atingir uma idade avançada, como eu, aos 80 anos, e sem se querer, cada vez mais interesse se tem pelas nossas origens e isso me levou a aprofundar o historial não muito distante, da minha família e ter conhecimento de factos que estavam pouco claros ou até, alguns, desconhecidos para mim.

Isto me levou à INTERNET e lá fui descobrir coisas muito interessantes sobre os meus familiares que se começaram a conhecer na Ilha da Madeira; a família Ferraz.

Obviamente que me iria meter numa grande confusão, porque há Ferraz por todos os lados, e muito em especial no Brasil. Ná, eu teria de saber coisas mais recentes, e não ir parar a 1600 ou 1700...

Assim, e já sabendo que um meu tio, vivido em 1856 e era o dono duma importante fábrica de açúcar naquela ilha, fui encontrá-lo em "Açúcar na Madeira" e ele lá estava, logo à cabeça da página, como Severiano Alberto de Freitas Ferraz, com a sua fábrica em Ponte Nova, no Funchal ! Eu já estava em casa, no seu palácio !

Ele se tinha casado com uma senhora D. Leonor Terêncio Vieira, em 1817, e tiveram 7 filhos. Um deles, era o meu bisavô João Higino Ferraz, que ficaria a ajudá-lo na fábrica do açúcar.

Aqui o meu leitor se estará a sentir um pouco morno de entusiasmo, mas já lá vamos ao que mais importa nesta crónica, a « cegueira dada pela tristeza», mas ainda tenho umas voltas a dar...

Foi por esta altura, 1856, que um inglês, de nome W. Hinton, foi parar à Madeira e para nosso azar, foi meter o nariz na fábrica do açúcar, tendo logo depois, feito uma sociedade com maquinaria toda nova e vai de fazer uma guerra atroz a meu tio, pagando muito mais aos fornecedores da cana do açúcar, do que meu tio poderia. Para meu tio, era uma guerra muito suja, mas que poderia aguentar-se por mais algum tempo, mesmo a perder dinheiro...

Para meu tio, o Hinton tinha de estar a perder dinheiro com o que estava a pagar e isso o levou a um profundo desgosto, em especial porque não via a possibilidade de continuar a viver assim, pelo que se enfiou no escritório dias e dias e acabou por se suicidar com um tiro de pistola.

Entram em cena os credores que levam todos os haveres da família, só deixando a casa e um piano de cauda que ele havia ofertado à minha avó e que veio a ser a salvação da nossa família daquele lado.

Minha avó, Leonor Esther de Carvalho Ferraz, era a mais velha de todos, embora só com 18 anos, tinha um irmão muito meigo e sensível, um artista, e nada atraído pelas mecânicas, e que havia aprendido a tocar violoncelo com um professor irlandês que havia ido para a Madeira, à procura de se salvar duma tuberculose pulmonar, que o havia agarrado, e era este irlandês que também era professor de música da minha avó.

Assim, com tanta falta de dinheiro, e sem a possibilidade de continuar a pagar-lhe as lições de música, minha avó foi confessar-se ao irlandês das suas tremendas dificuldades financeiras, mas o professor, que já gostava muito dela, e dos seus dotes no piano, não só não lhe exigiu mais um tostão, mas também lhe começou a enviar alguns dos seus alunos.

Aquilo ia dando para viver, mas havia que fazer algo pelo irmão José Ferraz, que se andava a mostrar muito entusiasmado pela medicina e pela música, em especial o violoncelo. Só que o dinheiro não dava e lá vai o José para os Pupilos do Exército, cursar a tropa, que tanto abominava... e, às tantas, começou a cegar, perante a grande confusão da medicina de então, que foi consultada. Como já não servia para o exército, foi suspenso e voltou à Madeira, imensamente triste.

Como não se encontrava nada na vista do rapaz, aquilo só poderia ser algum grande desgosto que o rapaz teria e aí minha avó se lembrou de que ele só queria estudar medicina, curso muito caro, mas como o número de alunos havia aumentado, lhe pareceu que poderia tentar ajudá-lo a fazer medicina e assim aconteceu, vendo o José voltar a possuir lentamente, a visão.


Certamente que minha avó seria um pouco mais nova do que nesta imagem, mas desde logo muito nova, passou a ter cabelos brancos prateados que conservou até aos 85 anos. Tenho pena de não possuir uma sua fotografia aos 18 anos, mas dizia-se que era das mulheres mais lindas do Funchal...

O curso de medicina estava a exigir muito do José e, porque não possuía dinheiro para os livros, refugiava-se na biblioteca da universidade e foi aí que foi encontrar também, com sérias dificuldades financeiras um colega que tinha muita habilidade para o desenho e desde aí, os dois rapazes viriam a brilhar nos seus cursos, ajudando-se um ao outro.

Esse outro jovem madeirense, tinha uma vasta família de 12 irmãos e também a paixão pela medicina, música, desenho, mecânica, caça, etc.

Ele se chamava Carlos Abel Bettencourt Leça e havia nascido em 1870, numa pobre freguesia de pescadores, de nome Madalena do Mar, no Sul da ilha da Madeira. Este rapazão, viria a ser mais tarde, em 1927, meu avô.

Esta amizade perdurou por todos os anos das suas vidas e foi nos contactos em casa do José Ferraz, que ele veio a conhecer e admirar os dotes e coragem daquela senhora D.Leonor Esther Ferraz, mais velha do que ele 8 anos.

Mas para cúmulo do azar, o seu primeiro amor, já com a data marcada para o casamento, arranja uma tuberculose fulminante e vem a falecer poucos dias antes da data marcada para o seu casamento.

D. Leonor fica completamente destroçada e incapaz de se aventurar a novo noivado, embora sentindo que aquele jovem da Madalena do Mar, a tenta cortejar a todo o custo !

Mas a pouco e pouco se sentiu atraída pelo jovem Carlos Leça, com quem viria a casar uns tempos depois, em 1894. Foi esta distinta senhora, minha avó, mulher "de armas" que se valeu de todos os seus conhecimentos, para aguentar a família, não só ensinando inglês, português e francês, além da música, que era a sua paixão.

Na ilha da Madeira, havia muitas famílias estrangeiras que procuravam o seu dócil clima e muitas jovens procuraram na sua permanência na ilha, o meio de se instruírem.

Acabados os cursos de medicina, com os mais altos valores, o Dr. José Alberto Ferraz veio para o Continente fazer clínica, como médico Municipal em Belas, e depois em Queluz e, como era um artista em medicina e música, quando faleceu, com 31 anos, em 1921, as Juntas de Freguesia de Belas e de Queluz, deram o seu nome a várias ruas, que ainda lá estão:

Dr. José Alberto Accioli Ferraz
MÉDICO


Este médico começou a ser muito admirado como violoncelista e às tantas, foi convidado por sua Exª. o Rei D. Carlos, para fazer parte do seu conjunto de música de câmara no palácio. Quando entrei pela Internet, há pouco tempo, no interior do palácio do Rei D. Carlos, hoje Museu da Ajuda, e vi a sala de música, logo me lembrei do meu tio lá assentado a embelezar os serões de Sua Majestade.

O Dr. Carlos Leça, ficou pela Madeira, vivendo em casa da esposa, mas como ainda não era conhecido, a profissão da medicina não dava para nada e ele se sentia muito frustrado por estar a viver à custa da esposa.

Assim, um dia apareceu vaga de médico num navio de carga, a que ele concorreu e logo seguiu viagem para as Bermudas, aquele malfadado triângulo das Bermudas, tendo o navio se afundado com toda a sua tripulação...

Mas valeu ao Dr.Carlos Leça, que havia sido acometido de uma apendicite aguda e ainda estava no hospital, em terra, quando o navio se afundou.

A terrível notícia logo correu mundo e a D. Leonor Ferraz, acabadinha de casar, já se sentia viúva, quando uns meses depois, vê aparecer o seu marido são e salvo das Bermudas... viajando noutro navio.

Mas infelizmente, a vida de médico novo, continuava difícil e vai de responder a um anúncio para médico em S.Miguel, Açores, para a Maia, freguesia no norte da Ilha e lá vai ele com a sua esposa para S.Miguel, cheia de tristeza por ter deixado o seu piano de cauda, na Madeira...

D. Leonor estava agora grávida do seu primeiro filho e cada dia mais triste de não se poder deliciar ao teclado do seu magnífico piano. O seu estado de tristeza profunda, em nada estava a ajudar aquele parto...

Acompanhada de sua mãe, D. Sofia Amália de Carvalho Ferraz, esta de companhia com o seu genro, e em completo segredo, decidem mandar vir o piano da Madeira e finalmente, uns meses depois, ele chega, para grande alegria de D.Leonor e Dr.Carlos Leça.

Mas na Maia, volta a acontecer a mesma dificuldade de exercer a medicina, até porque era um povo muito pobre e é durante umas das suas visitas médicas a um doente, às tantas da madrugada, que nasce o seu primeiro filho, sem a sua presença, entregue à sogra e uns serviçais. Mas felizmente que o marido, ao chegar a casa, vai encontrar tudo em silêncio e a sua esposa a dormitar, bem como o filho, a quem foi dado o nome de Francisco Assis Ferraz Bettencourt Leça.

Muitos factos desta história, foram respigados dum belo escrito intitulado "A família Ferraz", duma minha irmã, a Leonor Ferraz Bettencourt Leça Faria, hoje com 78 anos, nascida em 1928, a quem presto a minha homenagem e Maria Antónia Accioli Ferraz.


( Maria Leonor Ferraz B.Leça Faria )



Daquela Leonor Esther Ferraz, houve um irmão de nome João Higino Ferraz Jr., que dado o seu entusiasmo pela rádio, viria a ser um grande telegrafista como radioamador, com indicativo CT3AB e ultimamente o mesmo indicativo foi herdado pelo seu filho Henrique Eduardo Clode Ferraz, falecido há poucos meses.


Na foto, João Hygino Ferraz em visita ao Dr.Calos Leça, há 78 Anos, em S. Miguel.

A partir desta crónica repleta de tantas tristezas e alegrias, já o leitor pode saber a sua continuação, na crónica que se segue, "A casa cor-de-rosa", e ficou a saber que uma grande tristeza, também pode dar como resultado uma grande cegueira.

Escrito por Engenhocando em 2007/07/07 às 16:56:37

A « CASA COR-DE-ROSA »

A casa onde eu nasci, há 80 anos, ainda lá está !

Ela lá está na lindíssima terra de Ginetes, em S. Miguel, Açores.

Do lado de lá um cabeço, onde eu fui tentar ver cair um raio e fui bem castigado, por isso...

É a história contada em 11 de Setembro de 2006 e intitulado "À espera dum raio que não me partisse ".

Parece impossível que tenham passados tantos anos, e numa terra muito dada a tremores de terra, a casa de meu avô ainda lá esteja, em perfeito estado de conservação ! Tudo tinha sido feito para durar !

Na realidade, ela foi feita com imensos cuidados de resistência, pois estava assente sobre 5000 cunhais de pedra, com cerca de um metro de comprimento e uns 50 cm de largura e altura.

Esta bela foto, foi-me enviada por uma prima que lá vive perto, a Maria Leonor Leça, e há poucos dias, contando-me como tudo aquilo está diferente de há 80 anos, estradas então de terra, agora alcatroadas, muitas outras moradias na mesma rua, Escola EB2, campos de jogos polivalentes, enfim, imensas novidades !

Nesta altura, está desactivado o Campo de Crocket, que existia em frente à casa, mas o meu primo Alberto Leça, como Vereador da Câmara, insistiu que fosse feito um outro, do outro lado da rua, quase em frente à "casa cor-de-rosa". Estes enormes campos, são muito parecidos a uma grande mesa de bilhar, em que os jogadores,


munidos de tacos e bolas de madeira, obrigam as bolas a passar em certas direcções, os arcos implantados no solo. O terreno tem de ser o mais perfeito possível e é norma cobrí-lo de areia que é alisada a rodo, antes de cada jogo.





Como é óbvio, sendo uma terra vulcânica, toda a areia é preta, conforme se pode ver na foto.







Era uma casa enorme, com tectos muito altos e 6 amplas divisões a que se tinha acesso por um largo corredor central.

Mal se entrava a porta, pelo lado esquerdo, à esquerda era o quarto de meus pais e à direita, a sala, onde o piano de cauda tocava a toda a hora. A seguir era o quarto da garotada e em frente, a sala de jantar com uma enorme mesa no meio. Logo de seguida o quarto dos meus avós e à esquerda, o consultório, a que se tinha acesso voltando à direita do portão de ferro.

Um pequeno corredor, dava acesso à cozinha e uma escada para a falsa (sótão), onde podíamos brincar a-vontade.

Nesta "falsa" ainda existia o quarto da criadagem feminina, que dava acesso a essa janela em cima, e do lado oposto, uma outra janela igual, dava acesso à oficina de meu avô, com todas as ferramentas a que ele tinha acesso, como carpintaria, torno mecânico, fotografia, caça, tipografia, forja, etc. etc. Era aqui que ele "fabricava" os tacos e bolas para o jogo do crocket e fazia os brinquedos que nos ofereciam pelo Natal, e onde aprendi a manusear as ferramentas.


Quando se tem a sorte de atingir a bonita idade dos 80, como graças a Deus, me aconteceu, olha-se com grande saudade, pelo menos 70 anos atrás, quando ainda, de calções, estava na Instrução Primária...a ouvir com todo o cuidado, as explicações do meu saudoso professor, Sr. Santos. E foi ele que me deu as primeiras informações das comunicações via rádio. Como aquilo me espantava e a meu irmão Carlos Mar !!!

Ele possuía um dos primeiros rádios alimentados por uma grande caixa de pilhas, mas estava avariado e um dia nos perguntou, se o gostaríamos de possuir mesmo assim, e nesse mesmo dia, entusiasmadíssimos, o fomos buscar.


Eu carreguei com as pesadíssimas pilhas, enquanto meu irmão se ia deliciando a olhar os seus "intestinos", aquelas brilhantes válvulas, as bobines e condensadores variáveis... Nunca havíamos visto um rádio, aquela máquina estranha, que captava estações de rádio a muitos milhares de quilómetros, e meu avô, mal chegámos a casa, nos pôs a desmontar pilha a pilha, e a limparmos os bornes. Depois ele atestou cada vaso com líquidos "especiais" e ao voltar a ligar a maquina, ela começou logo a funcionar ! Que maravilha...tantas centenas de estações a fazerem pio,pio,pio (telegrafia) e outras com noticias e música.

Naturalmente, no dia seguinte, logo fomos informar o professor Santos, de que a máquina já estava a funcionar e aí eles nos explicou como deveríamos fazer uma grande antena, e até nos ofertou uma folhinha de papel, com uma data de risquinhos e pontinhos, que ele dizia ser o código de Morse, aqueles pios,pios, pios, que se ouviam aos milhares. Meu irmão, mais velho do que eu 3 anos, logo a agarrou e fomos construir, com a ajuda de meu avô, duas "chaves de Morse", para podermos "falar" um com o outro à distância duma centena de metros . Estávamos lançados na rádio !!!

Mas, ao relembrar esta remota época, vem-me à ideia o porquê de ele, meu avô, ter escolhido os Ginetes para viver, quando era um médico madeirense e ainda por cima, naquele sítio; foi muito bem escolhido !

Ele tinha estado a viver uns tempos, no lado Norte da Ilha, na Maia, mas aquilo lhe dava imenso trabalho e poucos proventos. Assim, resolveu um dia, dar uma volta a oeste da ilha, no seu "char-a-banc", porque estava uma vaga aberta de médico, naquelas zonas. Assim, percorreu todo o lado Oeste, até aos Mosteiros, onde um retornado emigrante lhe disse que o melhor seria escolher os Ginetes, porque ficava no centro de todas as freguesias. E assim aconteceu.

A freguesia dos Ginetes, talvez seja das muito poucas em S. Miguel, que não tem vista para o mar, o longo mar do Oceano Atlântico . Ela está implantada num grande vale de vários hectares, com muitos terrenos de cultivo de milho e naquele tempo, na minha rua, só existia a "casa cor-de-rosa" e mais adiante, a do meu tio Assis, do mesmo lado. Na foto baixo, só se consegue ver uma parte da realidade e ela foi tirada de cima do grande morro, que separar os Ginetes, do Oceano Atlântico.



Por todos os lados, eram terrenos separados por combros, de vários donos, onde as parelhas de bois, lentamente mas possantemente, iam puxando os arados que reviravam a terra fofa , enquanto os estorninhos ávidos de minhocas, esvoaçavam alegremente aos pés dos lavradores, sempre a mudar de sítio, na procura das grandes minhocas que eram postas a descoberto pelo arado. Eles eram aos milhares, muito parecidos com melros pretos, mas não cantavam nem ninguém lhes fazia mal.

Aqui e mais além, outras belas casas só serviam para férias de verão, de pessoas mais abastadas de Ponta Delgada, que também encontraram nos Ginetes a terra ideal, para as suas férias e alguns eram donos daqueles terrenos de cultivo, onde o milho alcançava mais de 2 metros de altura, com 3 e 4 massarocas enormes em cada pé. Para que cada pé conseguisse aguentar tal peso, tinham o diâmetro dum pulso de adulto, e estavam todos dispostos por forma a que se pudesse andar por entre eles, como numa floresta cheia de árvores... e nós corríamos entre eles, miúdos, mas ficando com a cara toda arranhada pelas folhas... quando não descascávamos um pé, para chupar, como se de uma enorme banana se tratasse... e se aquilo era doce...mais parecia "cana de açúcar".



Pela altura da sua apanha, o operariado ia arrancando as massarocas e transportando-as para um carro de bois, dotado de sebe alta. Depois eram descarregadas junto duma armação, chamada Granel, e se tirava só parte da folhagem, que era "rasgada" ao meio, com um grande prego aguçado, e se pendurava no granel, onde ficava todo o ano, à chuva e ao Sol. Durante o ano, as mais secas eram totalmente despidas do resto da sua folhagem, para serem debulhadas. O seu milho era então levado às moagens para serem transformado em farinha.

Julgo que ainda hoje, por ser tão fértil este milho, quase só existe o enorme pão de milho e aqueles pãezinhos em que se misturava açúcar e eram a nossa alegria.

Por isso, o granel teria de ter uma forma cónica e as massarocas faziam de telhas.

Um destes visitantes, o José Manuel Raposo, deve ser o actual dono da "casa cor-de-rosa" e ele tinha de tudo o que era bom, incluindo umas belas espingardas de ar comprimido, que nos emprestava, de tempos a tempos, e foi com ela, que tanto eu como meu irmão Carlos Mar, aprendemos a fazer a pontaria e disparar. E se ele era bom naquilo !



No seu "char-a-banc", quase todos os dias, ora para nascente, Candelária ou Feteiras, ou para poente, Várzea , Mosteiros e Lagoa das 7 Cidades, lá ia meu avô , troc,troc,troc, ver os seus doentes.

Embora o "Char-a-banc" (carro com bancos) de meu avô, só tivesse duas rodas. Sem a capota, também podia levar umas 6 pessoas, frente a frente, como aqui, em que as pessoas entravam por uma portinhola na traseira, e lá se iam assentando de forma a que o máximo peso, caísse sobre o rodado do carro. Era como nos


aviões, em que os pesos são distribuídos de forma a manter o veiculo bem equilibrado.

A "casa cor-de-rosa" estava realmente muito bem assente no meio daquele vale, mas o seu dono, seu amigo Chalupa, nunca vendeu o terreno a meu avô. Assim, a casa estava feita em terreno alheio, mas ele não teve outra escolha ! As pessoas daqueles tempos, eram muito agarradas às suas coisas e às suas memórias.

E não se vê o mar, porque existe uma montanha entre o extenso vale e ele, montanha que mais parece um enorme ginete (cavalo) deitado. Talvez por isso, a freguesia teria ficado chamada de Ginetes, mas há muita confusão sobre a palavra.

Como a "casa cor-de-rosa" está, uma grande parte do tempo, sem ninguém, ela serviu durante algum tempo à Junta de Freguesia, e a sua parte debaixo, esteve a ser usada pelos escuteiros do sítio, o agrupamento 1065 e, à sua frente, a Escola Carlos Bettencourt Leça (meu avô), que lecciona até ao 9º ano, toda a juventude, desde os Mosteiros às Feteiras, e 7 Cidades. Depois de tantos anos, continua a ser o centro nevrálgico de toda aquela zona.

Neste subterrâneo, podem ver-se e apalpar-se os milhares de blocos de pedra dos alicerces, como se, de enormes tijolos se tratassem.

Quando em 1900, a terra foi agitada com a chegada de meu avô, também lá apareceu um seu amigo íntimo, pessoa robusta, vinda da Maia, e que era o farmacêutico, o Sr. Moniz, pelo que a «Pharmácia» passou a ser não só para medicamentos, mas também Central dos Correios e uns anos depois, de telefone, o único que lá existia, em 1936. Era ao mesmo tempo, o sítio onde se reuniam para boas conversas, as pessoas mais gradas da terra.

Este Sr. Moniz, foi o pai duma distinta família Vargas Moniz, onde 4 filhos, eram visitas habituais da nossa casa, e amigos íntimos da mocidade da minha mãe. A sua morte prematura, com 48 anos, fez com que a sua família, se tivesse de ir embora dos Ginetes, para a Ribeira Grande, passando por Ponta Delgada, mas ao passar o cortejo fúnebre em frente ao Liceu, os cavalos estancaram e dali não queriam sair... Essa situação estranha, foi interpretada como um chamamento Divino, para que os filhos se interessassem pelos estudos, o que foi conseguido, pelas gerações seguintes e até hoje. Só por curiosidade, um dos bisnetos deste "Pharmaceutico" Moniz, hoje Eng. Químico em Almada, Jorge Vargas Moniz, ao descobrir estas histórias do meu Blog, se tem mostrado interessadíssimo em conhecer toda a sua família de então, e o ambiente que então se vivia.

Um destes 4 filhos, o Rogério Vargas Moniz, chegou a Director Técnico do Arsenal do Alfeite, e que deu origem neste Blogue, ao artigo "Meu amigo Eng. Rogério Vargas Moniz", publicado em 25/3/2007, e outro irmão, o Jacinto Vargas Moniz, um importante médico obstétrico em Lisboa.

A freguesia dos Ginetes é ladeada de enormes e profundas GROTAS, impenetráveis, devido à imensa vegetação, lugares paradisíacos, onde a mão do homem só lá tem entrado, para ajudar a admirar a sua beleza !

A nossa televisão, a TVI, tem aproveitado a sua estadia em S. Miguel, onde filmou uma tele-novela a que deu o nome de "Ilha dos Amores", muito bem feita e interpretada genialmente por muitos artistas do Continente. Talvez que a "Mariana" tenha estado aqui, descalça e alegre, nesta grota, tomando banho.

Como já referi, a "casa cor-de-rosa" tem um subterrâneo a toda a extensão da casa, embora com uma parede de reforço central, e que só tinha entrada pela cozinha, onde um alçapão se retirava e umas escadas davam acesso ao seu fundo. Na minha época, como não havia luz eléctrica, aquilo era escuro como breu. A luz da rua, só lá entrava, por uns pequenos gradeamentos laterais, ao nível da rua, só para manter um certo arejamento. Achei muita graça que a minha prima me tivesse aludido que o agrupamento dos Escuteiros 1065, de que ela faz parte, lá estivesse a usar este enorme salão, certamente com jogos e outras actividades, tudo bem iluminado, agora electricamente, e limpo, mas sem qualquer luz da rua. Nesta altura, já a casa está novamente devoluta, porque a Junta de Freguesia e os Escuteiros, arranjaram casa noutro sitio.

Para se ter de lá entrar, tinham de usar a porta que era da cozinha para a rua, onde está a escadaria de pedra, tendo sido fechada, certamente, a porta que dá acesso à casa "cor-de-rosa", propriamente dita.

Eles agora lhe chamam "cave", mas há 80 anos, aquilo se chamava "subterrâneo" e, só não íamos todos para lá brincar, porque aquilo até metia medo de escuro e tinha muitas teias de aranha... mas ainda me lembro de ter lá encontrado um baú velho e de onde arranquei a tampa, para fazer de barco, no enorme tanque de lavar a roupa ! E se aquilo me dava gozo ! Era o meu "navio" , embora me deixasse o rabo todo molhado...

Tinha eu uns 6 ou 7 anos...

Foi uns anos antes desta fotografia.

Em frente à "casa cor-de-rosa" está-se a abrir, perpendicularmente, um rua, onde irá ficar o Corpo de Bombeiros. Já estou mesmo a ver; quando o quartel dos Bombeiros lá estiver, mesmo em frente à "minha casa", quando houver toque a rebate...nunca mais haverá lá, quem pregue o olho, e lá se vai o silêncio idílico dos Ginetes... Progressos ...hi hi hi

Como os Ginetes estão mudados !


Escrito por Engenhocando em 2007/06/22 às 15:01:17

UM CASO PARA PENSAR...


O aparecimento das lâmpadas economizadoras, a gás, veio a despertar-me, assim como a toda a gente, certamente, um certo entusiasmo.

No entanto, o seu preço estava tão elevado, que levou muito tempo até que viesse a comprar uma, por a ter encontrado numa loja dos Chineses, bastante mais barata…

Mas, ao contrário do que estava à espera, pelo menos esta que comprei, não me deixou em nada entusiasmado, porque a sua branco/azulada cor, não me era nada agradável à vista…e assim, foi guardada de lado, durante muito tempo.

Eu já sabia que todas as chamadas Fontes Comutadas, como é a que os fabricantes estão a usar, e tal como todas as fontes actuais e usadas nos computadores, TV , Videotapes, CD, etc. irradiam de forma mais ou menos intensa, a sua frequência de trabalho e que, usando frequências que o ouvido humano não pode ouvir, por estarem além do máximo, que anda pelos 15000 Hz, têm a vantagem de poder usar elementos electrónicos de muito reduzias dimensões.

Mas aqui há pouco tempo, como gosto muito de ler deitado na cama, logo após ao pequeno almoço, ali muito confortavelmente instalado, desde há muitos anos que tenho sido iluminado por uma lâmpada vulgar de 25W, porque a luz chega e até sobra, porque ela está a um palmo da minha cabeça, e fixada às costas da cama, no seu alçado.

Acontece porém, que a vinda do calor, este ano, me começou a desagradar o calor desta lâmpada vulgar de filamento de tungsténio, e pensei que estaria na hora de ir experimentar a lâmpada de gás, de 8W, com aquela luz fria e assim fiz.

Ainda não sei porquê, até porque a véspera tinha sido passada exactamente da mesma forma que todos os outros dias, mas o que é certo é que acordei às duas da madrugada e sem sono nenhum, coisa que me é muito rara.

Assim, acendi novamente a luz e estive a ler uma meia hora, até que a apaguei e voltei a apanhar o fugidio sono..

Mas aqui começou o meu martírio !

De imediato, apareceram pesadelos terríveis e extremamente confusos, tendo a sensação de que estava atacado da doença de Alzheimer, pois já nem sabia o porquê de estar ali em terras tão estranhas, com gente totalmente desconhecida, num ambiente de pobreza extrema, com muita porcaria à minha volta…

Eu tinha a consciência de que me queria dirigir para Lisboa…quando vivo em Benavente… mas quando perguntei a umas pessoas presentes, elas me disseram que estava muito longe de Lisboa e nem transporte para lá tinha…

Passados tantos dias, ainda esses sonhos me estão presentes e sou capaz de os descrever com minúcia, coisa que não me era nada habitual.

Como, no pesadelo, ninguém me conseguia orientar, entrei numa tasca horrenda, onde me dirigi ao taberneiro, pessoa muito magra e de barba por fazer, com cara de drogado … e lhe perguntei se teria um mapa da região, para me poder orientar e ele me disse que sim, pelo que foi buscar um escadote e marinhou a um pequeno sótão cheio de lixo e de lá me trouxe uns papeis tão velhos e cheios de pó, que nada entendia…

Quando saio à porta, vejo água, muita água e perguntei o que era aquilo, ao que me disseram ser o Rio Tejo.

Bom, pensei eu, só tenho de ir por aqui abaixo a pé por entre estes barrancos, túneis e lama, até encontrar algum caminho onde pudesse pedir boleia.

Dos túneis muito escuros, pingavaa água, por onde eu corria, mas não me levavam a sítio algum…aquilo era um inferno !

Finalmente, depois de muita confusão, eu ainda sabia que tinha algum dinheiro na algibeira e ao tentar ir a correr à procura de um carro que vira ao longe, acordei…

Irra, figas diabo…mas que bruto pesadelo e mais surpreendido fiquei ao olhar o relógio, pois eram 10 da manhã, ao contrário das 7 que me é ususal ! Assim, tinha estado 6 horas naquele sofrimento !

Mas que diabo me teria acontecido ?

A única coisa de diferente, em muitos anos, tinha sido o uso da lâmpada e vai de ir estudá-la.

Pego nela e levo-a para o meu pequeno “laboratório”, onde a acendo e aproximo um contador de frequência que logo dispara para cerca dos 33.943 Hz, conforme se pode ver pela imagem que se segue !


Como seria possível tanta potência naquela nota supersónica, que me esteve a “bombardear” o cérebro naquela meia hora , antes de tentar adormecer ???!
Só podia ser daquilo, até porque muita gente sente náuseas, vómitos e dores de cabeça, ao estar na presença de um apito supersónico, como acontece a algumas pessoas, com o apitar dos transformadores de linhas de certos televisores, que funcionam e irradiam à frequência de 15725 Hz.

Felizmente que ninguém encosta a cabeça aos televisores, senão bem poderiam vomitar as tripas, sem saber o porquê e verem-se cheias de dores de cabeça, também sem saberem o porquê…

Mas eu tinha estado com a cabeça a menos de um palmo daquele “gerador” de 33.943Hz …frequência mais ou menos variante entre 30.000 e 40.000Hz, consoante as lâmpadas …

E vai de pensar em experimentar algo mais com aquela lâmpada.

Como disponho de um detector de raios Alfa, Beta e Gama, coloquei-o ao pé durante 24 horas, mas ele não se moveu. Assim, a emissão de raios-x, poderia ser posta de parte, pelo menos para a sensibilidade do instrumento que o fim de escala, só indica 150 mR, sendo R a unidade Roentgen, e é a intensidade de raios-x que uma pessoa apanha ao fazer uma radiografia ao tórax, a uma mão e outros sítios.





Nesse mesmo dia, tendo encontrado na NET, via MSN, o meu colega e amigo, António Pinto, CT1UT, que possui um receptor que pode receber esta frequência e até mais baixas, um ICOM ICR-70, que até tem uma entrada de antena para baixas frequências, LOWBAND, e logo o pus ao corrente do facto e ele, de imediato, ligou o rádio e com um palmo de fio ligado à sua entrada de antena, que tem borne apropriado, colocou o comutador de antena para LOW BAND, e logo verificou um sinal muito forte, de fundo de escala aquela frequência.



Como é óbvio, ficou intrigadíssimo e foi experimentar outras lâmpadas que já tinha em casa e até se lembrando de que sua esposa há vários dias se estava a sentir muito incomodada com imensas dores de cabeça e as já referidas tonturas, náuseas, etc.

A sua esposa até estava a ler e costurar à luz deste tipo de lâmpadas, colocadas a cerca de meio metro da sua cabeça.

De imediato, o colega Pinto foi retirar aquelas lâmpadas e a sua esposa logo começou a sentir-me muito melhorada.

Uns dias depois destas experiência, tive de visita uma senhora de meia idade que se estava a queixar de tremendas dores de cabeça, às tantas da noite e madrugada, com muita agonia, tonturas e vómitos, pesadelos incríveis, e não encontrava explicação para aquilo.

Vai daí eu lhe perguntar se por acaso, ela não estaria a usar uma lâmpada de gás, por perto, ao que ela logo me confirmou e mais, dizia que ficava tão incomodada, que até chegava a voltar ao sono, mas com terríveis sonhos sem pés nem cabeça…e até dormia sem desligar a “malvada” lâmpada…tal era o seu transtorno cerebral !

Deste facto insólito, não se vê qualquer informação , pelo que é muito possível que esteja a haver muita gente a ser “bombardeada” com estas terríveis ondas supersónicas e certamente que nem os médicos saberão do que se trata ainda, por serem lâmpadas que só agora se estão a tornar populares, e ao que parece, para ficarem.

Na realidade, tecnicamente, os 220Vac da rede, entram nelas e põem a oscilar um gerador miniatura, para que se consiga obter a tensão necessária à ignição das lâmpadas de gás. É exactamente este oscilador gerador que irradia aquela frequência supersónica que o nosso ouvido não pode ouvir, mas o nosso cérebro, parece que sente, e bem !.



Uma Fonte de alimentação de computador, sem a tampa, também mostra uma frequência supersónica e que se mostrou ser 31.625 Hz. Mas felizmente, para os utentes dos computadores, como é fechada e completamente blindada, não irradia nada.

O que se acabou de descrever, não quer dizer que a proximidade destas lâmpadas, em qualquer outra parte do nosso corpo, não possa melhorar ou até curar outros padecimentos, como ficou descrito no artigo " A magia das ondas de rádio" , publicado em Setembro de 2006, até porque só atingindo a temperatura de morno e ser muito barato de adquirir, não custa nada experimentar.

Mas fugir sim, de a aplicar na cabeça, à hora de dormir.


Escrito por Engenhocando em 2007/06/15 às 13:36:34

O MILAGRE DO « Snoopy »



A história verídica que se segue, foi-me descrita por um amigo que muito admiro e conservo há mais de 40 anos, Amilcar Carlos, um apaixonado pelas ciências, pela música e pelos animais. Quando ainda na Escola Primária e, durante alguns anos, teve vários e complexos problemas respiratórios, mas tudo conseguiu superar, embora ainda hoje considere ter havido uma certa "magia" na sua cura...

Ele sempre viveu no Algarve, em Faro e vim encontrá-lo, como radioamador, com indicativo CT1TO, em 1968. Desde aí, nunca mais nos separámos e sempre fomos bons amigos, embora nem sempre estejamos de acordo nos assuntos versados.

O Editor : Mário Faria (CT1DT) e-mail: ct1dt@sapo.pt









Amilcar Cerina Padesca Carlos, hoje com 60 anos.


Aqui vai o seu admirável escrito, transbordando de amor pelo seu cãozinho.


Isto aconteceu há uns 5 anos.
Uma tarde, após chegar da praia e já em casa, o cão muito encalorado dirigiu-se logo para a cozinha onde tinha o bebedor com água; notei então que o bichinho estava numa aflição e há mais de 5 minutos a tentar beber água e não o conseguia. Toda a noite foi um desassossego com ele a tentar beber e nem com a nossa ajuda conseguia.

Ao fim do 3º dia e a notar que ele estava a ficar muito magro e debilitado, verifiquei que ele não conseguia fechar o maxilar nem deglutir, portanto, nem líquidos nem alimentos.




"SNOOPY" o meu adorado cão.

Fomos ao veterinário e após radiografias, análises e mais estudos veio o veredicto: inflamação nos trigémeos. Normalmente após a cura o nervo fica afectado e não volta a comandar o maxilar; portanto na opinião dele o melhor seria abater o animal porque iria sofrer bastante e não havia cura.
Ele estava com 2 ou 3 anos e nós já o adorávamos; viemos para casa muito desanimados e nessa noite dei por mim abraçado à Paula ambos a chorar com tão más perspectivas.

Tomámos a resolução de o internar num hospital veterinário e o alimentar a soro enquanto não decidíamos o que fazer (a Paula buscava incessantemente na Internet mais informação acerca da doença dele) .... A veterinária que o acolheu era uma moça nova muito linda e simpática e fiquei com muito boa impressão dela e pedi-lhe para fazer tudo para salvar o animal.

Todas os dias de manhã e à tarde (nas horas permitidas das visitas),íamos buscá-lo para o levar a passear num campo relvado que ele muito adorava e estava habituado e, lá andava eu com um frasco de soro na mão para o alimentar pelo tubo, e ele a andar com dificuldade pelos caminhos que dantes o fazia em alegre correria e sempre aos saltos por cima das ervas e flores para não as machucar, coisa que as pessoas sempre admiravam.
Aliás ele sempre foi o "ai Jesus" de quem o via pois além de bonito mais parece um borreguinho saltitão e na praia a perseguir as motas de água e os windsurfs é sempre filmado pelos turistas e ainda hoje o é. Curiosamente há tempos, num monte alentejano um pastor queria trocá-lo por dois borreguinhos; « Nem por todo o rebanho», disse-lhe eu ...

Bem, para ajudar a veterinária que fazia por ele o que podia, fui à net pesquisar a maleita e então recebi um feed-back duma universidade de S. Paulo que entreguei à médica e avançamos com o tratamento.

Isto durou cerca de 1 mês; depois de acabado o tratamento teve alta e veio para casa entubado e alimentávamo-lo com uma espécie de papa muita liquida com uma seringa, através do tubo cosido no focinho; ainda hoje tem as marcas dos pontos.

Um dia, talvez depois de cerca de 3 meses deste tratamento, e já sem esperanças de recuperação, ao visitar uma senhora amiga, nova, angolana e muito bonita, que lhe passou uma mão sobre o corpo várias vezes e sempre, ao que parecia, rezando uma lenga-lenga estranha, às tantas colocou no chão o Snoopy e, enquanto conversávamos, na sala ao lado, ouvi um barulho e fui espreitar; e lá estava ele todo em esforço e a tentar comer a comida dos gatos dela...esticava-se todo e muito furioso por não poder mastigar... então reparei que ele, naquele preciso momento, começou a beber a água do recipiente dos gatos da senhora e a comer furiosamente a ração deles...
Era difícil de calcular a nossa alegria... Chegados a casa, ele atirou-se logo para o leite, água e ração que lhe deitei no comedor e sofregamente tudo comeu !

Peguei nele e todo contente levei-o à clínica, onde a tal linda veterinária lhe retirou o tubo e fizemos uma festa pela cura; ela confessou-me que nunca acreditou muito na cura pois normalmente isto é irreversível e tem de se abater os animais.
A tal senhora, onde se deu o "milagre" dele começar a comer, está convencida de ter sido mesmo um milagre pois ela estava a rezar por ele para que se curasse e, naquele preciso momento!

Sempre que recordo o episódio, fico com os cabelos em pé....
Bem se pode calcular a nossa alegria e a partir daí, talvez agradecido, ele segue-me como uma sombra por onde quer que eu esteja (por vezes e, quando passamos junto à clínica agarra-se a mim com as patinhas e todo ele treme como varas verdes) mas tem sido um companheirão o que por vezes até é demais e faz-me transtorno, especialmente quando vou a sítios onde ele não pode entrar, por causa das novas "leis" de agora, tão restritivas para os animais...

Escrito por Engenhocando em 2007/05/28 às 15:12:41

E AS DORES FORAM-SE EM 15 MINUTOS


De médico e de louco, todos temos um pouco (II)

Estávamos em 1970, quando trouxemos para a nossa companhia, uma avó da minha esposa, a D. Rosa, porque estava sozinha e muito aflita com dores no centro das costas e já há muito tempo.

O seu médico, Dr. Alves Ventura, já a conhecia desde há mais de 30 anos e sabia que os analgésicos, lhe davam cabo do estômago e, por isso, não lhe podia fazer mais nada. E, pior, como sabia que ela tinha bons pulmões e coração, iria ter sempre, muito tempo de dores para aturar...

Aquilo era demais para mim, ver a pobre velhota de 87 anos, rebolar-se com dores e em todas as posições !

Esta D.Rosa, já trazia com ela e desde há muitos anos, mais de 30, um grande padecimento de violentas dores de cabeça e imensa prisão de ventre, e o seu médico só lhe dava analgésicos.

Um dia, um seu sobrinho, que estava no fim do seu curso de medicina, o Dr. José Isidro dos Santos, numa visita de cortesia que lhe fez e vendo-a assim tão aflita, resolveu pô-la a café com leite e pão integral, durante uns dias, pensando que poderia haver rejeição às carnes e peixes, aos assados e refogados, etc.

Só que a boa senhora, sentindo-se muito aliviada dos seus padecimentos, nunca mais se alimentou de outra comida, a não ser alguma fruta, e sopa, e, para toda a sua longa vida... embora sob protestos do seu sobrinho José, que sempre a informava de que deveria alimentar-se de outras comidas, o que nunca conseguiu...

Um dia, de contacto via rádio, com um velho médico do Cartaxo, Dr. Fragoso de Almeida, que tinha o indicativo de CT1PK, como radioamador, de quem era muito amigo, perguntei-lhe se as ondas de rádio não poderiam aliviar a velhota das suas dores, mas ele me disse que, com aquela avançada idade, ela deveria estar cheia de "bicos de papagaio" por toda a coluna, mas se não melhorassem, também não lhe faria mal.

Como a minha vida sempre foi dedicada à electrónica, lá me resolvi construir um pequeno gerador de ondas de rádio e fui, mais a minha mulher, arrancar a velhota da cama, onde ela se encontrava toda encolhida e a colocámos numa cama que tínhamos no outro extremo da casa, à laia de marquesa.

A minha ideia, era fazer uma "coisa" que ligada ao gerador, obrigasse o corpo da velhota a "chupar" aquelas ondas, como se tratasse dum "mata-borrão". Ou seja; o corpo dela, deveria fazer parte do gerador, pelo menos no sítio onde mais lhe doía. Eu já havia lido muitas coisas sobre a fisioterapia por Ondas Curtas, em obras de 1939 e 1953, e o assunto muito me aliciava.

Ela se queixava do meio das costas e realmente lá tinha um inchaço com mais de 15 centímetros de extensão, que lhe apanhava várias vértebras e que muito lhe doía, ao tocar-se. Por isso, nem se podia assentar em lado algum, com as costas encostadas, nem mesmo sobre almofadas.... Aquilo era demais !

Assim, coloquei-lhe a "coisa", uma placa especial, por mim desenhada e construída, que mais parecia um livro de cheques, sobre a zona dolorosa e observando se o corpo estaria a "absorver" bem aquelas ondas geradas, e recomendei à senhora, que só deveria sentir uma ligeira temperatura, o que veio a acontecer uns minutos depois. Antes que aquecesse demais, diminuí, de imediato, a potência para cerca de 10 Watts.

No fim de 15 minutos, retirei a "placa" e, quando íamos a pegar a velhota, para a voltar a levar ao colo, para o seu quarto, ela sacudiu-nos as mãos e sem necessitar de qualquer ajuda, assentou-se na cama, levantou-se direita e com grande sorriso estampado na sua enrugada face, disse, que só podia ser milagre, pois as dores tinham desaparecido !

Olhei, estupefacto, para minha mulher que também não conseguia entender o que se estava a passar e lá vimos a velhota a ir por seu pé, pelo corredor fora, indo-se assentar num cadeirão do seu quarto, pegando numa renda e começando logo a trabalhá-la, enquanto continuava a dizer baixinho, "isto só pode ser milagre, só milagre !" .

"Agora sim..." dizia ela, "até já me posso encostar sem dor alguma "... e assim ficou todo o dia.

Aquilo era demais para o meu entendimento e no fim do dia, voltei a contactar o médico, pela rádio, contando-lhe o acontecido, mas que eu pensava ser "fita" da senhora, talvez por se sentir mais acompanhada e acariciada.

Aí, o Dr. Fragoso logo me ensinou que ninguém se queixa, sem razão e que ela tinha reagido muito bem àquela sessão de ondas de rádio, pelo que estava de parabéns.

No dia seguinte, fui convidar a idosa senhora, para a continuação do tratamento, a que ela logo se propôs, mas logo acrescentando que se ficasse assim como estava, já estava muito feliz e, mesmo sem ajuda alguma lá se veio deitar, sozinha, na marquesa para nova sessão.

Logo de imediato, constatei que não havia vestígios do inchaço que ela tinha na véspera, e comprimindo com um dedo, todas as vértebras da cabeça à zona sacro-iliaca, a velhota não acusava dor alguma, mas mesmo assim, repeti a exposição às ondas de rádio e por ali ficou, pois nunca mais necessitou de novas sessões, só vindo a falecer 15 anos depois, já com 95 anos.

Lembrei-me agora desta história, por ter lido nas Selecções do Reader's Digest de Junho deste ano de 2007, um artigo muito interessante sobre o ataque à dor, intitulado "Porquê têm eles de sofrer ?" e onde pude constatar que modernamente, se estão a usar em Portugal, as Ondas de Radio para tratamento, pelas mãos do Dr. Alexandre Teixeira, na sua clínica privada.

Escrito por Engenhocando em 2007/05/25 às 11:04:41

UM ENFERMEIRO em miniatura


Episódio "1"


A maravilhosa Lagoa das Sete Cidades, na ilha de S.Miguel, nos Açores, poderá parecer, a quem nunca lá esteve, de que será um charco rodeado de montanhas, mas observando bem esta foto, logo se pode constatar pelo casario à esquerda, de que tem uma dimensão enormíssima, de quilómetros quadrados, e se trata dum enorme vulcão extinto há centenas de anos ! Como a água das chuvas, não tinham por onde sair, assim se formou e enorme e lindissima lagoa.

Quando eu era miúdo, e por morar a uns quilómetros de distância, fui lá várias vezes e em todas elas, ao chegar-se ao cume das montanhas, sempre me impressionei com a extraordinária visão daquele Paraíso lá em baixo a mais de 300 metros de profundidade !

Mas em 1936, quando eu ainda andava na Escola Primária, todas as vezes que chovia demasiado, o nível da lagoa subia de tal forma, que imensas casas ficavam submersas. Foi nesta altura, que o Governo Português, resolveu lá fazer um túnel de descarga, com várias centenas de metros de comprimento, fazendo a sua saída na falésia Oeste, perto da freguesia dos Mosteiros, freguesia esta muito dedicada à pesca e que meu avô tinha de visitar todas as semanas para assistência médica.

Assim, o escoamento da lagoa, passou a dar-se para o Oceano Atlântico, umas centenas de metros mais abaixo.

Julgo que este túnel, deve ter sido o primeiro efectuado em S.Miguel, e conforme se ia escavando o seu interior, alguns operários se faziam transportar por vagonetas assentes numa minúscula linha férrea que se ia montando no decorrer das perfurações.

Aquilo era um trabalho violento, por ser rocha vulcânica, muito dura e onde se gastaram montões de explosivos, mas se bem me lembro, só houve poucos acidentes graves e eu, que tinha 10 anos, acompanhei meu avô, médico, que vivia na freguesia dos Ginetes, e se chamava Carlos Bettencourt Leça, a ver os acidentados.

Um dia, um dos operários metidos numa destas vagonetes, a caminho do fundo do túnel, esqueceu-se de tirar uma mão do bordo que ia à frente, e foi ficar com ela completamente esborrachada, de encontro a uma vagoneta que estava parada e se estava a carregar.

Eu estava em casa, nos Ginetes e como sempre me senti muito atraído pela medicina e nada me metia confusão, nem nojo nem repulsa, fui chamado por meu avô, que nunca teve enfermeiro, para o ajudar a decepar e laquear as artérias e veias do pulso, antes que aquilo gangrenasse...

Eu adorava a companhia daquele velho e era o único dos seus 7 netos, que andava sempre por perto dele, tentando ajudar no que fosse preciso, e ele aproveitava este meu feitio e curiosidade, sempre que havia necessidade, afagando-me, sorridente, o meu encaracolado cabelo, no fim dos trabalhos de enfermagem.
Talvez estivesse a pensar que mais tarde, eu também poderia vir a ser médico, o que não veio a acontecer por falta de condições financeiras, mas o amor e curiosidade pela medicina, me têm acompanhado pela vida fora, e assim continua, aos 80 anos.


Naquela época, as pessoas atingidas por problemas extremamente graves, eram transportados deitadas, numa carroça, como fardos de palha, algumas com as pernas penduradas de fora, para o Hospital da cidade de Ponta Delgada, porque não havia ambulâncias, o que muito amargurava meu avô, por saber que alguns deles chegariam mortos à cidade, e a única coisa que podia fazer, era injectar-lhes fortes analgésicos, para minorar o seu sofrimento, durante as viagens.

Aquele operário da Lagoa das Sete Cidades, podia, com a minha ajuda, ser operado nos Ginetes e assim aconteceu, como enfermeiro miniatura.

Depois das injecções de analgésico à volta do pulso, começou a operação da separação dos ossos esmagados e da sutura das artérias que não paravam de fazer jorrar sangue para cima de nós dois, embora eu tentasse enxugar com algodão, mas passada uma meia hora, já estava a mão separada do corpo, e deixada cair num balde que estava por baixo, coisa que muito arrepiou e, por isso, nunca mais esqueci... Era uma horrível mão cadavérica !

Depois de muita água oxigenada e tintura de iodo, o coto foi envolvido em gaze e ligadura, e o operário lá se foi embora, com a cara mais amargurada deste mundo...mas compreendendo que se não fosse decepada a mão, a gangrena surgiria e teria sido bem pior. Pelo menos, já ia sem as terríveis dores...

Mas o túnel das Sete Cidades, que agora é um ponto crucial de visita para todos os turistas que visitam a Lagoa, teve mais alguns tristes episódios.



É depois desta pequena ponte, que se encontra a entrada do tùnel referido e que se encontra repleto de florida e aromática vegetação, aliás, como é toda a ilha de S.Miguel.

Entretanto, com a abertura do túnel, nunca mais houve cheias devastadoras na Lagoa e a freguesia aumentou consideravelmente, com milhares de casas de campo das pessoas mais endinheiradas de S.Miguel e até estrangeiros que se vergam perante tanta beleza da Natureza, além dos açorianos que passaram a lá viver !

Actualmente já é muito fácil viajar dentro da ilha e o acesso à Lagoa das Sete Cidades, foi muita facilitada, em especial devido ao interesse do açoriano Alberto dos Reis Leça, Vereador da Câmaa Municipal de Ponta Delagada, por acaso meu primo direito, que sempre lá viveu e se tem destacado na melhoria de todos os acessos a esta região Oeste da ilha de S.Miguel.


Alberto dos Reis Leça - 2006


Escrito por Engenhocando em 2007/05/18 às 11:42:09

DE MÉDICO E DE LOUCO, TODOS TEMOS UM POUCO...


Quando em 1976 a empresa onde eu trabalhava, começou a chamar os funcionários para inspecção médica no seu Centro de Saúde da Gloria, em Marinhais, fomos encontrar um exame clínico que nos estava a atormentar a todos, e de que maneira...

Esse exame, além das medidas de tensão arterial e força muscular manual, era completado pelo assoprar num balão cilindrico, cromado, e devia fazer subir uma vareta pelo topo, graduada em litros de ar expelido pelos nossos pulmões. Aquilo se chama "Espirómetro"...

O exame de força muscular manual, era feito com uma espécie de alicate com uma mola fortíssima e que, ao apertar, marcava a força exercida. Ainda me recordo que nesta medida, eu era um espectáculo ! Quase partia o alicate, embora ficasse com a mão a doer... !

Mas, em cada ano que se passava, mesmo sem darmos fé de falta de "capacidade vital", o que é certo é que a vareta cada vez indicava menos ar ou, era o mesmo que se dizer, que estávamos a ficar secos por dentro...

Aquilo estava a amargurar toda a malta, e de que maneira !

A resposta do enfermeiro era sempre a mesma: «Os senhores estão a envelhecer com enfisemas pulmonares a agravarem-se e têm de ter mais cuidado com o ambiente onde vivem, em especial com o tabaco».

Aquilo não me estava a agradar mesmo nada, porque estava a perder cerca de meio litro por ano e daí a poucos anos, estaria sem "fole" nenhum; estaria morto.... Aquele aparelho não podia estar a funcionar correctamente e o pior, é que os dados estavam a ser inseridos nas nossas fichas clínicas como autênticas "certidões de óbito" prematuras...

Assim, resolvi pensar no que estaria dentro daquele tambor cromado e que só poderia ser um fole, parecido com os das máquinas fotográficas antigas e que, perante o assopro, se distenderia para cima, empurrando a referida vareta que teria de subir livremente, o que não estava a acontecer e era necessária muita pressão, para que ela subisse. Assim, a indicação dos litros de ar, estariam completamente erradas...

« Não », pensei eu, tinha de haver uma outra forma e de confiança, para aquela medida... e vai daí, pensei que um garrafão de plástico, de 5 litros, com um tubo metido até ao fundo e uma saída cá em cima, à laia de cabo de guarda chuva, para não levarmos com a água na cara, ao assoprar no gargalo, devia ser muito mais fiável e assim, executei a "maquineta".

Assim, comprei meio metro de tubo de plástico e duas uniões em cotovelo, de 20 milimetros de diâmetro externo, fiz um furo ao lado do gargalo do garrafão de plástico, como se pode ver pela foto, e colei com pástico derretido, o expelidor da água.

Depois, para calibrar, foi-se metendo litro a litro, água da torneira, e marcando no exterior os litros entrados, até se chegar ao gargalo. Depois é só assoprar de uma só vez, o mais que se puder, e ver quanta água saíu.

Obviamente, que os litros tiveram de ser marcados ao contrário.

No caso da foto, o ar expelido por um jovem de boa saúde, chegou aos 4 litros, mas ainda podia ser melhor.

Claro que a primeira pessoa a soprar, fui eu, tendo constatando que ainda possuia uma bela capacidade pulmonar de 2,5 litros, para um "jovem" de 70 anos, naquela altura, e que teve problemas pulmonares graves, há mais de 60 anos....enquanto que no Centro de Saúde, só me dava meio litro....

Claro que muitos outros funcionários que tinham passado pelo Posto Médico da Glória, se prontificaram a experimentar a máquina e todos ficaram radiantes com os resultados ! Afinal não estavam a morrer !!!

Como o próprio enfermeiro, de nome Ramalho, também estava muito amargurado com os seus exames, logo foi contactado pelo telefone e, passados poucos minutos, lá estava ele a atirar cá para fora com 5 litros de ar...o que muita alegria lhe deu, porque no tambor lá do consultório, só conseguia 2,5 litros... o que ele não conseguia entender, até porque tinha uns 50 anos, não fumava nem frequentava lugares poluídos e até fazia algum desporto. Por aquele andar, ele só teria para viver, mais poucos anos...

Assim, não havia dúvida de que o tal aparelho estava mesmo avariado e tinha estado a "enfiar o barrete" a todos os desgraçados que nele tinham assoprado...

Os próprios médicos, Dr.Carvalho, Bacalhau e Duarte Silva, não conseguiam encontrar explicação para aquele facto e limitavam-se a aconselhar todos os pacientes, a não fumar, fugir do ar poluido, fazer exercício físico, fugir de estar em sítios poeirentos, fugir de respirar os fumos das soldaduras electricas, etc.etc., mas mesmo com todas estas recomendações, toda a malta estava "a morrer" rapidamente...

Na realidade, ele logo mandou reparar o aparelho, o qual levou um fole novo e logo passou a indicar valores mais aproximados da verdade.

É que estando lá dentro um fole de tela, e a maior parte do tempo, todo amachucado no fundo do depósito, com o decorrer dos anos, a tela se tinha endurecido e cada vez era necessária maior pressão para o fazer dilatar, abrir e esticar para cima.

Assim, passei a não ter qualquer confiança naquele aparelho de consultório, pois até nem estava nada interessado em morrer a curto prazo e sem sentir aquela falta de ar indicada pelo "malvado" aparelho...

Escrito por Engenhocando em 2007/05/02 às 10:37:42

E O LOCUTOR BLOQUEOU EM VISEU


Quando eu tinha cerca de 20 anos, estava muito interessado na rádio chamada "broadcasting" e, como tinha à mão a Radio Polo Norte, no Caramulo, falei com o seu dono, o Sr. Joaquim Seabra, que também havia sido lá doente e por lá se manteve, e depois duma explicação genérica sobre o funcionamento daquela estação emissora das Beiras, lá fui aceite e comecei a "trabalhar" sozinho, aliás como todos os colaborantes, que eram doentes, em via de cura.

Aquilo era emocionante, pois tínhamos a certeza de que ao abrir o botão do microfone, a nossa voz iria ser ouvida por muitos milhares de pessoas e, como eu era um açoriano de gema, ainda conservava aquele sotaque estranho dos açorianos e era por isso, muito gozado...mas como era desinibido de conversa, tanto falei à moda continental, que algum tempo depois, já ninguém me gozava... e até hoje...

Nesta imagem, embora num quarto de Sanatório, eu já estava a praticar com uma "estação de rádio" miniatura, de 2W e transmitindo música e palavra para toda a Estância Sanatorial do Caramulo. Isto me deu muita coragem, para enfrentar a estação oficial Radio Polo Norte, Emissor das Beiras.

Esta minha estaçãozinha, se chamava Radio Clube dos Pinguins, porque no inverno, havendo muito frio lá na montanha, quase todos andávamos de compridos sobretudos pretos e mais parecíamos pinguins... e como eu não percebia nada de rádio, a estação tanto podia estar hoje numa frequência, como um pouco mais ao lado..., mais ou menos no meio das Ondas Médias. Ela era muito ouvida, porque a Emissora Nacional, o Radio Clube Português e a Radio Renascença, não chegavam por lá ainda e havia um período em que nem o Radio Polo Norte ainda estava a funcionar. Era neste período de silêncio que entrava o Radio Clube dos Pinguins e, no enorme silêncio daquelas montanhas, era-me muito grato abrir uma janela do "estúdio" e ouvir aquilo que eu estava a transmitir, ecoando das telefonias de muitos sanatórios...

Na foto, o locutor desportivo do Radio Clube dos Pinguins, o Dias da Silva, a apresentar os seus comentários. O microfone, era um pequeno altifalante, enclausurado numa lata pintada...Estámos em 1946.

Aquilo não era nada simples, porque a estação Polo Norte estava montada num pequeno quarto do, Grande Sanatório, dividido ao meio, sendo que metade era onde estava o emissor e do outro lado um pequeno espaço para a locução e estante para muitas centenas de discos. Era pois uma espécie de Estação de Rádio para amadores, mas cobria uma enorme área das Beiras, incluindo VISEU, mas estava montada num cubículo...

Mas o locutor tinha de fazer tudo, desde o receber do correio que todos os dias pedia discos e mandava 1$00 por cada pedido, pelo que antes da estação iniciar, havia que procurar todos os discos pedidos e ainda juntar aqueles que o locutor desejasse, nos intervalos dos discos pedidos. Aquilo lá ia dando o seu dinheiro ao amigo Seabra, nem que fosse para comprar mais discos e, por isso, ele todos os dias ia à estação, para abrir os envelopes e despejar as notas na sua algibeira...

Chegada perto da hora, o pequeno emissor de 100W de potência, era posto no ar, metido o disco de abertura e assim se iniciava a transmissão com a maior ou menor habilidade do locutor.

Assim, e com toda a pompa e circunstância, eu dizia: « Fala Rádio Polo Norte, emissor das Beiras CS2??..., com locução de Portugal Leça », e vai de meter os discos de 78 rpm, porque ainda não se tinham inventado os LP de Vinil.

Poderia ser Mário Faria, ou Bettencourt Faria, ou Mário Portugal, mas toda a gente por lá me conhecia por Portugal Leça e assim fiquei.

Esta época dos anos 40, foi riquíssima com o aparecimento de imensas estações de rádio, desde o Norte ao Sul de Portugal e onde apareceu também na Guarda, a Radio Altitude, também construída por um doente lá internado.

Também é desta época, o aparecimento do Radio Ribatejo, em Santarém, construído pelo já falecido radioamador CT1QA, capitão Varela Santos, e muitas outras também construídas por radioamadores.

Todos os locutores eram voluntários e cada um tinha os seus gostos musicais, pelo que uns iam para música portuguesa, outros para as estrangeiras, outros para as ligeiras ou outros para as clássicas, etc. etc.

Como todos os locutores estavam completamente sós, era muito chato termos de ir atender o telefone de ouvintes , normalmente raparigas, porque queriam conversa e mais conversa, e os discos de acetato a despejarem as suas músicas... perante a nossa aflição de os discos estarem a chegar ao fim e ali ficarem a "moer" roc,roc,roc...

Certo dia, fui procurado por um grupo de jovens vindos da cidade de Viseu, a me convidarem para colaborar naquela cidade, no seu lindíssimo Teatro "Viriato", num programa de variedades, em que o principal locutor, vindo não sei de onde, seria o responsável pela apresentação do programa, mas exigia um locutor/colaborador para o ajudar e logo para meu azar, se lembraram de mim, um novato naquelas lides e que nunca tinha estado em público, num palco...

Aquilo constituia um certo aliciante para mim e, depois de alguns amigos me emprestarem as roupas mais apropriadas, o que deu muito gozo, porque uns fatos eram grandes demais ou os sapatos estavam apertados ou a gravata não era apropriada...lá me vieram buscar ao Caramulo. Eu não conhecia Viseu e até gostei da cidade.

Ao chegar a hora dos preparativos, aquilo era uma confusão dos diabos, com cantores, ranchos folclóricos, músicos, organizadores do evento, técnicos de som, curiosos, etc. e lá fui encontrar o tal locutor responsável que mal me estendeu a mão, talvez pensando "mas que nabiço aqui me arranjaram"...

A enorme sala estava cheia por completo, com camarotes e tudo, e mal se abriu o pano, o raio do locutor, de que eu mal sabia o nome ... empurra-me para o palco e diz-me : "Apresenta-me..."

Perante a estrondosa e simpática salva de palmas, eu nunca mais me lembrei do nome do "meu colega" e vai de inventar, enquanto dava voltas aos neurónios, para ver se me recordava do seu nome :

«Senhoras e senhores, o inimitável....» , mas que raio de nome seria o dele....????

«O imprescindível...» , e continuava eu à procura na minha reles memória, do nome dele...

«O espectacular ...» , e nunca mais me lembrava do nome...irra que pouca sorte a minha.... enquanto atrás do palco, o locutor esperava ansioso que eu dissesse o seu nome, mas....nada...

«O extraordinário...» , mas como já não me lembrava de mais adjectivos, acabei por dizer :

«Ele é demasiado conhecido e....ei-lo » , acabei, todo a tremer, estendendo o braço para o sítio onde ele estava à espera, mas o que é mais engraçado, é que ainda hoje, passados 60 anos, continuo sem saber o seu nome... e certamente que nem ele o meu...

Ele devia ser uma espécie do Artur Agostinho ou Henrique Mendes, mas eu nunca o tinha visto antes, e realmente ele era pessoa com muita prática daqueles espectaculos e vai de por a coisa a funcionar.

O meu papel, era o chato de ter de ler a imensa propaganda às casas comerciais que haviam colaborado para o espectáculo, mas os papeis que me haviam metido nas mãos, eram aos milhares e eu tinha de falar de cada um, o que lá haviam escrito aqueles "malvados" do espectáculo ! Assim, eu tinha de andar a escolher à pressa, outras casas de que ainda não tivesse falado, mas tenho a sensação de que muitas nem se teriam ouvido referidas no "show"...

Quando falei deste problema ao LOCUTOR, ele agarrou em metade dos papeis, e perante a minha ingenuidade, mandou para o lixo... Lá fiquei um pouco mais aliviado...mas um tanto amargurado...

Mas às tantas, eu também quis contar uma anedota, mas ainda ia no meio dela, o público começou a rir-se e eu, estranhando, olhei para trás e vejo o malvado locutor a fazer gracinhas e macacadas, que estavam a fazer rir o público...

Pois não é que me esqueci por completo, do resto da anedota !!!! mas lá me desenrasquei dizendo que mais tarde, acabaria o raio da anedota...e lá me safei , mas nunca mais a acabei !

Escrito por Engenhocando em 2007/04/23 às 19:20:54