domingo, 24 de fevereiro de 2008

ERA UMA AVÓ DE SONHO...

Quando mais idoso de sinto, mais me lembro das pessoas que emolduraram a minha mocidade, talvez porque esteja a chegar à idade com que elas desapareceram deste mundo...
Já tive a oportunidade de falar muitas vezes desta tão simpática velhinha, em outros artigos neste blog, como "No Centro das Festas", em 6/12/2006, "E cegou de tristeza", de 7/7/2007, em "A casa cor de rosa" de 22/6/2007,etc.
Esta minha avó, que mais parecia uma "rainha" no seu trato, foi a pessoa com quem mais convivi, desde que nasci em 1927 e até atingir os meus 14 anos, quando a minha família se começou a desmoronar com o falecimento de meu pai, e depois meu avô.
Esta Senhora, Leonor Ferraz Bettencourt Leça, não devia saber nem fritar um ovo, pois sempre havia arranjado quem trabalhasse na cozinha, mas estava sempre perto de mim, só se ausentando quando, a pé, ia assistir às missas dos Domingos, pois a nossa igreja dos Ginetes, em S.Miguel, Açores, só estava a uns 200 metros de distância.
Mas por causa das alterações que se desejam implantar à língua portuguesa, actualmente, não resisto à tentação de vos enviar uma parte dum saboroso mail duma ilustre brasileira, que até por acaso é médica, e que recebi do Brasil há poucos dias.

"Os falares da nossa gente são infinitos. No Brasil, não há propriamente dialetos.
Há falares com entoações diferentes e, claro, alguns termos mais usuais em determinadas regiões. Todavia a TV praticamente uniformizou a língua, digo os vocábulos e seus significados,
não apenas nas grandes cidades, mas nas zonas rurais também.
O português dito erudito é exatamente igual, de norte a sul do país.
Imagine eu que nasci no sertão do Maranhão, numa família praticamente quase 100% analfabeta, por parte de mãe, que fui pra uma escola interna com cerca de 11 anos... depois morei na capital do Maranhão, depois em Minas Gerais, depois em São Paulo, depois Minas outra vez, desde 1995...
Mas é claro que quando abro a boca as pessoas perguntam logo de onde sou. Porém quando telefono pra alguma amiga no Maranhão, quem atende o telefone diz logo que "é uma mulher de uma fala diferente!"
Ou seja, eu falo uma língua de um lugar que não existe!!!! "

Como o leitor poderá depreender, este mail me encheu as medidas, como por aqui se diz, por vir duma brasileira nascida e criada no Brasil e muito atenta a tudo quanto se passa à sua volta.
Aquele final "Ou seja , eu falo uma língua de um lugar que não existe!!!", é do melhor !
Este seu mail, me trouxe à lembrança, 70 anos atrás, quando eu ainda andava de calções e tinha como avó, uma ilustre senhora madeirense, que por ter convivido com imensa gente ilustre em todos os lados, falava correctamente, tanto o português, como o espanhol, inglês e francês, e ATÉ BRASILEIRO...
Se algum brasileiro ler este artigo, até achará estranho que eu tenha evidenciado a palavra "brasileiro", mas já vai ver-se porquê.

Quando por volta de 1900, minha avó teve de ir viver para os Açores, foi encontrar um ambiente onde talvez 80% das pessoas eram analfabetas e muitas tiveram de emigrar à procura de melhor sobreviverem, e muitas foram parar ao Brasil, onde se dizia que havia a "árvore das patacas". Era só estender a mão e agarrar...
Claro que não era nada assim, mas para as gentes emigrantes açorianas, era como se fosse...

Ela rapidamente se apercebeu de que havia de dar a mão a pessoas do campo, que tinham família no Brasil, mas não sabiam escrever. Elas lá iam à procura de ajuda e pedir concelhos sábios. Todo o seu tempo de vida, levou a ajudar toda a gente e ensinando línguas a todos os netos e música a alguns, ou escutando atentamente alguma senhora analfabeta, solitária e saudosa de algum ente querido que tivesse emigrado e lhe pedia para ser ela a escrever uma cartinha...
E as pessoas se aproximavam dela, com o respeito de uma "rainha", afastando-se curvadas de marcha atrás, depois de lhe terem beijado a mão e dito "que Deus a abençoe"...
Ela tinha essa virtude de estar aberta a toda a gente, fosse uma pessoa completamente analfabeta, ou doutorada ou Almirante, ela sempre mostrava aquela fisionomia sorridente e simpática. Era uma super-mulher !

Algumas destas pessoas do campo, que a iam visitar, e lhe levavam sempre uma gracinha, um franguinho, uma fruta, um doce, algumas tinham alguém de família no Brasil, algum analfabeto naturalmente, que uns anos depois, cheios de saudade da sua terra natal, voltavam para matar saudades e mostrar às suas famílias, como estavam agora bem na vida, e inevitavelmente tinham de ir visitar minha avó, para lhe agradecer as cartas que ela tinha escrito, e falando a língua brasileira que tinham aprendido no decorrer dos anos pelas lindas terras brasileiras.
Minha avó deliciava-se a ouvi-los falar aquela "língua estranha" e como tinha muita habilidade para decorar línguas, ao fim de poucos minutos, já estava a falar brasileiro também, para grande alegria dos emigrantes que assim, já a compreendiam muito melhor, perfeitamente bem.

Foi por uma altura destas, e num 1º de Dezembro, que o meu professor de Instrução Primária, o Sr. Santos, me enfiou nas mãos um soneto escrito por um brasileiro, sabe-se lá quem, e que eu teria de decorar, para declamar naquele dia festivo.

Minha avó, ao ver que se tratava dum poeta brasileiro, logo me disse que eu teria de falar em brasileiro, mas eu sabia lá como era aquilo !!! Então não era português como o nosso ?
Então, ela sorrindo com o soneto na mão, pôs-se a lê-lo para mim, em voz alta, para eu conseguir entender aquela "estranha" forma de falar, mas como eu não acertava de forma alguma, ela agarrou um lápis e me chamou a atenção para o facto de que no Brasil todas ou quase todas as vogais são acentuadas, enquanto que o português de Portugal, usa de certos truques para acentuar certas vogais. E ia explicando: a gente diz aqui, por exemplo, "acção", em que acentuamos o "A", mas porque lá foi colocado um"c", antes do "ç".
A actual revolução na lingua portugesa, veio retirar aquele "c" , e assim, para nós, ficou aaação...um "a" morto!
Eu era muito novinho, talvez com 8 anos, e lá ia compreendendo melhor ou pior.
Da mesma forma, dizia ela, os brasileiros têm dificuldade em proferir o "lê" final, como em Brasil ou Igual, pondo neste "lês" a pronúncia de "U". Assim, para nós, eles dizem "Brasiuuu" e "iguauuu". E eu lá ia repetindo aquela pronúncia estranha, na minha melhor forma, com um sorriso um tanto amarelo...

Depois, dizia minha avó, eles usam no Brasil, em todas as palavras terminadas em "ente", como "felizmente", "rapidamente", de incluir TXX, atrás do último "te". Assim eles dizem "felizmentxxe", "rapidamentxxe".
Pior, pensava eu, isto está cada vez a ficar mais complicado... mas aquilo até era giro... era como se estivesse a aprender outra língua...

Depois ela disse-me que o brasileiro acentua quase todas as vogais, sem a necessidade de as acentuar. Assim, eles dizem "félizmentxxe", "rápidamentxxe", e pronunciam todas as palavras mais lentamente do que nós aqui.
Então, ela foi ao soneto e vai de acentuar uma data de vogais e, para eu demorar mais as palavras, colocou mais umas letras como "eee" , e o "txx" na palavra "sente" e que ficaria "sentxxxe ".
E mais, o brasileiro não pronuncia o "r" final. Assim, "Senhor", eles proferem "sinhô", bem como "lavar", eles dizem "lavá".
Eles tambem não dizem "daz-me um copo de água?", mas sim "mi dá um copo de água", " Mi fala di tua vida".
Mas que grande confusão para a minha cabeça, mas ela pegou no soneto que se intitulava "Mal de pés" e vai de lê-lo à brasileira. Eu até dei uma grande gargalhada ! Minha avó era realmente um espanto !
Nota: Como já se passaram 70 anos, já mal me recordo do soneto certo, e isto já nem é soneto nem é nada, mas era mais ou menos assim:


Cérto pátricio nosso brásileeeiro,
Dépois de ter córrido o mundo intéééiro
À procura do mal que tinha em seus pééés,
Se encontrou num trém com um inglêsss.

Si mostrou logo o bifi incómodááádo ,
Fungando para um e outro lado,
À procura dum fóco de inféééção...

Eis senão quando o brásileeeiro,
Apontando com um dedo a bóóóta,
Riclama, heis sinhô o mótivo, a rázão,
E não sei como inda vivo...

Aí o inglês lhe pergunta: e lavando,
Réfina ou sentxxe algum álivio ?
Aí o nosso brásileeeiro réspondggge:
Tenho isáurido a médicina,
Más, lavá, lává ...é que nunca exprimenteeei.

E lá vou eu decorar aquele encrenca, tentando dizer como minha avó queria, e tantas vezes tive de repetir, que até o resto da família, que estava por perto, achou engraçado e me ia acompanhando no soneto dito à brasileira.
Só faltava o dia da festa e, perante a curiosidade daquela malta toda, lá fui para o palco e MUITO LENTAMENTE, feito pessoa importante, comecei a recitar o meu soneto "MAL DE PÈS", e de tal forma me saí, que rebentou uma estrondosa salva de palmas... e lá tive de bisar aquilo novamente, mais duas vezes.
Toda aquela gente se devia estar a perguntar como é que um garoto que nunca teria visitado o Brasil, poderia falar tão bem o brasileiro....Pois, mas não sabiam que eu tinha uma avó de sonho, em casa...
O português SOFRE !!!!

EU SÓ QUERIA SABER A VERDADE !






A TRANSMISSÂO DE PENSAMENTO












Nota: Hoje acordei a pensar no pai da minha amiga Ana Ramon, que já nos confessou ser filha de artistas de circo. Ela já é muito conhecido deste blog de Lima Coelho e é uma pessoa interessantíssima. Eu lhe dedico esta crónica, com imensa amizade."

Estávamos em 1952, com 27 anos, e estava prestes a, finalmente, saber se era realmente verdade ou mentira, a "transmissão de pensamento", coisa que muito me amargurava não entender.
Nenhum dos meus amigos acreditava, mas estávamos em Benavente, para assistir a um espectáculo no enorme cinema do Luiz Lopes, com o ilusionista Max.

Pois se eu até já tinha tido o "desplante" de ir falar pessoalmente com sua Exª. o Consul americano a pedir-lhe emprego na RARET, passar por cima daquelas centenas de pessoas da assistência e ir falar com um "mágico", não me custava mesmo nada.
Era só mais uma das milhares de experiências que vinha fazendo desde garoto.

A sala estava completamente cheia e eu estava ao lado dos meus amigos Murilo Lopes e José Pedrosa, que nunca acreditaram naquilo, quando, antes de começar o espectáculo, eu saí do pé deles, e fui ver o "mágico homem" ao seu camarim, em pessoa.
Ele era "uma torre", com talvez 2 metros de altura...ou pouco menos...
Era agora ou nunca mais...Alguma vez eu iria perder aquela oportunidade ?

Ele estava de costas, ajeitando a sua gravata e impecavelmente brilhante no seu fraque negro.
Lá me enchi de coragem, bati-lhe à porta do camarim e pedi-lhe que gostava de saber realmente, toda a verdade do seu poder, a transmissão de pensamento, o hipnotismo.

Ele, mesmo de costas, me perguntou: Você sofre do coração ?
Eu, naquela altura, estava com certas arritmias, pesava quanto muito 60 Kg., tinha estado 5 anos num sanatório entre a vida e a morte, e um tanto contrafeito ou envergonhado, disse-lhe isso, e ele, muito lentamente, deu meia volta e fitou-me com aquele olhar de vidro, azul transparente, mesmo nos meus olhos, ali a uns 3 metros de mim. Até me pareceu que conseguia ver o seu cérebro, através dos olhos...

Senti de imediato que algo de muito estranho me tinha invadido e até me senti completamente desequilibrado, talvez levitando, quase caindo, quando ele deu meia volta, e logo voltei a mim... tentando encontrar o equilíbrio físico perdido...

Que coisa tão estranha aquela ! Que diabo me teria acontecido ? Que sensação mais estranha eu havia sentido naquele simples olhar ! Como seria aquilo possível? Como seria possível um ser humano, possuir tamanha energia ?

Então ele, com muita calma, na sua voz grave, me disse: "Eu não o vou hipnotizar, mas gostava que colaborasse comigo, quando eu o chamar. Esteja aqui por perto."

Eu estava em brasa, a minutos de saber em que o poderia ajudar e assim, fiquei ali perto do palco, a observar o que ele fazia.
Os meus amigos logo se levantaram , bem como mais uns 5 ou 6, ao ouvirem o convite do Sr. Max, para que subissem ao palco, pondo-os todos em fila.
A maioria deles, até estava um tanto contrafeita e inquieta...talvez envergonhada...

Começou então por uma ponta, em frente a cada um, passando-lhe a mão direita pela frente dos seus olhos e seleccionando aqueles que ele sentia iriam ser facilmente hipnotizados, e logo vi que os meus dois amigos, que estavam mesmo na negativa, foram logo eliminados e voltaram a ir-se assentar na plateia. Como eles, graças a Deus, ainda são vivos, talvez já nem se lembrem destes factos...

Ficaram umas 3 ou 4 pessoas bem conhecidas na terra, rapazes mais ou menos da minha idade, e que fizeram os mais incríveis disparates que se podem imaginar, um a um, como andar de gatas, outros aos gritos a chamar os bombeiros, porque estavam a arder, outros que até ladravam miavam e uivavam, outro se descalçou, perante a grande risada de toda a assistência...
Aquilo era incrível !
Eles NUNCA fariam aqueles disparates, se estivessem no seu juízo perfeito...nem muito menos em público...

Até que finalmente, e sem me olhar directamente, o Sr. Max me entregou uns panos pretos e um pau de giz, dizendo-me para lhe vedar completamente a visão.
Eu tentei ver alguma luz através dos panos, tapando a minha vista, mas eles eram completamente opacos.
Enrolei e amarrei na sua cabeça o primeiro e comprido pano, e depois um maior, só lhe deixando a boca de fora, mas tudo feito pelas suas costas. Era impossível que ele visse alguma coisa através daqueles panos...
Depois disse-me para eu desenhar uma linha no chão, com o giz, e, por malandrice, em vez de uma linha recta, eu fiz uma espécie de grande ponto de interrogação, com mais de um metro.
Depois disse-me para colocar vários objectos que tivesse à mão, em vários pontos do risco, e assim lá coloquei o meu relógio de pulso, um isqueiro, uma caneta, etc.
Eu estava perfeitamente lúcido ao fazer aquele trabalho, até que ele me disse: "Coloque-me no inicio da linha", o que fiz agarrando-o pelos ombros, "e, quando desejar que eu comece, pense somente no que é que eu devo fazer", para seguir o "malvado" risco todo torto e pensar que ele teria de parar, antes de esmigalhar os objectos que eu lá tinha colocado. Mas eu estava plenamente confiante...

A sala estava toda em burburinho, quando ele grita " SILÊNNNNNCIO e acrescentou, Concentre-se ...".
Na realidade, eu estava completamente à vontade, como qualquer outro espectador e nem sabia o que teria de fazer para me concentrar nele, quando ele me volta a gritar: "Conceeeeentre-se..." e aí, eu realmente "tentei desligar-me de tudo o que me rodeava, olhando as costas daquele homenzarrão, e pensei, "Pode arrancar" !
Nesse preciso instante, foi como se eu o tivesse empurrado e ele começou a arrastar os seus enormes pés, enquanto eu parado, ao lado do palco, ia pensando, "mais um pouco à direita", "em frente", " à esquerda" , "pára" , para ele não pisar o meu relógio e pensei: "Tem um relógio a seus pés".
E ele disse em voz bem alta, "Tenho um relógio aos meus pés"...

De imediato, toda a assistência, que já me conhecia e nem me tinha ouvido falar nem mover a boca, entrou num delirante entusiasmo de palmas e gritaria, o que me fez distrair. Ou seja, "eu havia perdido o seu contacto". Aí, com ele à espera dos "meus pensamentos", e depois dum assistente, ter retirado o relógio, eu voltei a fazer um grande esforço para me concentrar e pensei "pode seguir e voltar à direita", o que ele reproduzia na perfeição, mandando-o parar novamente para não pisar um outro objecto, mas embora a assistência recomeçasse novamente em delírio, eu SENTI que o meu cérebro ainda estava ligado ao dele e lá continuei aquela inimaginável surpresa para mim. " Aquilo era positivamente interessante e cientificamente maravilhoso !

Quando ele chegou ao fim da linha, eu "pensei" "chegou ao final da linha" e a ele me dirigi para lhe retirar todos aqueles trapos pretos que lhe tinham estado a tapar a visão, mas eu quase nem me conseguia manter em pé...Estava completamente exausto !
Estava como um saco que devia estar cheio e agora estava todo roto...
Que diabo aquele homem teria roubado de dentro de mim ???

Os meus amigos até me disseram, "oh pá, estás branco como a cal da parede..", e devia estar, pois estava com a sensação desagradável de ter sido esvaziado por completo de qualquer coisa que era muito minha e só minha, sensação que levou uma data de minutos a desaparecer.

Quando me ia a despedir e agradecer a experiência ao Sr. Max, ele, sem me olhar directamente, ainda me disse: "Se o senhor desejar trabalhar comigo, ser-me-ia imensamente útil como médio", mas eu estava bem empregado e nada interessado em ter de ir fazer vida de saltimbanco...

Uma coisa havia acontecido para toda a minha vida: eu tinha ficado a saber que aquele indivíduo ou outro igual, tinha sobre mim um poder imenso e certamente porque a sua transmissão de pensamento não podia ser melhor e, se ele desejasse, eu faria os maiores disparates em público e em qualquer altura... mesmo que me tivesse de despir e rebolar pelo chão... ladrar, miar, uivar, dar saltos, e cambalhotas, etc.
Aquele seu poder era tal, que eu poderia pegar um documento qualquer duma pessoa da assistência, e indicar-lhe, algarismo a algarismo, o seu número, que ele logo responderia.

Nunca havia pensado que fosse possível aquilo acontecer entre duas pessoas, mas finalmente havia entendido que a "transmissão de pensamento", se uma pessoa for suficientemente sensível, é plena verdade.
Este "suficientemente sensível" quero referir-me `"frequência de recepção" em que o nosso cérebro funciona, para poder ser "sincronizado" por estas pessoas.

Aquela "MAGIA" era de tal forma evidente, que me viria a marcar para toda a vida, embora vindo a saber que tem os seus limites, em especial no tocante a coisas muito íntimas, em que uma pessoa se consegue "desligar", ou "acordar", felizmente...

E fiquei a pensar naquele poder da mente, aquele "emissor de ondas estranhas" que certas pessoas possuem e conseguem fazer um "scanner" dos "receptores cerebrais" de outras pessoas, descobrindo a "sua frequência" e ao que parece, se sincronizam um com o outro. Os dois cérebros ficam actuando como um só !

Aquilo até me parece coisa de outros mundos, como se de uma pessoa de outro planeta, andasse entre nós, com forças cerebrais incríveis e ainda tão desconhecidas, mas que foi uma experiência inolvidável... foi ! Quer o leitor acredite, quer não...

Uma força daquelas, nas mãos de certos políticos, deve ter um poder descomunal e levar milhões de pessoas a pensar o que eles querem que se pense...

E já tenho pensado que talvez eu possua um pouquinho daquelas "ondas", e me estar a servir delas, para cativar tantas pessoas simpáticas com os meus escritos, mesmo sem dar por isso ? E talvez até já estivesse a hipnotizar o padre que me convidou a estudar teologia...ou a sentir-me tão atraído por meus avós... ou por aquele piloto instrutor de helicópteros, me largar os comandos, ainda com o aparelho a meio metro do solo...eu sei lá o que pensar desta rocambolesca vida que tenho vindo descrevendo neste blog, desde há anos...
Será que tenho um pouquinho dessa admirável virtude de encontrar e transmitir amor e carinho em tanta gente ? Só o meu leitor o saberá.

Escrito por Engenhocando em 2008/02/24 às 12:15:03

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A MAGIA DOS BLOGS...






"O ALMOÇO ESPECIAL"










Quando me iniciei a abrir este Blog, em Outubro de 2006, nem me passou pela cabeça, que houvesse a possibilidade dele ter tanto êxito, até porque já tinha entrado em vários e mais me pareciam uma espécie de "Diários" onde cada um se podia "divertir" com os amigos de perto ou distantes, a comentar o seu dia-a-dia, a comentar os sucedidos e o que estava pensar fazer em cada dia, mas indo encontrar alguns, até com palavreado obsceno ... que em nada me agradavam... embora muitos outros bastante interessantes, e muito bem feitos !
Eu era e sou, um podão em informática, e já ficaria muito satisfeito, com um dos mais simples.

Estava mais interessado em poder guardar as minhas memórias, como se de um livro se tratasse, mas como isso não era nem fácil nem barato, julguei que o melhor fosse o poder aproveitar este incrível meio de comunicação, com acesso em todo o mundo, daquilo que me podia lembrar e pudesse, de alguma forma, distrair saudavelmente os leitores que por ele tivessem a curiosidade de entrar e de ler.

Desde a minha Escola Primária que a coisa que mais adorava, era o poder escrever e descrever factos, sobre as minhas aventuras na época de tanta e rocambolesca juventude. Era a coisa que mais me agradava fazer e até tinha um certo orgulho em poder desenhar muito claras as minhas letras, como se de imprensa se tratasse.
Naquela altura, tínhamos de usar o tinteiro que estava enfiado nas nossas mesas e com aparos bem escolhidos, fazer as letras o mais bonitas e iguais que pudéssemos, tendo especial atenção ao mata-borrão. Aquilo podia não valer nada, mas ao menos dava gosto de ver...

Em minha casa, meu avô que, além de médico, era um entusiasta por imensas coisas cientificas, como já tenho descrito noutras crónicas, teve para mim a grande virtude de me assentar ao seu colo, e por-me a ler em voz alta, os escritos que me punha na mão e, embora fossemos sete netos, e ainda não sei porquê, ele para mim, sempre tinha uma especial atenção e tinha a paciência de me corrigir a dicção, a respiração, as pausas, as interrogações, tudo.
Aqueles bocadinhos ao seu colo, desde que havia aprendido a ler, eram os mais preciosos da minha vida.

Meu pai estava no continente, a tratar dos seus complicados negócios e a minha mãe sempre estava muito ocupada, em especial a treinar exercícios ao piano, ou a acompanhar a costureira, a D. Perpétua, para me dedicar atenção, enquanto minha avó delirava em ensinar os netos mais velhos, a aprender línguas estrangeiras, em que era exímia, sempre dizendo que quem as soubesse, não teria qualquer dificuldade, mais tarde, em arranjar emprego.
Este meu avô era pois o Centro da minha vida e eu sempre sentia uma enorme atracção por estar onde ele estivesse, fosse a ajudar a fazer andar com o meu pé, o pesado torno mecânico que ele tinha no sótão, ou a preparar as centenas de cartuchos de caça, carregando-os, metendo as buchas e rebordando-os, ou a vê-lo preparar os banhos necessários para ele fazer as fotografias, ou a fazer de minúsculo enfermeiro, no consultório, etc. etc.
Ainda hoje me recordo de que ele, tendo uma vida tão agitada, com tantos doentes para ver e acompanhar, ainda conseguisse uns minutos, exclusivamente para mim. Era pois uma "AVÔ" imenso !

Era o que se pode chamar de pessoa muito simpática de conviver e a sua presnça me fascinava !

Sempre impecavelmente vestido, barbeado e perfumado, com o seu bigode revirado e torcido a quente, me parecia que estava em frente a sua Exªa. o Rei D. Carlos ou o Príncipe de Gales, de que muito se falava naquela época, embora já estivéssemos a viver a época do Sr. General Carmona e Prof. Dr. Salazar, eu até sentia imenso orgulho dele e ele devia sentir essa minha atracção, como hipnotismo.



Minha avó era linda de ver, sempre impecável nas suas vestimentas um tanto estranhas para mim, sempre de saias até aos pés e sempre pronta a nos arrancar das brincadeiras, para irmos ter mais umas lições de inglês, enquanto as minhas irmãs gostavam mais do francês e da música.

Depois de decorridos tantos anos, é curioso que nunca me lembro de os ter visto doentes e de cama, nem com constipações, nem dores de

cabeça, nem de camisa de dormir e chinelos, mas talvez me falhe aqui ou pouco a memória...

O seu ar aristocrático, via-se à distância e, quando se assentava ao piano e arrancava a tocar, aquilo era o "fim do mundo" com tanto esplendor, tanta emoção, com tanta virtuosidade !

Os seus dedos delgados, conseguiam correr aquele teclado de ponta a ponta e a força que ela tinha neles, pois quase se partiam os "martelos" das cordas, naqueles necessários "fortíssimos"...

Ela sempre tinha tempo para exercícios no teclado, nos intervalos das suas aulas.


Minha mãe levava os dias não só nos exercícios de piano, mas a tocar duma forma muito diferente, pois como era muito romântica, muito mais se dedicava a músicas que faziam chorar o coração... aqueles crescendos e deminuendos, do forte ao pianíssimo, ela vivia intensamente, cada música que tinha de tocar e toda a gente vibrava com ela. Era Mendelson , Chaminade, List, Debussi, Grieg, Chopin,...sei lá quantos !

Embora todos nós, os miúdos, andássemos sempre em correria pela casa, nunca me lembro de a ter visto nem de pijama ou talvez camisa de dormir, nem chinelos, nem engripada nem constipada...

Mas vi-a chorar várias vezes, quando foi da morte de meu pai... isso sim, quando eu tinha 11 anos.
Lembro-me de ela andar à nossa volta, quando estávamos todos doentes, com varicela, tosse convulsa, anginas, etc...a ver a febre de cada um e a tomar nota, sei lá, mas até parece que agarrávamos todas as doenças e éramos metidos no mesmo quarto, que até parecia uma enfermaria... e vai de xarope a cada um, comprimidos e mais não sei o quê, remédios que meu avô mandava fazer na farmácia e nos eram dados com todo o cuidado a horas muito certas, que todos podíamos ouvir daquele grande relógio de torre, enorme, que fazia BING,BING,BING..

Pelos vistos nós éramos "especialistas a arranjar doenças", e meu avô que já sabia que estando um atacado, os outros iriam todos por igual, não estava com mais aquelas, e enfiava-nos todos no mesmo quarto, para facilitar o tratamento...

O velho era mesmo esperto !

O aparecimento desta hipótese tão maravilhosa de descrever os imensos factos da minha mocidade, me apaixonou de uma forma intensa e, de vez enquando, lá recordo de mais um episódio que venho para aqui descrever, no meu melhor, mas às vezes com tanta saudade, que até as lágrimas me toldam a vista !

Aqui há uns tempos, estava eu à procura de elementos sobre o bárbaro assassínio de meu irmão Carlos Mar Bettencourt Faria, no seu Observatório da Mulemba em Angola, em Julho de 1976, em África, quando um amigo meu me informa por e-mail, que havia um blog na NET em que uma senhora falava dele.

Como é natural, fiquei entusiasmadíssimo e fui logo à procura do blog www.paixaodossentidos.blogspot.com e realmente num lindo blog, duma linda senhora ainda nova, lá estava o seu encantamento por não só ter conhecido meu irmão, mas até convivido umas horas com ele, quando dumas suas visitas a Portugal.

Ela, certamente que nem faria ideia de que esse Carlos Mar, tivesse um irmão ainda vivo e que muita saudade tinha dele, pelo que lhe enderecei um mail a dar-me a conhecer.

Ela era realmente impressionante de gentileza e logo me respondeu e assim, vim a saber que ela o havia conhecido ainda quando muito novinha, mas já tão linda, e entusiasmada pelo que, de cientifico ele estava a fazer em Angola.

Aquilo era de espantar, vindo duma garota tão jovem, interessada em foguetões, satélites, astronautas, etc.

Ela manteve-se em contacto escrito com ele, até porque ainda nem havia blogs, e guardava dele as melhores recordações. Se o leitor for ver o blog acima indicado, verá que ela se chama Ana Ramon, uma mulher de têmpera, pois vive numa enorme quinta, com a responsabilidade de centenas de animais que possui e ainda tem tempo para escrever no seu blog, sempre interessantes artigos com ensinamentos científicos de lavoura, etc.

Como eu lhe mandei a minha foto, para ela ter uma ideia de quem eu era, ela também me enviou uma que guardo ciosamente.

Mal sabia eu que iríamos passar a manter correspondência diária, sobre os mais diversos assuntos, mas como ela vive a 200 Km do sítio onde vivo, ainda não nos conhecemos pessoalmente.

Sei, no entanto, que ela vai muitas vezes ver este meu blog e sei também que o Blog brasileiro de Lima Coelho, já reeditou vários artigos dela.

Uma das coisas que mais me espantou, foi receber um convite dum brasileiro, dirigente de um dos maiores, senão o maior blog do Brasil, LIMA COELHO, para que eu o autorizasse a reeditar alguns dos meus escritos que ele havia descoberto na NET. Claro que eu nunca havia pensado em que os meus tão simples escritos, pudessem interessar a uma pessoa daquela dimensão, e de imediato autorizei.

A sua Colaboradora MEL, de imediato me informou que um dos meus artigos já estava no MUNDO DA NET e, para meu grande espanto, logo acompanhado dum enorme role de comentários muito simpáticos, acerca dos meus escritos.

Que povo tão simpático, me havia aparecido, este brasileiro !

E passados poucos dias, mais outro e mais outro... e já foram aproveitados mais duma dezena, como o primeiro, cheios de muito amáveis comentários...

Isto dos blogs, tem, positivamente "magia" !

E agora, mais uma crónica:

« Estou neste momento a recordar que em certa altura, tinha havido necessidade de fazer um almoço especial e de cerimónia, o que obrigou minha mãe a estar por perto da cozinha, para que tudo decorresse o melhor possível.

Só nestas alturas muito especiais, é que apareciam os mais lindos pratos, copos, travessas, garfos facas e colheres, que se mantinham bem guardadas durante todo o ano, tal era o medo que os meus avós e mãe tinham, de que se partisse alguma daquelas autênticas e preciosas obras de arte... com mais de 100 anos...

Já não me lembro bem do que era o prato, mas numa enorme travessa do melhor que existia em casa e que só saía do armário, em dias muito especiais, a criadagem esmerou-se por apresentá-lo o mais bonito possível, enquando o meu avô e avó, entretinham as visitas, que me parece seria um primo da minha avó, o Vice Almirante Guilherme Ivens Ferraz, que estaria em S. Miguel, de passagem.

Depois de servida uma bela e saborosa sopa, numa enorme terrina do mesmo serviço dos pratos, chegou a altura da criada de fora, trazer o prato especial, antes da fruta, e que eram rodelas de ananás açoriano e doces, para que minha mãe tinha muita habilidade. Se bem me lembro era um creme espanhol, que levava muitas gemas de ovos e açúcar quase em caramelo...ou sei lá como se chama... Mas aquilo era de comer e chorar por mais...

Até que o almoço começou e estava tudo muito bem disposto na sala de jantar, depois dumas horas a ouvirem tocar o piano de cauda, quando se ouve um grande estrondo... e tudo ficou intrigado ! Minha mãe saltou logo da cadeira e foi ver o que se teria passado.

Naquela "casa-cor-de rosa", de que já várias vezes tenho falado neste blog, onde vivíamos, da cozinha para o corredor, que dava acesso à sala de jantar, havia 2 degraus de pedra e a garbosa empregada toda de ponto em branco e vaidosa, vinha trazer para a mesa, aquela enorme travessa, a que não estava em nada habituada, mas como não viu bem os degraus, vai de tropeçar e se espalhar ao comprido no corredor, atirando com a travessa pelo ar e toda a comida espalhada pelos chão, a metros de distância !

"Ai minha senhora", dizia a pobre criada, toda lavada em lágrimas, " E o prato que estava tão bonito...", sem se ralar nada com a caríssima travessa toda feita aos bocados e tanta comida estragada...

Minha mãe não era pessoa de andar aos berros, mas ficou completamente transfigurada e aflita, pois logo as visitas se aperceberam de que algo de grave havia acontecido pela cozinha, e o almoço estava interrompido, enquando minha mãe veio pedir desculpa às visitas, pelo acontecido e dizendo que se iriam fazer uns ovos estrelados, para salvar a situação... quase com as lágrimas nos olhos...pois não havia frigoríficos ainda, nem tempo para fazer outras comidas mais requintadas.

Mas vá lá, tudo acabou em bem e toda a gente saboreando o referido creme espanhol e elogiando a sua cozinheira...