sexta-feira, 25 de maio de 2007

E AS DORES FORAM-SE EM 15 MINUTOS

" De médico e de louco, todos temos um pouco" (II)

Estávamos em 1970, quando trouxemos para a nossa companhia, uma avó da minha esposa, a D. Rosa, porque estava sozinha e muito aflita com dores no centro das costas e já há muito tempo.

O seu médico, Dr. Alves Ventura, já a conhecia desde há mais de 30 anos e sabia que os analgésicos, lhe davam cabo do estômago e, por isso, não lhe podia fazer mais nada. E, pior, como sabia que ela tinha bons pulmões e coração, iria ter sempre, muito tempo de dores para aturar...

Aquilo era demais para mim, ver a pobre velhota de 87 anos, rebolar-se com dores e em todas as posições !

Esta D.Rosa, já trazia com ela e desde há muitos anos, mais de 30, um grande padecimento de violentas dores de cabeça e imensa prisão de ventre, e o seu médico só lhe dava analgésicos.

Um dia, um seu sobrinho, que estava no fim do seu curso de medicina, o Dr. José Isidro dos Santos, numa visita de cortesia que lhe fez e vendo-a assim tão aflita, resolveu pô-la a café com leite e pão integral, durante uns dias, pensando que poderia haver rejeição às carnes e peixes, aos assados e refogados, etc.

Só que a boa senhora, sentindo-se muito aliviada dos seus padecimentos, nunca mais se alimentou de outra comida, a não ser alguma fruta, e sopa, e, para toda a sua longa vida... embora sob protestos do seu sobrinho José, que sempre a informava de que deveria alimentar-se de outras comidas, o que nunca conseguiu...

Um dia, de contacto via rádio, com um velho médico do Cartaxo, Dr. Fragoso de Almeida, que tinha o indicativo de CT1PK, como radioamador, de quem era muito amigo, perguntei-lhe se as ondas de rádio não poderiam aliviar a velhota das suas dores, mas ele me disse que, com aquela avançada idade, ela deveria estar cheia de "bicos de papagaio" por toda a coluna, mas se não melhorassem, também não lhe faria mal.

Como a minha vida sempre foi dedicada à electrónica, lá me resolvi construir um pequeno gerador de ondas de rádio e fui, mais a minha mulher, arrancar a velhota da cama, onde ela se encontrava toda encolhida e a colocámos numa cama que tínhamos no outro extremo da casa, à laia de marquesa.

A minha ideia, era fazer uma "coisa" que ligada ao gerador, obrigasse o corpo da velhota a "chupar" aquelas ondas, como se tratasse dum "mata-borrão". Ou seja; o corpo dela, deveria fazer parte do gerador, pelo menos no sítio onde mais lhe doía. Eu já havia lido muitas coisas sobre a fisioterapia por Ondas Curtas, em obras de 1939 e 1953, e o assunto muito me aliciava.

Ela se queixava do meio das costas e realmente lá tinha um inchaço com mais de 15 centímetros de extensão, que lhe apanhava várias vértebras e que muito lhe doía, ao tocar-se. Por isso, nem se podia assentar em lado algum, com as costas encostadas, nem mesmo sobre almofadas.... Aquilo era demais !

Assim, coloquei-lhe a "coisa", uma placa especial, por mim desenhada e construída, que mais parecia um livro de cheques, sobre a zona dolorosa e observando se o corpo estaria a "absorver" bem aquelas ondas geradas, e recomendei à senhora, que só deveria sentir uma ligeira temperatura, o que veio a acontecer uns minutos depois. Antes que aquecesse demais, diminuí, de imediato, a potência para cerca de 10 Watts.

No fim de 15 minutos, retirei a "placa" e, quando íamos a pegar a velhota, para a voltar a levar ao colo, para o seu quarto, ela sacudiu-nos as mãos e sem necessitar de qualquer ajuda, assentou-se na cama, levantou-se direita e com grande sorriso estampado na sua enrugada face, disse, que só podia ser milagre, pois as dores tinham desaparecido !

Olhei, estupefacto, para minha mulher que também não conseguia entender o que se estava a passar e lá vimos a velhota a ir por seu pé, pelo corredor fora, indo-se assentar num cadeirão do seu quarto, pegando numa renda e começando logo a trabalhá-la, enquanto continuava a dizer baixinho, "isto só pode ser milagre, só milagre !" .

"Agora sim..." dizia ela, "até já me posso encostar sem dor alguma "... e assim ficou todo o dia.

Aquilo era demais para o meu entendimento e no fim do dia, voltei a contactar o médico, pela rádio, contando-lhe o acontecido, mas que eu pensava ser "fita" da senhora, talvez por se sentir mais acompanhada e acariciada.

Aí, o Dr. Fragoso logo me ensinou que ninguém se queixa, sem razão e que ela tinha reagido muito bem àquela sessão de ondas de rádio, pelo que estava de parabéns.

No dia seguinte, fui convidar a idosa senhora, para a continuação do tratamento, a que ela logo se propôs, mas logo acrescentando que se ficasse assim como estava, já estava muito feliz e, mesmo sem ajuda alguma lá se veio deitar, sozinha, na marquesa para nova sessão.

Logo de imediato, constatei que não havia vestígios do inchaço que ela tinha na véspera, e comprimindo com um dedo, todas as vértebras da cabeça à zona sacro-iliaca, a velhota não acusava dor alguma, mas mesmo assim, repeti a exposição às ondas de rádio e por ali ficou, pois nunca mais necessitou de novas sessões, só vindo a falecer 15 anos depois, já com 95 anos.

Lembrei-me agora desta história, por ter lido nas Selecções do Reader's Digest de Junho deste ano de 2007, um artigo muito interessante sobre o ataque à dor, intitulado "Porquê têm eles de sofrer ?" e onde pude constatar que modernamente, se estão a usar em Portugal, as Ondas de Radio para tratamento, pelas mãos do Dr. Alexandre Teixeira, na sua clínica privada.

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