terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

AFINAL SOMOS TODOS CULPADOS (7)

A MARAVILHOSA LAGOA DAS SETE CIDADES
Crónica nº.117 de Fevereiro de 2010

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A televisão, desde o início da tempestade que assolou a ilha da Madeira, nos últimos dias, tem mostrado a cidade do Funchal, como uma coisa nunca vista, mas esta ilha, de altura imensa, sempre foi atingida por estas correntes de água, a que os madeirenses já estão habituados, desde sempre. Basta lembrar que a sua enorme altura, que chega a dar a impressão de que começa no Céu, possui o perigo de encaminhar as suas correntes de água, por caminhos apertados . Os madeirenses aproveitam o grande declive das encostas para transportar pessoas em pequenos trenós sem rodas e patins de aço. Dois valentes homens, agarram o trenó com suas cordas e o vão encaminhando ladeira abaixo, até chegarem à cidade do Funchal, e os seus ocupantes se maravilhando com todas as paisagens e perfumes por onde passam, além de vistas maravilhosas.
Sobre a vista deslumbrante desta formosa ilha, olhada do mar, eu fiz referência na crónica "E o vapor aguentou-se".


Eles sabem que em chovendo qualquer coisa podem surgir quebradas e a"brincadeira" do escorrega acaba, mas dada a inclinação e empedrado das ruas, é só esperar algum tempo, até que estas fiquem limpas e tudo volta ao mesmo. Os carros de cesto e os trenós são levados por bois, lá para o alto e aproveitando a viagem, para outras coisas. Isto era antigamente. Hoje o transporte de trenós para cima é feito por camioneta. A muita água das chuvas e outra das nascentes é recolhida por levadas , construídas pelo homem. As águas destas levadas são aproveitadas para serem desviadas para irrigação dos campos, mas se vierem com força demais, passam para as ribeiras e podem produzir "quebradas" e é o que a TV nos tem mostrado.

Por causa da orografia da ilha, eles construíram as habitações em forma de presépio, desde o Oceano Atlântico aos cumes mais altos de centenas de metros.

O Governo da Madeira, sabia perfeitamente que não havia estradas à volta da ilha e de há anos para cá, enfrentou um grandioso e caro projecto de furar montanhas e colocar pontes em sítios estratégicos, já sabendo dos perigos que iria enfrentar, no caso do aparecimento destas quebradas.


Mas isto não acontecia há 160 anos e assim, muitos pescadores à volta da ilha, foram construindo aldeias sem comunicação umas com as outras e só a pé, por montes e vales, se poderia chegar a qualquer lado, ou por barco, se o mar o permitisse, mas sempre com muita atenção às quebradas .


Talvez seja curioso anotar aqui, que a minha família oriunda desta ilha e da freguesia Madalena do Mar, conseguiu sobreviver a uma catástrofe ainda pior do que esta actual do Funchal, onde teriam morrido muitas centenas de pessoas e sem poderem receber ajuda nem pelo ar.


A minha bisavó se chamava Bettencourt e meu bisavô Leça. Desta união surgiram 13 filhos e mesmo indígenas daquela freguesia, quase todos tiveram cursos superiores, como médicos e eclesiásticos, todos com veia científica, que se espalharam pelo mundo, incluindo o Brasil.

Estava o mundo a passar por um período de grande agitação atmosférica, talvez devido à colocação do planeta Vénus, entre a Terra e o Sol, facto que só aconteceu em 1882 como agora está a acontecer em muitos sítios do Mundo.


Este facto, na ilha de S.Miguel, nos Açores, dava como origem a que todos os anos, por altura de chuvas violentas, a enorme Lagoa das Sete Cidades se enchia de tal forma, que todas as casas existentes na sua freguesia das Sete Cidades, ficavam submersas, até que há 90 anos, o Governo de S.Miguel, resolveu construir um túnel que escoa para o Oceano Atlântico, todas as águas além de um certo nível de segurança, e a freguesia se desenvolveu imenso, tornando-se um dos sítios mais belos e aprazíveis do Mundo !.


Ao fundo deste canal, agora belo e verdejante, logo agarrado às lagoas, existe a entrada para o túnel que deu origem a vários acidentes graves, por descuido dos operários.


Eu tinha 8 anos de idade, mas lembro-me muito bem, por meu avô ser médico, e o ter de ajudar em complicadas operações, o que descrevi na minha crónica "Um enfermeiro em miniatura".

Devido a estas chuvas, o enchimento da lagoa, era muito lento e dava tempo a que toda a gente procurasse pontos mais altos para viver, levando consigo tudo o que se poderia estragar com a água.

De lembrar que nesta época, não havia nada eléctrico, em casa alguma e era só deixar a água subir, perfeitamente límpida, e muito lentamente, até cobrir os telhados. Umas semanas depois, ou até meses, quando esta água se evaporava, era só voltar cada um às suas casas e pô-la em estado de lá poder viver ! Entretanto, as pessoas iam vivendo e pescando, para se alimentar.

Quase nada se estragava, mas actualmente, como o nível da água está limitado pelo túnel, tudo mudou e se tornou numa linda freguesia, com tudo o que é necessário de conforto.


Ou seja, TODOS SOMOS CULPADOS, por tudo o que nos vai acontecendo, muitas vezes por falta de respeito pelos sítios escolhidos para as habitações e a sua defeituosa construção.

1 comentário:

tibeu disse...

Hoje vim aqui deixar um beijo de amizade.