quinta-feira, 10 de setembro de 2009

E LEVEI A VIDA A BRINCAR





Crónica nº.107 de 11 de Setembro de 2009


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" E LEVEI A VIDA A BRINCAR "
(Î)
(Nota: Como vou ter de inserir muitas fotos, resolvi dividir esta crónica em várias partes.)

Quando se chega acima dos 80 anos, e se se teve uma vida muito cheia de vivência de muitos assuntos diferentes, e se se fizeram algumas fotografias, chega a parecer impossível que se tenha feito tanta coisa... mesmo que a maioria tenha sido como brincadeira.
Na verdade, quando se ama o que estamos a fazer, e foi o meu caso, tanto podem ser assuntos de amador como profissional. Por isso, intitulei esta crónica de "E levei a vida a brincar", embora mais de 35 anos, como profissional de electrónica, numa empresa americana, a RARET.

Mas olhando bem ao longe, acabo por verificar que pertenço a uma família muito especial e digna de alguma referência, até para entender o porquê de tanto eu como meu irmão Carlos Mar Bettencourt Faria, termos levado umas vidas um tanto especiais...

Me perdoe o leitor o não ir directo ao assunto, mas um meu grande amigo actual, um dia me perguntou onde eu e meu irmão, teriamos ido buscar este tremendo entusiasmo pela vida.
Mas quando desejei responder, tive de ir muito atrás aos meus ascendentes da ilha da Madeira.
Eu nunca fui grande entusiasta por ir meter o nariz no passado, mas sei que meu avô, de origem madeirense, duma terra chamada Madalena do Mar, e teve 13 irmãos, todos de nome Bettencourt Leça e, por isso, eu devo ter imensos primos por lá ! Estes Bettencourt estão espalhados por todas as ilhas açorianas, mas os Leça, são o ramo a que pertenço.







Originários de uma família talvez modesta, nem sei como conseguiram todos sobreviver e ainda conseguirem tirar cursos superiores, como meu avô em medicina e um que chegou a Cónego e muito admirado pelos seus vastos conhecimentos de astrofísica.
Estou em acreditar que todos se entre ajudariam, dado que meu avô, como não conseguia comprar os imensos e caríssimos livros de medicina, se refugiava na Biblioteca da Universidade e, como tinha muito jeito para desenhar, teve muito que riscar, não só para ele, mas também para um seu amigo...

Foi aí que ele entrou em contacto com outro aluno também pobre, mas não tinha tanta habilidade para o desenho, o José Alberto de Carvalho Ferraz, e assim foram estudando, muitas vezes na casa duma senhora pianista e com grande habilidade para línguas, que lá ia ensinando música, como treinando inglês e francês, além do português, às meninas inglesas que por lá abundavam na Madeira, filhas de doentes de tuberculose e lá encontrarem um clima muito ameno.
Em Dezembro de 2006, escrevi uma crónica intitulada " No centro das festas", sobre esta maravilhosa senhora, a D.Leonor Ester de Carvalho Ferraz, que acabaria por ser minha avó materna.

Foi esta senhora que custeava os estudos do seu irmão José Alberto, um jovem apaixonado pela música como a sua irmã, mas em violoncelo, tendo chegado a tocar em Lisboa, para sua magestade o Rei D.Carlos. Infelizmente morreu muito cedo, com uns 40 anos, mas tendo deixado o seu nome gravado numa rua em Belas, onde tinha ido viver e fazer medicina.

Minha avó, que era mais idosa do que o meu avô, uns 9 anos, sempre teve uns cabelos brancos de aspecto prata e era muito linda, mesmo de aspecto imponente !





Ela era muito nervosa, mas quando entrava em palco para se exibir, nos seus concertos de música séria, normalmente quase que a sala linha abaixo com palmas.
Em 7 de Julho de 2007, descrevi uma crónica dedicada a este meu tio José Alberto, que odiava política e tropa, e chegou a ficar cego, quando foi obrigado a estar na tropa em Lisboa.
Essa crónica, a intitulei, " E cegou de tristeza ".
Isto se passou antes do curso de medicina, que ele adorava poder fazer e só o conseguiu, quando minha avó e irmã, conseguiu ajudar financeiramente com o dinheiro das suas lições.
Como meu avô gostava imenso de música e tinha muita habilidade de mãos, não se ralou nada de vir a casar com aquela senhora mais idosa do que ele, 9 anos, e até numa situação muito triste para ela, porque já estava pedida em casamento por outro jovem que havia falecido pouco tempo antes, já com o dia de casamento marcado .
Mas ambos se fizeram médicos e brilhantes !
Como a vida de um jovem médico era muito difícil, naquela altura, meu avô aceitou um convite para médico de bordo de um navio que estava para sair para as Bermudas, mas ele se afundou e morreu toda a tripulação, tendo ficado minha avó desesperada novamente e viúva.
Felizmente que antes do navio desaparecer, meu avô estava a ser operado ao apêndice em terra numa ilha e quando noutro navio, voltou à Madeira, minha avó, muito nervosa, nunca mais o deixou embarcar, e foram ambos parar à ilha de S. Miguel, fazer assistência médica na freguesia da Maia, ao norte da ilha.
Aí nasceu o seu primeiro filho, a quem foi dado o nome de Francisco Assiz Bettencourt Leça.
Como não havia médico na costa Sul, meu avô se candidata a essa zona e foi parar a uma freguesia de nome Ginetes, onde veio a nascer a minha mãe, Maria da Luz Ferraz Bettencourt Leça, em Fevereiro de 1902.
Teria agora, 107 anos, se não tivesse falecido ha pouco tempo, e como a sua mãe, também era exímia tocadora de piano, de bordados e desenho em que era duma perfeição máxima, além de muito bonita.
Mal sabiam eles que os Ginetes, era um dos sítios mais procurados pelas pessoas mais gradas da ilha, e onde tinham os seus palácios. Ginetes fica num baixo, em que uma montanha não deixa ver o Oceano Atlântico, mas tem a vantagem de não receber os ventos frios do mar.
Todos os dias, minha avó tinha de tocar o seu piano de cauda e mal chegou o verão e as nobres pessoas da cidade de Ponta Delgada, para férias, todos se passaram a encontrar em reuniões elegantes, em casa do Dr. Carlos Abel Bettencourt Leça e sua esposa Leonor Ester Ferraz Bettencurt Leça.
Fim da primeira parte

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