quarta-feira, 30 de setembro de 2009

E LEVEI A VIDA A BRINCAR (lll)














Crónica Nº. 109

1 de Outubro de 2009

CT1DT@SAPO.PT



E LEVEI A VIDA A BRINCAR (l l l)

Nesta secção da crónica, estou tentado a mostrar algumas das minhas actividades entretanto realizadas há muitos anos, mas como as fotografias então feitas, eram a preto e branco, porque as fotos a cores, ainda não existiam, a maioria terá de ser a preto e branco.

Espero que o leitor encontre algum interesse nesta crónica, pois talvez até tenha sido ou deseje fazer pela sua vida fora, algo parecido, para sentir como eu, uma vida muito entretida e com muitos assuntos diversos.

Quando se ama o que estamos a fazer, estamos realmente a brincar, quer se tenha 2 anos ou 82.

Quando se chega à minha idade, e se se procurou uma actividade profissional que se possa executar com prazer, e se temos em casa, também uma actividade agradável, estaremos a viver a brincar.
Nesta imagem rara, estamos em S.Miguel. Açores, na freguesia de Ginetes, mas em 1938.

Ela é especial para mim, porque nos extremos, estão meus dois primos nascidos nos Ginetes e de todos os outros, só eu sou açoriano de gema e aí estou todo encaracolado, sobre o Austin-7 que meu avô tinha acabado de adquirir, depois de se ter desfeito do "Char à banc" que era puxado por um dócil e belo cavalo castanho.

O resto da trupe, eram os meus irmãos, todos nascidos em Portugal Continental, enquanto meu pai ultimava o funcionamento da sua Empresa Nacional de Máquinas, em 1926, devido às contantes revoluções militares e às trocas de Governos.

Como se pode ver, estavamos todos na Escola Primária.

Como as estradas eram todas muito más, aquele carrinho era tratado com muito cuidado e até a manjedoira foi tapada para fazer dela uma pequena bancada de trabalho de beneficiação do carrinho, todo cheio de ferramentas de meu pai, que havia chegado do continente para consumir os seus últimos dias de vida. Ele estava atacado duma doença muito grave e que não perdoava, se não fosse tratada a tempo, mas mesmo assim, como gostava muito de "brincar" se manteve até ao fim da sua vida, entretido com vários tecnologias, desde a reparação de todo o tipo de relógios à complicada afinação de órgãos de igreja, agricultura, e outras engenharias, além de ir dando uns passeios a pé ou no carro de meu avô.

Eu o descrevi na crónica "Martins Faria, uma vida de sonhos ", em 9 de Março de 2007.

A sua grave doença, por ser muito contagiosa, exigia que todos estivéssemos à distância, o que muito nos entristecia, e incluindo minha mãe que teve de ir dormir com filhos, para o sótão, por imposição de meu avô !
Até a sala de convívio e música, foi mudada para outra sala, para que meu pai tivesse pouca possibilidade de contagiar a familia e as visitas, pelo que tudo foi mudado. Foi uma imensa reviravolta de todas as nossas vidas.

Até antes de ele chegar, especialmente eu, todos levávamos uma vida de grande entretenimento a fazer e gozar com os nossos brinquedos. Talvez o que mais gozo me deu, foi um a que chamei de monocicleta, que era um pau de vassoura com uma forquilha em baixo, onde eu havia colocado uma roda de ferro, duma velha máquina de moer café e, para me agarrar, coloquei um pau transversal, com um travão puchado por um cordel e empurrava uma tábuinha sobre a roda, travando-a. A outra ponta, apoiava-se no meu ombro e podia correr lindamente com aquilo, pois me cansava muito pouco.

Talvez por ter sido meu avô que me ajudou a vir a este mundo, ele mostrava uma especial atenção a tudo o que eu fazia e me divertia e, como ele era muito engenhocas, também "brincava" muito no seu "laboratório" que era uma grande oficina que tomava 1/3 do sótão , que em S.Miguel se chama falsa, e onde guardava imensas coisas, para seu entretenimento, como torno a pedal, todo montado em ferro, uma bancada de marcenaria dotada de muitas ferramentas, uma forja, material de caça, prelo de impressão com milhares de letras de muitos tipos, e o seu "laboratório fotográfico" , além de muitas outras coisas mais.

Assim que ele abria a porta da sua oficina, aí estava eu, pronto a fazer perguntas e a querer ajudar em tudo, o que ele me ia permitindo e sempre explicando.

Era no torno, uma espécie de grande máquina de costura, onde ele torneava as bolas e tacos do jogo de croquet, que eu punha o meu pé para ajudar e a sentir cair-me nos cabelos, as imensas aparas da madeira que iam saltando.

Mas quando ele se metia na casa da fotografia, depois de ter preparado cuidadosamente os banhos de revelação e fixagem, é que eu mais gostava... embora tivesse de ficar horas à espera que ele de lá saísse para eu ver as chapas de vidro com as fotografias em negativo! Aquilo até parecia magia !

Mas como o mais que ele me poderia dizer, era que "agora não...", eu acabei por pedir-lhe para assistir e ele deixou, pelo que mesmo nos bicos dos pés, porque a bancada era alta, consegui assistir a todo aquele trabalho maravilhoso feito a uma fraca luz vermelha, porque as chapas eram ortocromáticas, naquela época !

Só muito mais tarde é que eu vim a saber que havia as pancromáticas e como era sensível ao vermelho, essa cor não poderia ser usada, mas sim uma verde muito escura.

No andar debaixo, provavelmente estaria minha avó ou minha mãe a tocar ou a aperfeiçoar as suas lindas músicas de piano.

Aquela "casa cor de rosa", era mais bonita naquela altura, porque todas as janelas tinham persianas encarnadas, mas agora, já com outros donos, embora continue cor-de-rosa, já não as tem.

Esta foto foi tirada há pouco tempo e já com outra em frente, além duma escola.

Como os tectos eram muito altos, dessa janela que se vê em cima, havia outra do lado oposto, e era onde o meu avô tinha a sua oficina, enquanto nesta que se vê à esquerda, era por onde poderíamos ver tudo o que se passava em baixo, embora com certa dificuldade, porque nessa altura, há 70 anos, a casa era toda rodeada de frondosas árvores.

A entrada para a casa, era por este portão de ferro que interrompe o muro branco e que acompanha todo o terreno, de uns 50 metros.

Mesmo em frente da porta principal, havia 3 degraus em pedra, onde se faziam belas fotos.

Como os rapazes estavam a jogar no croquet, um deles, à esquerda, até tem o seu taco de jogo, ao ombro, certamente para ir ficar presente na fotografia.

Esta foto é certamente histórica e foi tirada em frente da casa, nos degraus acima citados, e onde se pode ver uma das janelas de persianas fechadas.

À esquerda de todos, pode ver-se de chapéu, o farmacêutico Sr. Vargas Moniz, pois naquela época, onde existisse médico, tinha de haver um farmacêutico para fazer os remédios. Assim, a farmácia era um ponto de encontro para as pessoas mais gradas da terra, além do posto telefónico e de notícias.

Ele também veio da Maia, com alguns dos seus 4 filhos mais velhos, enquanto outros ficaram amigos íntimos da minha mãe, como o Eng. Vargas Moniz, que foi Eng. Chefe do Arsenal do Alfeite e que descrevi neste blog, em "Meu amigo Eng. Rogério Vargas Moniz", publicado em 25 de Março de 2007. Um dos outros irmãos, se formou em genecologia, e todos atingiram graus académicos importantes .

Tenho reparado que este jogo do croquet, por não ser cá conhecido em Portugal continental, tem dado azo a muitas confusões, dada a sua semelhança com o jogo do cricket, mas é muito diferente, embora também jogado com tacos a bolas do tamanho de laranjas.
É que no croquet, temos de destruir o jogo dos adversários, atirando a nossa bola, com muita precisão, até à grande distancia dos cerca de 20 metros do campo e, se lhe tocarmos, temos direito a fazer um croque, prendendo bem a nossa bola com um pé e batendo-lhe com o maço com a força necessária para que a bola do nosso adversário, e que está encostada à nossa, fosse parar o mais longe possível, estragando-lhe o jogo. Obviamente que esta operação tem de ser feita com cuidado, senão bateríamos no nosso próprio pé...
Tendo conseguido o croque, podíamos continuar a jogar, crocando para este e para aquele, até onde pudéssemos. Depois seguia-se o outro adversário. Assim, quem tivesse mais habilidade, e muitos croques, quase nunca mais parava...

Assim, todo o jogo é feito e calculado para destruir o jogo dos nossos adversários e irmos, entretanto, passando os 8 arcos de ferro colocados fortemente no terreno e, além disso irmos passando por dois arcos em cruz, com uma campainha pendurada e que está no meio do campo.
Além disso, onde se começa e se acaba o jogo, existem dois paus na vertical (estacas) e onde lhe temos de bater com a nossa bola, no fim do jogo. Todos os arcos de ferro, só podem ser passados num sentido.
Destes constantes CROQUES (choques) é que teria surgido o nome de JOGO DO CROQUET.

No nosso caso, para que os assistentes pudessem estar à sombra, havia um caramanchão forrado de plantas aromáticas, por todos os lados, excepto à frente e a toda a volta, muitas árvores como o plátano, em forma de tecto.

Eu estava desejoso de pode chegar às fotos de alguns dos meus brinquedos, mas como isto já está muito grande, vou ter de o fazer, se ainda estiver vivo... na crónica seguinte, a Nº. lV.

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