domingo, 29 de outubro de 2006

O GERADOR LOUCO

UM CASO DE POTÊNCIA DESCONTROLADA

Um gerador ONAN de 150 KW a gasolina super e novo, da RARET, passado poucos meses de funcionamento, e porque só funcionava uns minutos, de meses a meses, como standby à EDP, entrou a fazer disparate de aumentar e descer intempestivamente de RPM, saltando constantemente de 200 para 250V o que o transformou numa boa dor de cabeça, porque todos os equipamentos electrónicos ligados a ele, não admitiam aquelas variações de tensão. O pior é que nem os representantes da marca, conseguiam resolver o problema e os anos se iam passando. Felizmente que tínhamos um de 50kW, e que lá ia servindo, após o pessoal ter o cuidado de aliviar a carga. Aquilo parecia muito estranho, pois com o motor parado, todas as alavancas de comando do bruto carburador duplo, estavam leves, mas mal o motor arrancava, ficavam presos e reagindo aos esticões do RPM ! Era de dar em doido ! Um dia, resolvi arriscar uma manobra de arrepiar, com ele sem carga e que consistiu em desligar o comando automático de aceleração, agarrando com uma mão a borboleta do carburador e com a outra, a alavanca do sistema centrífugo. Eu não sabia se poderia segurar a alavanca do sistema centrifugo com uma mão, mas deixei o Eng. meu chefe, única pessoa presente, pronto a desligar o gerador, se eu lhe abanasse com a cabeça para desligar. Eu tremia, como varas verdes, quando disse ao engenheiro para ligar aquele bruto gerador, mas pensei que aquilo devia ser suave e, assim aconteceu. De imediato constatei que mal o motor arrancou, a borboleta ficava presa e daí a dificuldade de a alavanca de comando conseguir corrigi-lo.
Como as borboletas estavam presas, o “governador” ia fazendo força, até que elas fossem movidas, mas iam parar além do desejado. De imediato o comando puxava e puxava, até fazê-las saltar novamente, mas já era demasiado. Obviamente, o RPM do gerador, ficava louco…

Do lado da alavanca do regulador, estava perfeito e suave. O problema estava dentro do bruto carburador e havia que retirá-lo para verificar o porquê daquelas prisões laterais, o que foi de imediato feito, após se ter dele desligado todos os componentes do combustível, filtros de ar, choque, termóstato, etc.
Estava descoberta a macacoa e que consistia nos rolamentos de apoio das borboletas, que se tinham enferrujado com o gelo gerado pela entrada da gasolina, e ficavam com folga lateral, encostando e prendendo as duas borboletas aos venturis. Só era pois necessário substituir esses rolamentos, mas os que tínhamos à mão, o diâmetro externo era exacto, mas o interno era grande demais.

Havia de encasquilhar, e urgentemente, pedindo a Deus que a HEAA não cortasse…todas as cargas desnecessárias foram desligadas, para que o pequeno gerador de 50 KW pudesse aguentar, em caso de falha da EDP. Aqui surge outra odisseia; todos os torneiros de Benavente estavam ocupados !
Resolvi pedir a um amigo electricista, de nome Júlio Gonçalves, que tinha um pequeno torno, para me deixar tornear os dois casquilhos e assim o fiz, voltando a remontar o enorme carburador no seu sítio e, para minha grande alegria, quando dei o arranque ao gerador, aquilo ficou pianíssimo !

Dando uma sacudidela na alavanca de comando, o motor ia de imediato para as rotações certas. Só faltava fazer o test real, com todas as cargas ligadas a ele, perante a “amargura” do pessoal da Operação dos Receptores que já sabia que, se aquilo desse para o torto, todos os receptores iriam saltar de frequência e perder-se TODOS os programas. Assim, com os três funcionários a postos, dois operadores e o Chefe de Turno, e o gerador aquecido, largou-se a HEAA e tudo ficou perfeito, nuns décimos de segundo ! Tirei cargas brutas e meti outras, e o gerador sempre a corrigir o RPM. 220Vac/50 Hz ! Os americanos, e o pessoal português, que já nem sabiam como resolver este problema, e não havia massa para comprar outro, lá estavam à espera de que algo se fizesse…mas, nos seus gabinetes do Centro Emissor da Gloria e Estúdios em Lisboa.
Mas para minha amargura, uns dias depois da solução do problema, numa visita ao Centro de Recepção, em Benavente, do americano chefe, o Eng. meu chefe, foi-se a ele e disse que NÓS já tínhamos conseguido resolver o problema, ao que o americano, nem querendo saber COMO…, se limitou a responder: Good boys…

Aquilo chateou-me à grande, pois eu tinha estado SOZINHO naquele problema de tão grande responsabilidade, e não teria custado nada ao meu chefe, dizer ao americano, quem tinha solucionado o problema, que até a engenharia responsável, tinha posto de parte... Problemas de quem não tem “canudo”… e é um simples rádio-tecnico.

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