sexta-feira, 17 de novembro de 2006

EPISÓDIOS DESENHADOS NUM HOSPITAL

CARICATURANDO NUM HOSPITAL

Quando a minha falecida esposa, teve de ser operada a um cancer nos intestinos, no Hospital de Vila Franca de Xira, eu tive de lá estar horas há espera de a poder ver, e fui-me dando conta de imensas situações mais ou menos cómicas, que me despoletaram a vontade de voltar a caricaturar, coisa que sempre gostei de fazer, desde a minha instrução primária.

Já num sanatório do Caramulo, onde tive o azar de ir bater com os costados, quando tinha 18 anos, lá encontrei imensas caras que eu conseguia caricaturar facilmente, pelo que durante anos, as fui fazendo, embora alguns doentes, não achassem graça nenhuma a se verem assim tão ridiculamente caricaturados...

Mas, quem se sente com habilidade para caricaturar, leva a vida a olhar para as pessoas, tentando encontrar os seus defeitos mais visíveis, mas há muitas gente com feições tão correctas, que não se pode exagerar NADA...

Uns anos depois, em 1951, quando da minha entrada para a RARET em Benavente, continuei com esta "mania", mas felizmente que toda a malta achava graça às suas caras caricaturadas e até muitos me pediram para as fazer em tamanho grande, para poderem emoldurar e colocar nas suas salas.

Logo por azar, o meu chefe, um tal Adriano Lopes Vieira, radioamador CT1CW, já falecido, que estava a chefiar a Empresa em Benavente, era das figuras mais simples de caricaturar, e isso quase me veio a custar a expulsão da Empresa, logo nos primeiros dias...

Ele era gordo de barriga, mas com umas pernas muito magras e uma testa que nunca mais acabava...

Peguei numa caneta e ali num papel qualquer, fiz a sua caricatura, mas perante o receio de que ele a viesse a descobrir, amachuquei-a toda e deitei-a no caixote do lixo. Infelizmente, o papel foi-se abrindo e o amigo Lopes Vieira logo a agarrou e mandou chamar-me.

Quando cheguei, os meus colegas um tanto espavoridos, comunicaram-me que o chefe estava à minha espera e lá vou eu bater à porta do seu micro-gabinete, já à espera duma valente descompostura e talvez o ser despedido...

Embora não se veja no desenho, estava um toiro na base da torre de uma antena, à espera que ele descesse...

Quando entrei no gabinete, ele tinha o meu desenho, todo amarrotado, sobre a mesa, e com a sua voz sempre autoritária e muito sério, pergunta-me: - Foi o senhor que fez isto ?- Eu fiquei todo a tremer...

Mas o que é que eu vou responder ? -Pois desculpe, mas eu não o queria ofender... lamentei-me eu de tão triste ideia que tinha tido...

-Então faça isto em papel grande e perfeito, porque eu quero emoldurar isto e por na minha sala.

Aquilo é que foi um alívio !!!! Quase chorei de alegria !

Uns anos depois, já casado e com filhos, em 1991, minha falecida esposa teve de ser internada no Hospital de Vila Franca De Xira, mas mal tinha a possibilidade de a visitar, com tanta e tanta gente à sua volta, que eu ali fiquei assentado ao lado, a ver passar a hora da visita, sem me poder a ela chegar e vai de fazer a caricatura marcada com o nº14 do grande role de caricaturas, mais de 40, que se haviam de seguir.

Embora não se veja, esta era a "famosa" nº. 14

Mas um enfermeiro que por lá me encontrou a desenhar, achou tanta graça, que logo me pediu para ir fazer fotocópias e mostrá-las não só aos colegas, mas a todos os médicos e pessoal administrativo.

Nunca me havia passado pela cabeça que tanta gente estivesse interessada naqueles desenhos !!! mas um certo dia, estranhei saber que só poderia entrar uma pessoa de cada vez, para visitar o seu doente e inquiri o enfermeiro sobre aquela tão profunda alteração. Mais, fiquei admirado quando ele me disse que a caricatura 14, havia chegado à Administração do Hospital e também as que mostravam uma data de malta a "chatear" os doentes com tanta gente à sua volta e que numa reunião da Administração, essas "terríveis" caricaturas, haviam levado àquela alteração.

Mal sabia eu que uma simples caricatura, como aquela nº14, iria dar tamanha bronca, mas que resultou !

A partir daquela altura, foi um alivio para os doentes e enfermeiros, com muito menos "alarido" na hora das visitas...

Como eu tinha muito tempo disponível, fui passeando mais ou menos silenciosamente por todo o lado e descobrindo muitas situações engraçadas, mas inventadas, em especial as que se referem ao " Xico esperto", porque eram uns mecânicos que lá andavam a vontade por todos os lados, porque tinham de reparar campainhas, candeeiros, etc.

Por isso, eles aparecem de fato de macaco, em que um "explica" ao outro, o que se está a fazer aos doentes.

Mas uma coisa eu havia reparado, pela frincha duma porta onde os médicos se reuniam para conversar; é que, embora por todos os lados houvessem cartazes a proibir fumar, quase todos estavam de cigarro na boca...

Aquilo tocou a médicos, enfermeiros, bombeiros, radiologista, serventes, etc.

" Malvadas portas automáticas "....

Mas obviamente, não posso aqui continuar a apresentar desenhos, porque são mais de 40... mas fica uma ideia do gozo que aquela malta sentia ao vê-los.

Se no entanto, houver alguma manifestação de interesse por mais algumas, é só dizerem.

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