sexta-feira, 3 de novembro de 2006

JOSÉ ROSA Por João Martinho

Mais um curioso artigo de João Vitalino Martinho

JOSÉ ROSA

1905-1992


Por
João Martinho



Ti Zé Rosa nasceu no berço de oiro do trabalho, da honradez e da dignidade.


Mal tomou consciência de ser vivo, ainda no berço tosco de madeira de pinho, e a sua acuidade visual lhe permitiu distinguir formas e cores, corria a vista por ripas e barrotes irregulares da cobertura de telha vã da sua casa de aldeia.


Naquele tempo, casar não era apenas unir destinos. Era inverosímil uma união sem, previamente, fazerem a sua própria casa dando forma à ideia implícita no verbo casar (arranjar casa).


Com a ajuda dos pais, vizinhos e amigos o noivo amassava o barro que, misturado com palha de trigo, constituía a matéria prima para o fabrico de adobes com que se erguiam as paredes.

Há poucas décadas ainda, esta era uma prática comum no Espinheiro a atestar a influência árabe justificada minimamente pela própria palavra adobe, sendo este, na sua essência um paralelepípedo rectângulo que se unia a outros por juntas de terra amassada e pedaços de pedra.


O noivo tinha a seu cargo a abertura de alicerces e a serração de madeiras de pinho nos fartos pinhais de que o Espinheiro dispunha e onde se abastecia de caruma e pinhas que serviam de acendalhas as quais eram, frequentemente vendidas no mercado de Alcanena no tempo em que se cozinhava com fogões alimentados a lenha.

À noiva competia o transporte de água em infusas, à cabeça. Colaborava activamente em todas as tarefas onde se incluía a preparação da comida para os intervenientes na construção da casa. E quanto mais diligente se mostrasse mais apreciada era pela comunidade que não se cansava de a gabar como excelente partido e a apontava como exemplo a seguir, comunidade essa que se regia por uma série de preceitos em que avultava o dever de inter ajuda e de apoio permanente, dois itens de grande valor sociológico.


Zé Rosa, para não ficar moiro, como se dizia então, foi baptizado com o nome cristão de José, palavra que vem do hebraico “Yosef”e significa “que Deus multiplique”. O apelido Rosa vem do latim, flor muito apreciada com que foram apelidados ( e continuam a ser ) muitos membros da referência judaico-cristã, verdadeira génese do povo que hoje somos.


Zé Rosa, de menino foi rapaz e de rapaz se fez homem percorrendo todas as etapes comuns às gentes do Espinheiro. O trabalho a que foi habituado desde criança foi a bandeira que o norteou pela vida fora . Dizia-se então:


“o trabalho do menino é pouco mas quem o despreza é louco” e “ quem não trabalha não come”. Viemos ao mundo para trabalhar, era um princípio religiosamente interiorizado em que assentavam os pilares da honradez e da autoestima e serviu de catapulta a muitos espinheirenses que se guindaram a posições de grande relevo na vida pública em cumprimento do guião paternal onde não havia lugar para demissões da condição de educador..

Zé Rosa foi um trabalhador emérito que merecia as mais altas distinções, correndo lugares e lugarejos, ora vendendo sardinha, ora serrando ora arroteando terrenos incultos.

Sempre alegre e bem disposto, descalço e de barrete negro com uma grande borla que pendia até à cinta, completava o seu visual um pau de marmeleiro que ele próprio descascara depois de cozido no forno e polira com cal apagada.


Naquele tempo era impensável para o homem deslocar-se a qualquer parte sem a arma a que mais facilmente tinha acesso. O pau era um precioso instrumento na defesa da integridade física perante as arremetidas dos cães ou a falsa fé de algum provocador ou arruaceiro.


Zé Rosa, à custa do exercício, celebrizou-se pela agilidade com que se defendia ou atacava, não permitindo a aproximação de qualquer contendor.


Com garbo e maestria enfileirou naquela espécie de círio que, anualmente, se deslocava à povoação do Prado sob o comando doTi João da Tota e onde, à boa maneira das justas e torneios se exibiam todas as figuras do jogo do pau com que se celebrizou o Espinheiro nesta manifestação profana a S.Brás.


O apelido Rosa vem do latim, flor muito apreciada com que foram

apelidados ( e continuam a ser ) muitos membros da referência judaico-cristã, verdadeira génese do povo que hoje somos.


Zé Rosa, de menino foi rapaz e de rapaz se fez homem percorrendo todas as etapes comuns às gentes do Espinheiro. O trabalho a que foi habituado desde criança foi a bandeira que o norteou pela vida fora . Dizia-se então:

“o trabalho do menino é pouco mas quem o despreza é louco” e “ quem não trabalha não come”. Viemos ao mundo para trabalhar, era um princípio religiosamente interiorizado em que assentavam os pilares da honradez e da autoestima e serviu de catapulta a muitos espinheirenses que se guindaram a posições de grande relevo na vida pública em cumprimento do guião paternal onde não havia lugar para demissões da condição de educador..

Zé Rosa foi um trabalhador emérito que merecia as mais altas distinções, correndo lugares e lugarejos, ora vendendo sardinha, ora serrando ora arroteando terrenos incultos.


Sempre alegre e bem disposto, descalço e de barrete negro com uma grande borla que pendia até à cinta, completava o seu visual um pau de marmeleiro que ele próprio descascara depois de cozido no forno e polira com cal apagada.


Naquele tempo era impensável para o homem deslocar-se a qualquer parte sem a arma a que mais facilmente tinha acesso. O pau era um precioso instrumento na defesa da integridade física perante as arremetidas dos cães ou a falsa fé de algum provocador ou arruaceiro.


Zé Rosa, à custa do exercício, celebrizou-se pela agilidade com que se defendia ou atacava, não permitindo a aproximação de qualquer contendor.


Com garbo e maestria enfileirou naquela espécie de círio que, anualmente, se deslocava à povoação do Prado sob o comando do Ti João da Tota e onde, à boa maneira das justas e torneios se exibiam todas as figuras do jogo do pau com que se celebrizou o Espinheiro nesta manifestação profana a S.Brás.


Nas conversas entre amigos se algum punha em destaque as qualidades de determinado jogador, Zé Rosa, invariavelmente, sem se considerar um super ego, judiciosamente profetizava:

-Não gabes o burro sem o meteres ao lameiro….


Completados os 87 anos, sentindo que a centelha da vida enfraquecia


esmorecendo-lhe o físico e o espírito, reavivou-se-lhe o mistério do final.


Chamou o filho e pediu-lhe que cumprisse a sua última vontade.

-Filho ,quando eu estiver amortalhado quero que ponhas o meu pau no caixão à minha mão direita.


Foi cumprido o seu desígnio e lá partiu preparado para qualquer surpresa na sua última viajem…


Fim

Sem comentários: