sexta-feira, 3 de novembro de 2006

O AUTOGIRO, máquina estranha de voar...

Quando em 1927, o Eng. Piloto aviador, Juan de LaCierva, conseguiu substituir as asas dum avião, por um rotor que andava livre de volta, só com o vento e que criava sustentação, havia descoberto uma das aeronaves mais interessantes, o AUTOGIRO.

Para os seus primeiros ensaios, ele usou um avião normal, havendo retirado as asas, mas só depois de muitos ensaios, conseguiu provar ao mundo da aviação, que finalmente, havia uma máquina voadora que não "entrava em perda" e aproveitando a rotação do rotor, até poderia pousar quase sem rolar, ou até mesmo sem rolar de todo.

Nessa altura, estava a haver um grande entusiasmo com as máquinas que pudessem descolar e aterrar na vertical, como são hoje, todos os helicópteros, mas a história conta imensos e até fatais aparelhos que eram imensamente difíceis de pilotar, provocando acidentes gravíssimos.

Entretanto, o AUTOGIRO que foi mal recebido em Espanha, levou a que o seu inventor tivesse de saltar para Inglaterra que o recebeu de braços abertos e lhe permitiu começar a fabricar este tipo de aeronave, sendo a primeira que conseguiu voar entre Inglaterra e França, por volta de 1930, e ainda foram construídas mais de 500.

LaCierva já tinha constatado que a maioria dos acidentes aéreos, se davam por "entradas em perda", situação em que todos os aviões caem, quando é diminuída a sua velocidade. O seu AUTOGIRO, NUNCA poderia entrar em perda !

No entanto, os militares só estavam interessados em helicópteros, porque deviam descolar e aterrar sem a necessidade de pistas, e de poderem estacionar perfeitamente, a qualquer altura do solo ou da água. Assim, LaCierva, não encontrou ajuda dos militares e todo o mundo estava a aguardar o desenvolvimento dos helicópteros.

Na realidade, já em França, em 1907, Louis Breguet e Paul Cornu, usando asas rotativas, haviam conseguido sair do solo, mas só durante uns segundos.

Em 1919, laCierva desenvolve drasticamente a construção dos rotores e consegue provar que poderia aterrar numa plataforma de um navio, embora para de lá sair, tivesse de provocar uma sustentação momentânea do rotor lançado, para sair do navio, para o lado, e conseguindo retomar o voo logo de seguida. Para tal, ele havia engrenado o motor por veios e carretos, ao rotor, para o embalar, mas tinha de o desligar de imediato, após a descolagem, por causa do torque que punha o aparelho a rodar no sentido contrário ao rotor...

laCierva teve o azar de morrer num acidente de avião que entrou em perda à descolagem, quando duma sua viagem para Inglaterra, o que representou uma enorme perda para a humanidade, pois certamente que já tendo muita experiência do torque, iria inventar uma forma de lhe dar a volta...

Houve imensos "engenhocas" que tentaram anular o malvado torque e muitas máquinas foram construídas, testadas e abandonadas.

Só em 1936, o alemão Heinrich Focke, conseguiu construir um helicóptero funcional, mas por causa do torque, usava dois rotores idênticos, a rodar em sentido contrário.

Os aparelhos de rotor único, só apareceram desenvolvidos nos EUA, pelo russo Igor Sikorsky, em 1939. Depois duma série de acidentes, como era dotado duma habilidade extraordinária, passado pouco tempo, já estava a experimentar outro modelo. Ele encontrou muito carinho dos EUA, na pessoa do construtor de automóveis, Henry Ford.

Sempre impecavelmente vestido e de chapéu de côco, lá se metia aos comandos das máquinas, sempre acompanhado de perto pelos jornalistas e fotógrafos, para poder provar que havia inventado uma máquina de voo vertical, pilotável e viável.

Ele sabia perfeitamente, que uma vez provado que conseguiria pilotar um helicóptero, teria o mundo na mão, e assim aconteceu. Hoje há milhões de helicópteros por todo o mundo, aproveitando da experiência destes persistentes "engenhocas".

No entanto, todos os helicópteros são máquinas imensamente complexas e caras, pelo que o entusiasmo pelos autogiros, foi sendo perseguido por aqueles mais ou menos amadores e que desejavam possuir uma destas pequenas máquinas, até porque facilmente as poderiam transportar num pequeno reboque, até um curto terreno, onde pudessem fazer a descolagem.

Quando foi do fim da última guerra na Europa, um militar padre e americano, de nome Igor Bensen, foi descobrir que os alemães tinham estado a desenvolver uns minúsculos autogiros que rebocados de bordo de submarinos, podiam vistoriar o horizonte, enquanto os submarinos estavam à superfície, para carregarem as baterias. Estes autogiros teriam de ser extremamente simples de arrumar rapidamente, assim que o marinheiro de vigia, desse pelas esquadrilhas dos aviões aliados, e poderem submergir. Estes autogios, funcionavam com papagaios e podiam elevar-se a grandes alturas.

De volta aos EUA, começou a fabricar autogiros a que deu o nome de ROTORCRAFT e a vendê-los para todo o mundo, em forma de Kits.

Nessa época, a Bensen vendia uns planos muito detalhados para a construção amador mas sendo um aparelho para voar, e muitas pessoas se montavam neles, sem nunca terem voado nem aprendido os seus "segredos", houve muitos acidentes até mortais, pelo que criaram muito má fama. Mas como tudo na vida, há sempre aquelas pessoas com mais habilidade, que lá iam conseguindo voar e mais tarde uns anos, com o aparecimento dos modelos bi-lugar, já se podia aprender a pilotá-los com instrutor.

Obviamente, deixaram de existir tantos acidentes. Hoje, em Portugal, em VISEU, já se pode aprender a pilotá-los, embora a nossa legislação aeronáutica ainda não facilite. Assim, vai-se a Espanha, compra-se o autogiro, é-se lá ensinado e depois Trás-se o aparelho para Portugal, com registo espanhol.

Mesmo assim, a sua entrada no mercado da aviação-amador, levou muitos anos a pegar. No entanto, tanto nos EUA, como África do Sul, França, Alemanha, Austrália, Espanha, etc. já existem milhões destas interessantes máquinas voadoras.

Na foto ao lado, podemos ver um modelo que construi em 1993, mas que não chegou a voar, por falta de um rotor de confiança e também , porque não tendo onde aprender a pilotá-lo, desisti, embora ainda o conserve como recordação.

A história que contei no artigo com o comandante Arcilio Costa, o autogiro havia sido fabricado em 1960, mas eu preferi descolá-lo a reboque dum automóvel, para aprender a pilotá-lo mais facilmente.

Foi aí que entrou a colaboração do Arcilio que, a bordo dum carro e uma corda com uns 30 metros, me começou a puxar num terreno que tinha servido a agricultura, e estava cheio de irregularidades, além de que era muito curto.

Mas como estava uma certa brisa, o rotor começou de imediato a rodar, mas depois da primeira corrida, não conseguia descolar. Assim, voltou-se ao inicio da pista e arrancou-se com mais velocidade. Se bem me lembro, tivemos de ir para os 40Km/h para conseguir descolá-lo, e voar umas dezenas de metros perto do solo, mas devido à minha ignorância, nem me apercebi de que estava com ângulo demasiado e acabei por ir bater com o rotor no solo, lá atrás, tendo-se tornado impilotável e, ao tentar aterrar a máquina, logo ela deu uma cambalhota e fui bater com a cabeça no solo, tendo ficado sem sentidos, embora ouvindo perfeitamente tudo o que se passava à minha volta. Depois de me terem posto em pé, e como não via absolutamente nada, pedi que me tirassem a terra que me devia estar a tapar os olhos, mas perante a sua informação de que não tinha terra alguma, aí pensei de imediato, que estava completamente cego !

Felizmente que uns minutos depois, comecei a aperceber-me de alguma claridade e depois de mais uns minutos, voltava a recuperar a vista totalmente.

Um tratorista com reboque e que assistiu ao acidente, veio logo ao nosso encontro e lá colocámos o espatifado autogiro sobre ele, trazendo-mo para casa.

Hoje, já há em Portugal mais de uma dúzia de autogiros de fábrica, coisas lindas de se ver e voar, como é o caso da imagem que se vê no início deste artigo e que pertence a um ilustre médico do Porto, o Dr. Joaquim Figueiredo, de quem sou muito amigo e com quem já tive o grande prazer de voar no seu belo AUTOGIRO.

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