quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Meu amigo Arcílio Costa

Falar de uma pessoa, enquanto ela ainda está viva e de boa saúde, é uma tarefa ingrata, porque nunca sabemos como ela nos irá interpretar e perdoar.

Arcílio Costa, é uma amigo que conservo desde há mais de 50 anos e nunca tivémos um amargo de boca, uma ausência de carinho.

Desde que o conheci, logo descobri nele uma pessoa invulgar, daquelas em quem gostámos de "tropeçar" pela vida, talvez por sentirmos que comunga dos mesmos gostos e paixões, talvez por sentirmos que é GRANDE e muito maior do que nós, daquelas pessoas a quem hoje se chama "amigos do peito".

Conheci-o por casualidade, na actividade de radioamador, desde 1950, em que ele tinha o indicativo CT1MI e vivia, como ainda hoje, em Oliveira de Azemeis.

Desde logo, as nossas conversas reportavam-se às coisas que mais nos estavam a encantar, nos disparates que já tinhamos feito, nas nossas aventuras em muitos campos da ciência, até na afinidade das nossas mocidades. Até parecia que éramos irmãos...

Só o vim a conhecer pessoalmente, 10 anos depois, em 1960, quando estando eu muito entusiasmado com as máquinas voadoras chamadas AUTOGIROS, e que tinha acabado de construir, ele resolveu vir por aí abaixo, propositadamente para me conhecer pessoalmente e ajudar nos primeiros ensaios daquela máquina.

Ele veio de véspera e por sorte, em contacto pela rádio, com um alemão, sobre os ensaios que íamos fazer no dia seguinte, com um autogiro, este alemão nos chamou à atenção para que não exigíssemos muito do ângulo de incidência do rotor, para que ele não fosse tocar no solo à nossa retaguarda e termos um acidente que podia ser muito grave.

Um dia destes, ainda irei descrever estes ensaios, pelo tanto de rocambolesco que o acompanhou.

Arcílio Costa também era um furioso entusiasta pela aviação e, na sua "fome" imensa de tudo descobrir neste campo, evoluiu de tal forma, que acabou por ter todos os brevets possíveis, desde os voos em ultraligeiros (ULM), às máquinas de grande porte com voos ao estrangeiro, nos aviões mais caros que havia entretanto, na mãos de alguns ricos particulares.

A sua afabilidade, granjeou-lhe imensas simpatias e, como piloto instrutor exigente, pôs a voar imensos entusiastas pela aviação.

Com este "fogo" na alma, ao saber que eu iria experimentar um autogiro, máquina de que sabendo já existirem a voar desde 1927, e sabendo que o meu aparelho iria ser testado a reboque de um automóvel, não podia deixar de desejar colaborar, até porque nunca tinha visto uma máquina destas, pessoalmente, mas sentia que aquela experiência tinha mesmo de ser acompanhada de perto.



Esta nossa paixão pelo voar, já vinha desde criança, como acontece à maioria das pessoas, em especial quando apreciamos o voar calmo das grandes aves e que nos leva a pensar no gozo que elas devem estar a sentir, quando se sentem a aproveitar as correntes ascendentes e ali ficam tempos sem fim a voar, sem terem de dar às asas.

Já em 1959, eu havia estado muito entusiasmado na construção dum helicóptero, historia esta também rocambolesca, que um dia irei descrever.

Mas voltando à companhia do Arcilio, ele sempre foi um furioso entusiasta pela electrónica, mas meteu-se, pela vida fora, em imensos campos científicos, onde fez furor e se destacou profissionalmente de todo o mundo que o rodeava, tendo frequentado cursos no estrangeiro, para o que se sentia habilitado em várias línguas.

Ainda hoje, já com mais de 70 anos e bem a caminho dos 80, não consegue ter um único dia parado, sem fazer nada ! Com uma sala no sótão. destinada às electrónicas e uma no rés-do-chão dedicada às mecânicas, de que também é um furioso... assim que o tempo lhe parece favorável, agarra na sua linda auto-caravana, onde nada falta e tudo montado por ele, e vai estacioná-la em sítios paradisíacos, em especial ao extremo Norte de Portugal.

A sua extrema habilidade para a electrónica, tem-no levado à construção de requintados instrumentos de aspecto e funcionamento primoroso.

Também entusiasmado pela medicina, já construiu uma data de aparelhos de fisioterapia, sendo este, a sua última construção, onde podemos apreciar a beleza da apresentação !

Sendo uma pessoa imensamente ocupada, tendo passado há muitos anos, pelas motas e automóveis, além dos aviões, não é, como eu, uma pessoa que se encontre em qualquer café ou estádio de desportos.

Muito selectivo nas suas amizades, e possuidor duma família lindíssima, desde os filhos aos netos, eu tive a sorte de ser uma das poucas com quem ele se deixa "embalar" por conversas pela NET, em MSN, com vídeo e áudio, quase sempre, durante horas.

Tenho pena que ele ainda não se tivesse sentido atraído pelos BLOGS, porque teria uma imensidão de assuntos interessantes para reportar. No entanto, tem sido um leitor exigente deste Blog, dando-me imensos e úteis alvitres sobre a sua apresentação.

Desculpa, Arcilio, o ter-te aqui vindo "despir" um pouco em público, mas se não o fizesse hoje, possivelmente amanhã, já seria tarde. Que Deus te conserve, e a mim também...

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